por André Felipe de Lima
“Futebol Cards” e “Álbum da Copa de 82”, lançamentos inesquecíveis do chiclete Ping-Pong, da Kibon, entre 1979 e 1982. Minha geração colecionou. Eu, inclusive. Era chiclete que não acabava mais — jogávamos todos fora —, porém muitos cartões com a foto e as informações mais inusitadas dos jogadores nos deixavam enlouquecidos. Mal dormíamos pensado neles. O Orlando Lelé, por exemplo, jogava pelo Vasco, em 1979. Consegui os dois cartões dele. Lembro-me bem disso. Ele curtia Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque e a atriz Ilka Soares. Não abria mão de feijoada. Nosso querido Paulo Cezar Caju estava no Botafogo. Gostava de boa música, praia e de bater papo com amigos. Era fã do Pelé e adorava colecionar camisas e carros esportes. Cada card destes caras disputávamos no tapa durante os intervalos da escola. Não completei o “Futebol Cards”, como o advogado paulista Daniel Aparecido Ranzatto ou mesmo o colecionador Manoel de Mello Júnior, que o amigo Sergio Pugliese, do nosso Museu da Pelada, entrevistou recentemente. Mello Júnior é um camarada incansável que, além de ter as coleções completas, perambula por cada canto do Brasil e do mundo atrás dos autógrafos dos craques daquela época. Conseguiu os do Guina (Vasco) e do Pintinho (Fluminense), na Espanha. Simplesmente do cacete.
Nossa incansável investigação peladeira na busca de tudo que nos ajuda a incondicionalmente amar o futebol chegou a alguns dados sobre as origens das duas coleções. Informações importantíssimas perdidas no tempo. Vamos lá:
A Kibon lançou a coleção “Futebol Cards” em fevereiro de 1979. A festa de lançamento aconteceu em um jantar realizado no Buffet Colonial de São Paulo. Vários jogadores que constaram da lista dos cartões estiveram presentes, informaram o Jornal do Brasil e a Folha de S.Paulo.
Eis a informação sensacional: como noticiou a Folha, a “Futebol Cards” foi a primeira promoção que pediu, previamente, autorização aos atletas para uso de suas imagens e feitos, mediante contratos firmados com sindicatos e associações de jogadores. Considero essa informação um marco no uso de imagens de atletas pelas mídias.
O diretor de marketing da Kibon na época do lançamento da coleção “Futebol Cards” era o Fernando Kfouri. Tornou-se, em janeiro de 1980, vice-presidente da empresa, na qual ingressou em 1962. Informação confirmada pelo Jornal do Brasil.
Quanto ao álbum de figurinhas da “Copa de 82 Ping-Pong”, a edição dele foi organizada pela Editora Omni. O time por trás do álbum era assim escalado: publisher: Franklin Vassão; diretor editorial: José Nicácio Itagyba de Oliveira; texto e pesquisa: Carlos Maranhão (então editor e repórter especial da Placar); direção de arte: Sidney Pinto Ribeiro; diagramação e supervisão gráfica: Elenílson Campos. A criação, execução e supervisão couberam à agência de publicidade Young & Rubicam Brasil. O publicitário responsável pela propaganda para TV do álbum da Copa de 82 foi Geraldo Rodrigues Neto, na época integrante da equipe da agência Adag.
Tentamos bater um papo com todos, mas só conseguimos localizar Carlos Maranhão, um dos mais expressivos nomes da reportagem esportiva do país, que tanto admiro desde priscas eras quando comprava a revista Placar toda semana. O águia Sergio Pugliese conversou com ele em São Paulo e se deliciou com a emoção de Maranhão ao recordar o álbum de 1982, que guarda a sete chaves, como se fosse uma comenda futebolística. Não poderia ser diferente. Faria o mesmo no lugar dele, talvez o colocasse em um cofre de banco.
Quem sentiu o prazer de (esbaforido, obviamente) abrir um envelope do “Futebol Cards” ou um pacote de figurinhas do álbum da Copa de 82 sabe a emoção que sentíamos ao se deparar com o rosto dos craques do passado estampado naquele pedaço de papel, que, para nós, valia mais que qualquer nota ou mesmo ouro.
Ah, caramba, como era difícil o card do Roberto Dinamite.
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