por Claudio Lovato
Quantas vezes, rapaz, te sentiste completamente sozinho?
Quantas vezes, quando ainda eras apenas um menino, achaste que não poderia existir neste mundo uma pessoa mais solitária que tu?
Eras tão novo e já estavas tão longe das coisas que te davam noção (noção por vezes precária e difusa, porque assim é quando somos crianças e adolescentes, mas ainda assim uma noção) de segurança e pertencimento e proteção e, portanto, felicidade.
Tua família. Teu lar.
Atravessaste o país de Nordeste a Sul quando ainda praticamente sequer havias ultrapassado os limites territoriais do teu bairro de nascimento, o lugar das tuas brincadeiras de infância e dos teus primeiros jogos no meio da rua e depois no campinho, no qual, um dia, alguém te viu jogar e tomou uma iniciativa que mudaria definitivamente a tua vida.
Quantas vezes, tu, ainda um garoto – ou talvez então já fosse mais apropriado dizer um guri – sonhaste de olhos abertos deitado na cama de um dos beliches do alojamento do clube que te acolheu?
Teu sonho: brilhar na base e subir para os profissionais e assim realizar o teu maior desejo e dar sentido a tudo pelo que estavas passando.
O tempo passou e deixaste para trás o rapaz, o menino, o garoto e o guri – mas não totalmente, nunca é totalmente, porque isso não pode ser.
Teu futebol foi sendo lapidado, te dedicaste, avançaste em todos os quesitos necessários e então te tornaste aquilo que tanto querias: um jogador de futebol.
Mais tempo se passou – porque o poeta já disse: o tempo não para –, conquistaste teu espaço no clube que transformaste também em teu lar, e hoje estás aí, brilhando na Seleção, fazendo com que todos no estádio se levantem assim que dominas a bola e partes para cima do teu marcador. Esperam o teu drible, o facão, o chute cruzado, o gol.
Quem pensa na solidão que enfrentaste? Quem pensa nos momentos sombrios de medo e desamparo e dúvida que encaraste?
Já não importa. Isso passou. Agora tens tua própria família e teu lugar no mundo, que carregarás contigo aonde quer que vás.
Venceste.
Sim, ainda há muito o que queres e deves fazer. Há muito a reiterar e provar. Tudo o que fizeste até agora ainda é, de certo modo, só o começo.
Mas venceste, e não há nada nem ninguém que possa tirar isso de ti.
Venceste por teus méritos, teu sacrifício, tua luta.
Venceste.
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