por Israel Cayo Campos
A frase do título é uma citação feita por Ademir Menezes em uma entrevista onde desabafa sua frustração por só ser lembrado pela derrota na Copa do Mundo de 1950.
Obviamente, uma grande mágoa assolava o coração do pernambucano que fora ídolo do Sport Clube do Recife e do Vasco da Gama. Onde várias vezes se sagrou campeão.
Na Seleção brasileira também fora vencedor… Da Copa Roca em 1945, do Sulamericano, atual Copa América de 1949, e dos jogos Pan-americanos de 1952.
Mas não adianta, mesmo com um curriculum invejável a qualquer camisa nove, o “Queixada” acabou ficando marcado a ferro e fogo pelo fatídico Maracanazzo.
Mas se a história de Ademir “Queixada” se mistura com o vice-campeonato do Brasil em 1950. Que ao menos fique a homenagem ao grande mundial feito por esse matador!
Até hoje, nenhum jogador brasileiro conseguiu marcar nove gols em apenas uma Copa do Mundo! E como forma de homenageá-lo no dia de seu aniversário (08 de novembro de 1922), vamos destrinchar seus belos gols no torneio que para o bem ou para o mal, o colocou no hall dos maiores atacantes brasileiros de todos os tempos.
Com certeza se tivesse vencido aquela Copa, Ademir hoje seria comparado a Vavá, Romário e Ronaldo. Infelizmente a história é contada pelos vencedores, mas o interlocutor que vos escreve entra em contradição, pois para mim Ademir Menezes sempre deve ser lembrado como um vencedor!
Dois primeiros gols:
No dia 24 de junho, estreia brasileira contra o México, Ademir marcou um belo gol de cabeça aos 30 minutos de jogo que abriu a contagem para os brasileiros, e jogando com a camisa oito, ainda fechou o caixão mexicano aos 34 do segundo tempo com outro belo gol. O Brasil estreava com um imponente quatro a zero no ainda Estádio Municipal do Rio de Janeiro.
Terceiro gol:
Após passar em branco contra a Suíça no empate por dois tentos a dois no dia 28 de junho. Ademir volta a marcar contra os Iugoslavos no Maracanã. Não eram nem quatro minutos de jogo quando o atacante da Seleção que ainda se vestia de branco com detalhes azuis deixou a sua marca como um autêntico camisa nove. Praticamente dentro da pequena área recebendo um belo passe de Zizinho.
O “mestre Ziza”, que estreava naquele mundial no jogo contra a Iugoslávia por estar se recuperando de uma lesão, acabou dando números finais a partida! Com essa vitória sobre a seleção dos Balcãs, o Brasil se classificava rumo a fase final do torneio!
Do gol quatro ao número sete:
Dia nove de julho de 1950, o Brasil iria enfrentar a Suécia. Que apesar de ser nossa freguesa histórica em Copas do Mundo, a época havia eliminado na fase de grupos a então atual bicampeã mundial Itália.
Mas isso parece não ter intimidado Ademir, que novamente no Maracanã desfilou seu talento…
Logo aos 17, já vestindo a camisa nove, o nosso homenageado recebe passe de Jair e da entrada da área e manda um “petardo” seco e rasteiro no canto direito do goleiro, era o início do show.
Aos 36, o segundo gol da Seleção brasileira e de Ademir na partida. Mais uma vez com um belo passe de Jair, dessa vez um “balãozinho” sobre o defensor sueco Nordahl, o Queixada recebeu a bola na marca do pênalti e com um toquinho tirou qualquer chance de defesa do goleiro. Belíssimo tento.
Um minuto depois, Ademir deu o passe para que Chico marcasse o terceiro gol brasileiro!
Aos sete da segunda etapa, o quarto gol do Brasil. Terceiro de Ademir. Mais uma vez, como um Romário dos anos 1940/50, dentro da grande área o nosso atacante chuta de maneira “despretensiosa” e acaba contando com uma falha do arqueiro sueco. A bola morre lentamente no canto esquerdo do mesmo. A torcida em polvorosa delira no Maracanã!
Mas cinco minutos após o quarto gol do Brasil, um endiabrado Ademir anota também seu quarto gol na partida! Em mais um passe na medida de Jair Rosa Pinto, O “Queixada” entra na pequena área pelas costas do zagueiro Nordahl (como sofreu o Nordahl nesse dia!), driblou o goleiro e ao estilo Ronaldo fenômeno em seu auge entrou com bola e tudo! Era o quinto gol brasileiro!
Andersson diminuiria para os suecos, Maneca e Chico (pela segunda vez), ampliariam para o Brasil. Era o fim de uma goleada histórica. Um chocolate brasileiro por sete a um. Um chocolate de Ademir Menezes!
Gol oito (polêmico) e gol nove:
No dia 13 de julho o Brasil se preparava para enfrentar a Espanha pela segunda rodada do quadrangular final do quarto mundial da FIFA.
Logo aos 15, assim como algo supersticioso, Ademir marcava o primeiro gol do jogo, seu oitavo no torneio! O curioso é que sempre que Ademir marcou o primeiro gol do jogo, o Brasil saiu com a vitória naquela Copa do Mundo!
Contudo, há uma polemica nesse gol. Ademir entrou pela esquerda da grande área e chutou forte. A bola desviou no zagueiro espanhol Parra, e entrou! Os narradores de rádio da época informavam que havia sido um gol contra espanhol, mas na súmula, o tento foi dado ao nosso artilheiro. Que na modesta opinião do interlocutor, realmente mereceu que o gol lhe pertencesse! Sendo o desvio de Parra insuficiente para que se fosse considerado um gol contra! A polêmica ficou, mas para a história do futebol, era mais um gol de Ademir Menezes na Copa de 1950.
Quando o jogo já estava quatro a zero para os brasileiros, Ademir deixou sua marca novamente. Aos doze da etapa final, Zizinho dá um belo lançamento para nosso homenageado, que marca mais um belo gol na pequena área. Era o nono gol de Ademir no torneio! Ao som de um Maracanã com mais de cem mil pessoas a entoar “Touradas de Madri”. Marchinha carnavalesca de Braguinha e Alberto Ribeiro…
“Eu fui às touradas em Madri/ E quase não volto mais aqui/ Pra ver Peri beijar Ceci. / Eu conheci uma espanhola /Natural da Catalunha; /Queria que eu tocasse castanhola /E pegasse touro à unha. /Caramba! Caracoles! Sou do samba, /Não me amoles. /Pro Brasil eu vou fugir! /Isto é conversa mole para boi dormir!” entoavam em coro uníssono os torcedores brasileiros.
O jogo terminou seis a um para os brasileiros. Ademir era ovacionado em campo! E preferimos parar por aqui! Até porque a história do nosso Ademir Queixada, o artilheiro máximo da Copa de 1950, com gols que deixariam os grandes centroavantes da época da TV em cores com inveja, merece um desfecho positivo.
Obrigado Ademir Menezes pelas alegrias proporcionadas ao povo brasileiro em 1950. Pois se em qualquer esporte só um vence, devem ser valorizadas as alegrias que cada partida proporciona. E como o “Queixada” as proporcionou naquele ano ao povo brasileiro no ainda Estádio Municipal do Rio de Janeiro! O primeiro goleador do Maracanã!
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