Conheci Mendonça no Bar da Eva, no Grajaú, quando eu levava craques para reverem os jogos mais marcantes de suas vidas. Foram dois anos de pura felicidade! Bebi muitas geladas com Válber, Donizete Pantera, Búfalo Gil e, claro, Mendonça, que vinha de Bangu. Fechei o bar com alguns deles, sempre ouvindo glórias e derrotas. Rondinelli chorou, Assis chorou, Amarildo chorou. Os clientes choravam. O Afonsinho sentava em todas as mesas, o Adílio sorteou sua camisa, Francisco Horta cantou uma marcha tricolor e Eurico Miranda puxou o Casaca. Mendonça esteve lá várias vezes e em todas lamentou o fato de não ter sido campeão pelo Botafogo, time do coração. Nesse momento, eu pedia mais um chope, desviava o assunto e colocava na tevê o vídeo com seus dribles e golaços. Ele viajava e agradecia. No drible “Baila Comigo”, que descadeirou Júnior Capacete, levou uma bronca da mulher, rubro-negra, quando chegou em casa: “precisava daquilo tudo?”. Foram chopes e mais chopes! Na correria do dia a dia perdemos o contato até ser avisado por Adílio que ele precisava de ajuda, estava sendo vencido pelo álcool. O craque rubro-negro conseguiu a internação na Clínica Jorge Jaber e fomos visitá-los juntos. O álcool é devastador. Ficou três meses e recebeu alta com a condição de voltar quinzenalmente. Nunca mais apareceu. Mas na segunda passada o reencontrei na pelada do Carlinhos Cortázio, na Barra da Tijuca. Ficou meio sem graça quando me viu. Olhei para a mesa tentando flagrar algum copo de cerveja. Não tinha. Me aproximei e nos abraçamos. Sua aparência estava saudável e a memória boa. “Estou limpo!”, garantiu. Mas senti um cheirinho de álcool, típico de quando transpiramos na pelada após um dia de bebedeira. “Mesmo?”, perguntei. “A batalha é dura!”, disse. Não quis interpretar a resposta como um sim ou não, e pedi para que relembrasse pela milésima vez o seu “Baila Comigo”.
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