por Idel Halfen
O futebol é uma indústria milionária!
Quantas vezes já lemos ou ouvimos essa frase, a qual se reforça em nossa mente ao tomarmos ciência dos salários e bens adquiridos por alguns jogadores.
Não há como negar que as cifras que ganham as manchetes geram grande impacto, até porque para a maioria das pessoas que acompanha o futebol tais valores soam como algo inatingível e longe das respectivas realidades.
Mas será mesmo uma indústria milionária?
Se formos simplesmente olhar as receitas dos principais clubes poderemos responder afirmativamente ao questionamento, no entanto, se compará-las com algumas empresas, veremos que a discussão pode tomar outro rumo.
Visando buscar uma parametrização no que tange à relação de consumo das marcas por cliente, assim como é no futebol, onde, em tese, cada torcedor tem um único time, utilizaremos como balizador o setor de telefonia móvel, no qual quase toda a população é cliente, no mínimo, de uma operadora. Claro que não se trata de uma comparação perfeita, porém, entre as que analisamos em termos de recorrência e acesso às cifras do consumo é a que nos pareceu mais coerente. Não sabemos, por exemplo, quanto uma pessoa consumiu ao longo do ano de cada marca de biscoito, mesmo porque, o produto muitas vezes é consumido por toda a família.
Em nosso exercício, conforme pode ser visto no quadro a seguir, comparamos o clube de maior receita recorrente no Brasil com duas operadoras de telefonia móvel que aqui atuam.
Constatamos assim que a Vivo tem uma quantidade de assinantes que é quase o dobro do que o clube possui de torcedores, porém o faturamento em 2021 foi 2.765% maior. Comparado com a Oi, a torcida do vice-campeão carioca é 0,10% menor do que a base de clientes da operadora, a qual faturou no mesmo período 626,5% a mais.
Reiteramos que a comparação tem falhas, visto haver casos de um mesmo cliente ter mais de uma linha, assim como pode estar na relação de torcedores pessoas que mal saibam dizer as cores do time. O que se pretende com o exercício é mostrar os montantes envolvidos, tanto que nem fazemos menção ao EBITDA ou a outro indicador econômico-financeiro.
Nessa linha, vale inclusive observar que número de seguidores nas redes sociais não apresenta correlação com as receitas, vide no quadro o número de seguidores do instagram do clube (13,4 milhões) e o da operadora líder (apenas 602 mil).
Para testar a hipótese se o comportamento detectado seria algo exclusivo do Brasil, realizamos a mesma análise comparando o Real Madrid, clube que foi líder em dez das quinze edições do estudo feito pela Deloitte acerca dos clubes que mais faturam no mundo e a Vodafone na Espanha. Escolhemos essa empresa pelo fato de ela ter o número de assinantes – 13,6 milhões – similar ao de torcedores do time de Madrid – 13,3 milhões -, valendo salientar que o clube tem características de uma organização multinacional, vide a quantidade de seguidores, 117,5 milhões, que é quase o triplo da população espanhola.
Mesmo diante de tanta pujança, o Real Madrid teve as receitas recorrentes na temporada 2020-21 na ordem de 640 milhões de euros, enquanto a operadora de telecom faturou 3,788 bi em 2021 (491% a mais).
Claro que são valores significativos e que podem evoluir ainda mais, o Real Madrid, por exemplo, cresceu 116% em 13 anos – expurgamos o período da pandemia por razões óbvias. Mas será que ele pode chegar ao nível dos grandes players de outras indústrias?
Não creio!
O futebol mexe com paixão, o que por si só tem a capacidade de incentivar atos de consumo por impulso, por outro lado, essa mesma paixão impõe pressões por resultados esportivos de curto prazo, que prejudicam eventuais tentativas de se gerir os clubes como se administra uma corporação, onde responsabilidade financeira, projetos que não visem simplesmente o imediatismo, compliance e planejamento estratégico, entre outros, são fatores indispensáveis.
Realmente vivemos num cenário de desigualdades sociais em todos os setores da sociedade mundial e, claro, no futebol aí é que temos visto. São pagos salários milionários, altíssimos a jogadores que nao coincide pela suas apresentações para o futebol. Em muitos casos vermos uma indústria de jogadores apenas promovidos pela imprensa, sistemas e, patrocinadores de clubes que se torrnam posteriormente mercenários e vaidosos.