por Zé Roberto Padilha
Tive bons treinadores ao longo da minha carreira O azar dela, da minha carreira, que encontrei o melhor de todos em Recife. Já havia deixado o eixo central onde tudo acontece e tudo é transmitido, narrado, comentado. Ou o treinador da seleção vai a Recife como vai ao Maracanã? Ao Morumbi e ao Olímpico? E o melhor de todos foi, sem dúvida, Evaristo de Macedo.
Primeiro, antes de assumir o comando do Santa Cruz no Brasileirão de 78, Evaristo foi nos observar no Mineirão após a demissão de Jouber Meira. Atlético MG 1×0 Santa Cruz, gol do Reinaldo. E na apresentação disse o que viu, analisando cada desempenho. Quando chegou a minha vez, perguntou: você era o 11? Observei você em todos os lugares do campo e não resolveu nada. Vou fazer o seguinte: vou riscar uma linha do meio de um gol ao outro. E foi ao quadro negro e dividiu com giz o campo ao meio. E sentenciou: se passar para o lado direito tiro você do time!
Desde então, passei a canalizar minha energia de peladeiro em uma metade do campo. Se corria ele todo imagine a metade? Até gol comecei a marcar, minha produção subiu e atacava e defendia com mais intensidade. Até ser dirigido por ele achava que treinador ajudava muito, mas quem resolvia éramos nós mesmos lá dentro. Depois que ele nos dirigiu, passei a pensar diferente. Treinadores como Evaristo realmente ganham jogos.
Exemplo, fomos enfrentar o Palmeiras no Pacaembu. Quem vencesse estava nas semifinais de 78. E ele disse na preleção: é do Rosemiro, lateral direito, que partem a maioria das jogadas ofensivas que o Toninho transformava em gol. Então, Zé Roberto, você vai colar nele e os dois não vão jogar. E brincou: como você não joga nada, eles perderão muito mais.
Privilegiado fisicamente como o lateral palmeirense, ele era uma espécie de Pikachú quando chegou ao Vasco (não o que se acomodou com os encantos da Cidade Maravilhosa e passou a pensar que era um craque) e colei nele. Ia beber água, eu ia junto. Quando ia bater, lateral ficava ao lado.
Marcação homem a homem de verdade, sem espaço, sem brincadeiras, com ou sem a bola. Daí ele foi ficando nervoso, dando empurrão, faz o teu que eu faço o meu, e antes de partir para a agressão tirei um trunfo da cartola.
– Não tenho culpa se o treinador mandou marcar o melhor do time!
Vaidoso, perguntou:
– É mesmo?
E completei a maldade:
– E não foi qualquer treinador. Foi Evaristo de Macedo. A lenda!
Daí caiu vertiginosamente de produção. Resultado? Santa Cruz 3 (Luiz Fumanchú 2, Nunes) x 1 Palmeiras, contra um do Toninho.
Recife parou para nos receber. E eu a pensar: aonde estava este homem que não surgiu antes para enquadrar um peladeiro como eu dentro de campo?
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