por Rubens Lemos
No vôlei e no basquete, não existe empate. Ninguém noticia que técnico fulano ou sicrano é retranqueiro, medroso. Se for bom e tiver um time de qualidade, ganha, senão, apanha e vai pra casa conformado. É a vantagem da maioria dos esportes sobre o futebol.
O primeiro covarde dos gramados surgiu quando tirava um cochilo depois do almoço e sonhou(ou teve um pesadelo?), com as vantagens do empate. Em seus devaneios, pegou um papel ou campo de futebol de botão e foi recuando jogadores imaginários até que todo o seu lado ficasse inteiro, povoado, congestionado, numa barreira que impediria o adversário de fazer gols e garantiria o seu emprego.
Dunga, um xerife da tranca boleira, disse, impoluto como um Cony escrevendo, que, se ninguém arriscar, o jogo fica pelo menos em 0x0. E o delírio dos empatadores foi ganhando força e forma, gerando um monstro espalhado em cada “professor ”inimigo do drible,do lançamento e do gol de placa.
O campo de jogo ideal para os retranqueiros nem precisaria das duas traves. Gol pra quê? O jogo teria e tem 90 minutos de cotoveladas, divididas, toques curtos, laterais e pronto: 0x0, ninguém alegre e ninguém triste. Os subprodutos do empate são zagueiros sem classe, cabeças-de-área que parecem vikings, meias tímidos e covardes, que rodam com a bola feito enceradeiras.
Como seria um empate no amor? O sexo sem orgasmo, cada um dando, no máximo, um beijo na face do outro. Sem avanços e ousadias porque fisicamente não haveria consumo de suor nem possibilidade de procriação.
Como seria um concurso com todo mundo empatado? Ninguém classificado, ora, porque, na mentalidade avarenta dos retranqueiros, mais prudente anular a prova do que contratar todo mundo. Ou os candidatos iriam aos pênaltis?
Os apóstolos do empate devem imaginar um mundo feito de pessoas rigorosamente iguais, bonitas ou feias, mas com nada diferente umas das outras. O empate não permitiria a paixão, porque a distinção, o detalhe, o sorriso seriam invisíveis.
O empate poderia acabar no futebol. O impedimento também. Empatar, impedir. Parem, pensem. São duas palavras antipáticas, dois atos proibitivos, censores, que tolhem. Gol e gozo são termos muito mais gostosos. Na pronúncia, no ato e no fato. Na causa e na consequência.
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