por Zé Roberto Padilha
Partida de futebol jogada segunda-feira é uma delicia. Ao contrário das realizadas no domingo, ela é única, não é interrompida por “olha a bolinha aí”, e surge na tela como um licor 43 para ser cultuada ao fim de um rodizio. Que no futebol tem nome de rodada.
Quem a subestimou, perdeu ao vivo, no ato da sua criação, uma obra de arte. Daquelas só concedidas ao futebol.
Bola lançada para dentro da grande área do Cruzeiro para Alerrandro, centroavante do Vitória. Perto do fim do primeiro tempo. Dividida entre ele e o zagueiro do Cruzeiro, ela toca no adversário e faz um círculo sobre sua cabeça.
Nenhuma Inteligência Artificial saberia dar rumos a uma bola que tomava, em segundos, uma trajetória inesperada. Cássio, goleiro do Cruzeiro, que também foi buscá-la, ficou pelo meio do caminho.
Alerrandro, então, se jogou no ar, de costas para o gol, e nesse milésimo de segundo calculou a força com que deveria tocar na bola e a direção que tomaria para alcançar o gol encobrindo o goleiro.
Bicicleta, no futebol, tem um pouco de capoeira, um salto nas alturas de Simone Biles, uma captura em um ponto milímetro pela comandante Lewis de um Mark Damon que ela deixara Perdido em Marte.
Confesso a vocês que foi a primeira vez que assisti, ao vivo, uma obra de arte que irá inundar, hoje, todas as as telinhas pelo mundo. E certamente trazer para o Brasil um outro Prêmio Puskas.
Não subestime o futebol. Mesmo em uma segunda-feira, ele é uma sublime coisa de Deus.
Bah! Que belo comentário? Poesia em boa dose. Obrigado?