por Rubens Lemos
Chegou como quem chega do nada. Tampouco explicou nada, mas do nada esbravejou. No Olimpo da Bola, encontrou, deslumbrado, Garrincha, mãos à cintura, fazendo que não ia mas ia para cima do condenado Kuznetsov, o russo humilhado em 1958 e designado para a revanche celeste.
Garrincha arremete, dribla, cruza e Vavá faz 1×0 para o Divino Brasil, time treinado por Telê Santana sem direito à teimosia.
O novo habitante da constelação está com seu aspecto de 25,26 anos, exatamente como na Copa do Mundo de 1986.
O Divino Brasil tem Barbosa no gol, Djalma Santos, Carlos Alberto Torres, Domingos da Guia e Nilton Santos; Zito, Didi, Sócrates e Zizinho; Garrincha e Vavá.
O Segundo Andar Futebol Clube alinha Yashin; Liebrich da Alemanha de 1954, Bobby Moore, Scirea e Rodríguez Andrade do Uruguai de 1950; Cruijff, Kopa da França de 1958 e Schiaffino do Uruguai do Maracanazzo; George Best, o irlandês beberrão e driblador, Eusébio e Puskas.
Em triangulação Kopa, Best e Puskas, o húngaro empata. O novo morador reclama a ausência do argentino Di Stéfano no time titular. O técnico holandês Rinus Michels, o do Carrossel de 1974, resmunga um palavrão e recebe o desaforo ardente: “Hijo de puta”. Garrincha ouve, ri e simpatiza com o baixinho afobado.
Castilho substitui Barbosa e Ademir Menezes ocupa a vaga de Vavá no Divino Brasil enquanto o extraordinário Hidegkuti entra para Kopa sair. Puskas recua para a meia e seu compatriota forma com Best e Eusébio a ofensiva.
Garrincha prossegue o baile, dribla a defesa inteira do Segundo Andar e, sacana, toca de calcanhar entre as pernas de Yashin. O goleiro, contrariado, desiste, para Banks entrar.
Numa saída de bola, Scírea, líbero campeão de 1982, avança, Cruijjf gira e engana a zaga, a bola sobra para Best fintar Castilho, empatar e São Pedro apitar o final em 2×2.
Logo depois de o viajante falador aplaudir uma caneta de Didi no inglês Bobby Moore, seguida de passe de curva para Garrincha driblar três vezes o sofrido lateral soviético e bater para defesa estupenda de Banks.
O novato (no infinito glorioso), sorri debochado para Garrincha e avisa: acabou essa história de nacionalidades e regras, afinal aqui somos ilimitados . O dirigente Jules Rimet tenta argumentar e o nanico indócil esnoba: “Dirigente não se mete com craque. A partir de agora, resolvemos nós.”
Maradona, devoto da contradição, formou o seu próprio time, o La Libertad, com Carrizo (Argentina), Escobar (Colômbia,1994), Obdúlio Varela (Uruguai,1950), Nilton Santos de quarto-zagueiro, “La Enciclopédia”, derramou-se o recém-chegado e “La Bruja” Marinho Chagas; Cruijjf, ele e Sócrates; Garrincha, Di Stéfano e George Best.
Mandou chamar outro sublime, Mário Sérgio Pontes de Paiva igualmente sublevado nos campos terrestres e espirituais. E Dener, um neguinho fenomenal que o impressionara em terra.
Garrincha, Best, Sócrates, Marinho Chagas e ele, o Pibe atrevido chegaram chapados da farra para o amistoso contra o Alianza Lima, cujo avião caiu em 1987, matando o time inteiro, em pleno campeonato peruano.
Os peruanos suportaram dez minutos. Maradona, renascido em alma e voracidade, driblou por entre nuvens e clarões. Beijou Garrincha, que, numa ginga, sentou cinco adversários. Abraçou Sócrates, por um passe de calcanhar, afagou Best, por um corte seco e um balaço no ângulo. Aplaudiu Marinho Chagas pelas arrancadas ao ataque.
Maradona correu liberto, arcanjo contestador. Brigou com o árbitro, o Mr. Guigue, inglês educadíssimo. Foi expulso. Onde está desde 25 de novembro, não há regulamentos. Jogará a próxima.
Antes, recaída na luxúria com Mané, Marinho Chagas, o Doutor Sócrates e Best. Convocou para eles, cinco famosas vedetes brasileiras. Gostosíssimas. “Chicas Guapas”, relaxou Maradona, imperador, na banheira de águas mansas da eternidade.
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