por Elso Venâncio
Ao tomar posse na Presidência do América, no Salão de Honra do Clube Municipal, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, o baixinho Romário declarou:
“Zagallo é do tamanho de Pelé.”
Treinador tetracampeão do mundo em 1994, Carlos Alberto Parreira referendou:
“Pelé e Zagallo são os dois maiores nomes do futebol brasileiro.”
O ‘Velho Lobo’ é sinônimo de Copa do Mundo. Foram sete no total, com quatro títulos, o que o faz o único verdadeiramente tetracampeão do planeta: duas vezes como jogador (1958 e 1962), uma como técnico (1970) e outra como coordenador do próprio Parreira, comandando o genial Romário, em 1994.
O alagoano Mário Jorge Lobo Zagallo iniciou carreira jogando pelo América. Não demorou para se transferir para o Flamengo, onde tornou-se tricampeão carioca (1953, 1954 e 1955). Pelo Botafogo ele ganhou dois Estaduais (1961 e 1962) como atleta. Pouco tempo depois, na função de treinador, foi bicampeão da Taça Guanabara e do Rio de Janeiro pelo Glorioso (1967 e 1968). No Fluminense, venceu o Estadual de 1971. Pelo Flamengo, levantou as taças tanto em 1972 como em 2001.
Na Copa da França, em 1998, na semifinal contra a Holanda, antes da decisão por pênaltis, Zagallo fez uma de suas mais históricas preleções. Parecia mediunizado enquanto passava vibrações positivas para cada atleta:
“Vamos vencer! Vamos vencer!”
Segurou a cabeça de Taffarel com as duas mãos e inflamou a alma do goleiro:
“Você é campeão. E pegador de pênaltis. E vai pegar hoje!”
Fez o mesmo com Ronaldo Fenômeno:
“Só nós temos o melhor do mundo.”
Taffarel, que brilhou em 1994 defendendo o pênalti de Massaro na final contra a Itália, dessa vez, em Marselha, contra os holandeses, fez duas defesas, colocando o Brasil na final.
Zagallo gostava de lembrar do tricampeonato mais emocionante da história do Flamengo, o de 2001, obtido com um gol antológico, numa cobrança de falta do sérvio Petkovic. Haroldo Couto, rubro-negro e conselheiro do Flamengo, me passou mensagem na madrugada do sábado que antecedeu essa partida:
“Lembra que almoçávamos com o Júlio Lopes e você indicou o Zagallo?”
Respondi que não. Haroldo completou:
“Ligamos para o Celso Garcia (locutor esportivo que levou Zico para a Gávea) e ele consultou o Zagallo, que topou no ato.”
Um dos heróis do tricampeonato mundial de 1970, Paulo Cézar Lima, o Caju, falou por telefone na semana passada com Mário Jorge, filho do imortal Zagallo. Disse que ele e eu queríamos visitá-lo:
“Vai ser um prazer!” – ouvimos juntos a voz fraca do ‘Velho Lobo’.
Paulo Cézar, no ano passado, conseguiu revê-lo no Recreio, bairro onde morava. Mário Jorge perguntou ao pai:
“Esse cara aqui jogou bola mesmo, pai?”
Em vídeo que viralizou na Internet, Zagallo brincou:
“Jogou pouco…”, balbuciou, sorrindo.
A vida é um sopro! Temos que procurar e sempre que possível estar com nossos amigos. Não podemos desperdiçar o tempo que temos, até porque não sabemos quando ele se esgotará.
Descanse em paz, Mestre Zagallo!
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