por Marcelo Mendez
Eu não tenho muita paciência para assistir futebol.
Salvo as vezes de que por dever de ofício devo acompanhar a rodada, procuro fazer outras coisas, decerto, coisas que me dão prazer. Este, não encontro em partidas modorrentas disputadas por times bundões, treinado por técnicos burocratas que só apregoam o medo para conseguir seus parcos pontinhos na tabela.
O compromisso desses sujeitos é tão somente com a manutenção de seus empregos, jamais veremos um técnico de futebol no Brasil preocupado com o torcedor que consome a duras penas, o produto futebol. Mesmo assim, liguei a TV para dar uma olhada em Flamengo x Santos. Abaixei o volume da TV porque ninguém merece as obviedades das narrações futeboleiras, fui no som, peguei um vinil (Sim, amigos, sou desses que ainda ouvem vinis), meti o Miles Davis para tocar e aí se fez a magia da coisa toda.
Na pick up tinha Miles Davis tocando “Smoke gets in your eyes”, em campo, jogava Gerson.
A perfeita simetria que se dá entre a blue note de onde vem todo improviso, magia e encanto jazzístico, encontra-se na camisa 8 do Flamengo vestida por Gerson. Seu futebol é sinuoso, malemolente, suingado e furioso na medida certo do verso que forma o poema. Desfila pela cancha a elegância de antigos que vestiram sua mesma camisa. Adílio, Dr Rubens, jogadores que levavam para o meio campo o raciocínio rápido dos bailarinos de imortais gafieiras cariocas.
Na abafada tarde que se passava, ver Gerson jogando ao som de Miles Davis iluminou minhas expectativas. Que coisa linda de se ver. Um outro há de me dizer; “Mas e a Seleção? Por que não vai?” – Eu até poderia começar responder isso com uma daquelas teses chatíssimas sobre técnicos de seleção e suas verdades idiotas, mas agora não. Azar da seleção.
Quero ver o pôr do sol que chega, com o futebol de Gerson ao som de Miles Davis na mente. Assim o fiz.
Em nome do Futebol Brasileiro que um dia existiu.
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