por Igor Serrano
A torcida do Vasco é sempre apontada como uma das mais apaixonadas e conta com muitos seguidores fora do Rio de Janeiro. Uma explicação que sempre vem à tona é que na época pré-televisão, as frequências das rádios cariocas (da então capital do país) pegavam em diversos outros estados do Norte e do Nordeste do Brasil. Com craques exibindo um bom futebol e o auxílio da narração característica de partidas de futebol pelas ondas da voz, o imaginário de uma legião de fãs foi pouco a pouco sendo construído e o amor ao clube passado de geração em geração, mesmo que a muitos quilômetros de distância da Cidade Maravilhosa.
Um desses casos que chama a atenção e remete à famosa frase do presidente vascaíno Cyro Aranha (“Enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal”), aconteceu no último sábado (11) quando Marcos Dumit e Lucas Dumit, pai e filho, que moram em Maceió, puderam pela primeira vez assistir ao clube do coração em seu estádio, no empate por 1×1 diante do Nova Iguaçu.
Marcos, de sessenta anos, é servidor público e carioca. Sua esposa é de Maceió. Eles moravam no Rio até 2007, quando decidiram se mudar para a cidade natal dela, após o nascimento da primeira filha do casal. Ele, apesar de ser de uma família de vascaínos, nunca ligou muito para futebol. Ao contrário de seu filho mais novo, Lucas, o Luquinha, de apenas treze anos e fanático pelo clube cruzmaltino.
Lucas nasceu em Maceió no ano do último grande título vascaíno, a Copa do Brasil de 2011. De lá para cá, muitas decepções com os frequentes rebaixamentos no Campeonato Brasileiro e os solitários Cariocas conquistados em 2015 e 2016. Todas as razões do mundo para uma criança não escolher este clube para chamar de seu (ainda mais morando longe de São Januário), certo? Errado! “É pela tradição, pela minha família e porque eu adoro este time!” – conta o fã de Philippe Coutinho, que sonha em se tornar médico cirurgião e nas horas vagas, como boa parte da sua geração, alterna partidas de FIFA e Fortnite com os amigos.
O ídolo não estava em campo. O time escalado pelo técnico Ramon Lima contava com muitos meninos, alguns com pouca idade a mais que Lucas, como o lateral direito, Paulinho, de apenas dezenove anos, autor do gol inaugural da partida. Após a explosão de alegria, aos quarenta minutos do primeiro tempo, o jovem torcedor alagoano confessa: “O estádio é bem maior e mais bonito ao vivo do que pela televisão!”.
O pai, Marcos, assistia a tudo em plena felicidade. Ao seu lado, o amigo de longa data e incentivador da primeira ida ao estádio, Aurélio, o “Tio Aurélio”, que orgulhoso conta: “eu fiz de tudo para trazê-los ao jogo de hoje! Ver a felicidade do Lucas em assistir o primeiro jogo do Vasco em São Januário, antes de ser reformado, não tem preço!”.
Entre uma selfie e outra, Lucas ainda consegue tempo para uma videochamada com outro tio e de reconhecer, de longe, o francês Dimitri Payet em um camarote do estádio. Em campo, o Nova Iguaçu chegou ao empate com Sidney, aos dezoito do segundo tempo e o placar assim permaneceu até o final.
Apesar da partida tecnicamente fraca, o Vasco saiu de campo aplaudido pelos 9.924 presentes. O primeiro ponto conquistado no Carioca 2025 pode parecer pouco, mas para Marcos e Lucas teve um significado especial e inesquecível.
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Texto publicado originalmente no site “Em Todo Lugar”, da FACHA:
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