por Mário Moreira
Montevidéu não costuma ser um destino preferencial dos turistas brasileiros, mas, para os amantes do futebol, a capital uruguaia tem uma atração imperdível: o mítico Estádio Centenário, palco principal da primeira Copa do Mundo.
Quando definimos o Uruguai como destino de férias neste verão, o Centenário logo me veio à mente. Nem foi difícil convencer minha mulher a incluí-lo no roteiro, já que ela tem, entre inúmeras outras, a importante qualidade de gostar de futebol. Como argumento adicional, lembrei-lhe que o estádio foi cenário da primeira conquista da Libertadores pelo seu time de coração – e pronto, a ideia estava mais que aprovada.
No dia combinado, pegamos um táxi no final da manhã para o Centenário, localizado numa região arborizada e geograficamente bastante central de Montevidéu. O estádio abriga o Museu do Futebol, cujo ingresso, a 300 pesos (cerca de 45 reais) por pessoa, dá direito a acessar um setor das arquibancadas, oposto ao das cabines de rádio e TV.
Antes de visitar o museu, tratamos logo de conhecer o campo de jogo, aproveitando o lindo dia de céu azul. O acesso à arquibancada inclui um patamar intermediário, onde um grande cartaz de uns 3 metros de altura com a inscrição “Bienvenidos al Estadio Centenario – Declarado por Fifa primer monumento historico del fútbol mundial” já provoca um arrepio na espinha.
Quando chegamos à arquibancada, a visão daquele estádio magnífico e cheio de história, todo em tons de azul claro, palco de tantas partidas épicas, provocou em mim uma emoção irresistível. Com os olhos marejados, comecei a balbuciar para minha mulher algo como “Pense que aqui, neste exato lugar, começou a história das Copas do Mundo”, mas não passei da sexta palavra, porque a voz embargada não permitiu – e confesso: chorei como uma criança, um choro convulsivo, de soluçar, acolhido com carinho pelo ombro da amada.
Enxugadas as lágrimas, e após algum tempo admirando o estádio e circulando pela arquibancada vazia, voltamos ao museu, cujo acervo é focado principalmente nas conquistas do futebol uruguaio. Entre uma infinidade de troféus, pôsteres e camisas autografadas por ex-jogadores, há verdadeiras relíquias. A maior delas, a camiseta número 5 envergada pelo capitão Obdulio Varela no Maracanazo de 1950 – manchas de sangue e suor ainda são visíveis na peça, à qual prestei a devida reverência. Outras preciosidades incluem camisas usadas por Pelé e Vavá na Copa de 62 e a bola da semifinal Hungria x Uruguai no Mundial de 54, vencida pelos húngaros por 4 a 2 na prorrogação e apresentada pelo museu como “match do século”.
Obviamente, não resisti a tirar uma foto ao lado da estátua de Alcides Ghiggia, esse gigante do futebol que, além de ter marcado o famoso gol que decidiu o Mundial de 50, fazia aniversário no mesmo dia que eu…
O Museu do Futebol, porém, necessita de melhorias. É incompreensível que o visitante passe o calor que sentimos lá, já que o local não dispõe de ar-condicionado, e os poucos ventiladores distribuídos pelo amplo salão do segundo andar não fazem frente ao verão uruguaio. O próprio acervo precisa ser mais bem organizado e exposto. E é flagrante a precariedade da lojinha do museu, que sequer oferece camisas oficiais da seleção uruguaia. A gentil vendedora, pelo menos, indica onde tomar o ônibus para um shopping próximo, onde o turista consegue enfim adquirir a Celeste.
O estádio, em si, também demanda uma reforma: o cimento da arquibancada tem rachaduras em alguns pontos, e há assentos quebrados aqui e ali. Já a marquise se limita ao trecho onde ficam as cabines de imprensa. Ou seja, é uma construção antiga, quase centenária, com o perdão do trocadilho óbvio. O problema é se o Uruguai for escolhido – na candidatura conjunta com Argentina, Chile e Paraguai – como sede da Copa de 2030, que vai marcar os cem anos dos Mundiais. O malfadado “padrão Fifa” certamente transformará o Centenário em algo bem diferente, muito mais moderno, porém distante do charme e da história inigualável do velho estádio.
Gosto das histórias do futebol, mas tenho um compromisso com o futuro! Que se faça como no Maracanã. Que se preserve as características externas do histórico estádio. Que chegue logo 2030!