por Rubens Lemos

O Palácio dos Esportes estava superlotado e o empate no clássico levaria a decisão do Campeonato Metropolitano a uma partida extra. Restando cinco segundos para o fim do jogo, o ABC vencia por 2×1 e a torcida alvinegra festejava na lata de sardinha em que se transformara o ginásio.
Os abecedistas entoavam cânticos vitoriosos até que Gileno faz a quinta falta no monstro Sílvio, verbete de craque da bola pesada. A falta foi na defesa do América e seria cobrada em tiro direto. Foi quando a petulância virou farofa de ovo.
O goleiro Fábio demonstrou confiança, se colocando em duelo mortal com Sílvio. O capitão e camisa 6 do alvirrubro corre e bate um morteiro que explode nas redes do ABC, lá do outro lado do ginásio. América 2×2, América tetracampeão em 1989.
Em certo tempo de minha vida, quando as quadras eram povoadas por gente habilidosa e malandra, cheguei a gostar de futsal na mesma proporção com que amava o futebol de campo. O salão é um teste coronariano quando os jogos eram da época do gol de Sílvio.
Tínhamos, além de Sílvio, sua cara-metade no ABC, o clássico camisa 10 Dennis Lisboa, que, muito mais cedo, me apresentou as maravilhas que anos depois seriam exclusividade de Falcão.
Havia Agamenon, a Esperança Morena, Juca, o operário requintado, o falecido Josinaldo e sua técnica e pivôs letais: Gileno, do ABC e Marquinhos, do América, Uirandé, hábeis na girada sobre os beques ou simplesmente fulminantes nos chutes de média e longa distâncias.
O futsal, antes futebol de salão, foi responsável por boa parte das minhas alegrias juvenis, assistindo a cada jogo no Palácio dos Esportes.
A seleção brasileira esteve lá em 1978 e tomou 5×2 da equipe Emserv, do ex-presidente do ABC, Rui Barbosa. Em 1984, em amistoso, a poderosa formação do escrete bateu em nosso time por 4×1. Sílvio e Dennis não jogaram juntos.
O futebol de salão mais antigo todo ano tinha uma Taça Brasil e a primeira que assisti foi a que o Sumov do Ceará, uma máquina, amassou o Monte Sinai do Rio de Janeiro por 7×5, enquanto nosso representante, o ABC, ficou na primeira fase.
Sou amigo da turma de futebol de salão e de futsal. Nada como se servir da cerveja mais gelada ouvindo as resenhas do passado que jamais será repetido. Na mesa de bar, o voleio vira bicicleta, o chute de canhota se transforma numa curva indefensável para o goleiro.
O futebol de salão em Natal foi a Assen de Plínio, Geraldo Melo, Chiquinho e Ivo. Também foi o ABC de Nilson, Beto Coronado, Leonel, Clóvis e Cabral Macedo. O América vinha de Sérgio Boinho; Lola, Sílvio, Agamenon e Marquinhos. O ABC com Pedro; Juca, Josinaldo, Gileno e Dennis. E havia Paulinho de Tarso, Franklin, Mário, Kido, Cláudio Bezerra, Djavan, Gama e Aladim, dentre tantos.
Depois da experiência do ABC/ART & C, com a geração 1990 e 2000 – foram 19 títulos em cinco anos, o futsal deu uma mergulhada e entrou em depressão até o América decidir voltar no ano passado. Um novo América, sem qualquer vestígio do seu ícone Arturzinho e dotado de jogadores desconhecidos.
Passada a empolgação inicial, que durou até o campeonato estadual conquistado pelo clube, todos esperavam disputar o Campeonato Brasileiro para se mostrar ao país, pois os jogos costumam ser transmitidos pelo canal Sportv da Globosat, vem a ducha fria, ducha de iceberg: O América desistiu do campeonato brasileiro por conta do imbróglio de sua dívida com a Prefeitura de Natal por conta do IPTU.
A saída do América faz mal e sepulta o esporte que é praticado de Norte a Sul, de Leste a Oeste onde houver uma quadrinha de cimento batido. A decisão do América chocou até porque o voleibol e o basquetebol continuam. O lugar do América é no futsal e é real.
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