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FELLINI VAI A VÁRZEA E O FOLK DO PARQUE NOVO ORATÓRIO

27 / fevereiro / 2016

por Marcelo Mendez

O Museu da Pelada nasceu carioca. Por acaso. Sua origem é múltipla, pais baianos, mineiros, paulistas, tem de tudo nessa paternidade, até argentinos, italianos, franceses. Pelada pode até mudar de nome dependendo da região, a bola também, mas a essência não deixa dúvida: jogam todos do mesmo time, o Resenha Futebol Clube! Por isso, comemoramos a chegada de Marcelo Mendez, autor do livro “Contos da Várzea e outros blues” e que nos brindará semanalmente com histórias da várzea paulista. Nosso objetivo é ter correspondentes espalhados pelos quatro cantos do mundo. Um chutinho de cada vez, chegaremos lá! Fala aí, Marcelo!!!   

 


Marcelo Mendez nos brindará semanalmente com histórias da várzea paulista

Marcelo Mendez nos brindará semanalmente com histórias da várzea paulista

“Não sei se Federico Fellini chegou a ver um jogo de futebol na sua vida. Decerto que ele não devia fazer a mais vaga ideia do que seja futebol de várzea. Mas ao filmar, em 1973, o seu espetacular “Amarcord”, o grande cineasta italiano se aproximou demais desse universo do qual venho retratar aqui.

No filme, Fellini volta a sua cidade natal, Rimini, na região da Emília-Romanha, e lá viaja por seus sonhos, suas lembranças, suas reminiscências de infância, tudo para contar como aquilo o influenciou para o cinema, para a vida. Está aí a semelhança de nossas intenções:

Várzea para mim é memória

Quando decidi “mergulhar” na várzea, de imediato me veio à mente todas as minhas lembranças, tudo que de mais tenro há na minha relação com o futebol, de como isso chegou à minha vida e definiu tudo, absolutamente tudo, que formou o homem que sou hoje.

Lembro com carinho de uma das histórias que, agora, contarei aqui, no Museu da Pelada. Às 9h30 tomei rumo da pauta. Nesse caso, com todo respeito, que me desculpe meu mestre da Sétima Arte, mas de longe o meu destino era bem mais bonito do que o dele. Afinal de contas, que Rimini do mundo pode ser tão bela quanto a ida ao “Estádio Distrital da Cidade dos Meninos”?

“Cidade dos Meninos”…


Campo do Juá, Mauá, SP | Foto: Fabiano Ibidi.

Campo do Juá, Mauá, SP | Foto: Fabiano Ibidi.

Pois é. A várzea no Parque Novo Oratório acontece por lá. No espaço voltado para o futebol amador dentro de meu bairro, temos hoje dois campos; O do São Paulinho e o do Nacional do Parque Novo Oratório, clube que tem importância fundamental para a vida desse cronista que vos redige estas linhas.

Ali, no campo do Nacional, comecei minha vida no futebol como jogador da categoria “fraldinha”, aos seis anos de idade, em 1976. Saí de lá em 1991. Ao longo dos anos, várias lembranças. Das idas com Tio Edinho, que me levava para jogar, da primeira vez em que fui sozinho com minha chuteira Olímpica de seis travas debaixo do braço, caminhando pela Avenida das Nações, ainda de barro, da final contra o E.C Santo André pela Copa da Liga de Futebol Infantil, em 1983, e da minha camisa 10.

Camisa que usei pelo tempo que por lá estive, pelo tempo que sonhei ser Zico, que bailei como Platini, que fui imortal. Lembranças…

Ao longo daquele caminho, pensando em quem partiu, em quem não vejo mais, o olho encheu d`água. Caro leitor, vos afirmo: futebol serve para isso. Para emocionar, para interagir para se apropriar do meio social. A várzea tem essa função. E isto me fez querer ir andando, tal e qual em 1976 pelo mesmo caminho que o menino fazia para saber como andam as coisas nesse rico universo ludopédico. Bom…


Livro "Contos da várzea e outros blues", de Marcelo Mendez. https://www.museudapelada.com/269

Livro “Contos da várzea e outros blues”, de Marcelo Mendez. 

http://www.editoracorrego.com.br/produto/contos-da-varzea-e-outros-blues-2/

Ao chegar, descobri que jogavam Santa Cristina x Renovação. Os times são de Santo André, um deles do bairro Santa Cristina e o outro, o Renovação, do Jardim do Estádio. Não conhecia nenhum. Conversando aqui e ali fiquei sabendo que o jogo era pela Terceira Divisão da Várzea, um campeonato de 21 clubes disputado a pleno sol do verão do ABCD. Partida tranqüila 5×0 para o Santa Cristina. Mas aí vem o meu senão aqui relatado:

Importa mesmo saber quem vence, quem perde, quem ganha o título da terceira divisão da várzea andreense? Seguinte…

Ao longo destes textos que chamarei “Contos da Várzea”, esta coluna tratará de coisa muito mais importante do que as falácias e bobagens do resultado frio, calculista e chato. Os arredores e seus personagens terão aqui o espaço de protagonistas porque do contrário nada disso fará sentido. A várzea será retratada na sua essência.

Afinal de contas, aqui o Fellini sou eu…

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