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FIDELIDADES

30 / março / 2017

por Claudio Lovato


O cidadão Pedro Virgílio costuma sair de casa toda quarta-feira à noite – e morrer.

Morre de paixão, e depois volta para casa.

Rosângela, a esposa paciente, vai levando a vida conjugal da melhor forma possível. Prefere não criar caso.

Numa certa quarta-feira de manhã, entretanto, no café da manhã, ela resolve que é chegado o momento de conhecê-la de perto.

– Hoje eu vou com você! E não adianta tentar me fazer desistir! –  anuncia.

Contrariado, mas ao mesmo tempo sentindo um estranho tipo de alívio, ele concorda.


E lá se vão juntos, em completo silêncio, no velho Gol da família.

Na chegada, a primeira coisa que Rosângela percebe é a animação geral.

Encontra alguns amigos do casal. Na verdade, não chega a ficar surpresa por vê-los ali. Já desconfiava.

Ela o assiste ir para o local em que ele trocará de roupa. Um puxadinho sem porta.

Alguns minutos se passam e então ela o vê reaparecer, de calção e camiseta, visivelmente sem jeito, olhando de lado, cabreiro por causa de sua presença.

Sentada numa cadeira de plástico, ela acomoda a bolsa no colo.

De repente, ouve o arrastar de uma cadeira e – agora, sim, surpresa – dá de cara com a amiga Mara Rúbia, mulher de Antônio Geraldo.

– Você também veio…, Rosângela diz.

– Venho sempre! Só pra conferir – Mara Rubia reponde.

– Sei.

As duas ficam em silêncio, olhando para onde os maridos estão agora, como se fossem meninos, cumprimentando-se com brincadeiras típicas de alunos do ensino fundamental.

Dali a alguns minutos, a disputa começa com espantosa disposição.

Rosângela balança a cabeça de um lado para o outro. Mara Rúbia suspira.

– Vê se pode… – diz Rosângela.

– Vê se pode – repete Mara Rúbia.

– A tal da pelada.

– Pois é.


As duas passam um tempo em silêncio, assistindo aquela correria desordenada dos homens e ouvindo seus gritos.

– Vou buscar uma cerveja. Quer? – Mara Rúbia pergunta.

– Claro que quero!

Quando a amiga sai em direção ao quiosque, Rosângela olha para o campo mal iluminado.  

Ela acena para ele. Ele acena de volta.

O sorriso que surge entre os dois é um claro indício de compreensão.

E de um irrevogável salvo-conduto (até segunda ordem). 

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