por Paulo-Roberto Andel
Maradona acabou de falecer.
Com ele, também morre uma era.
Polêmico, instigante, admirável, ferino, libertário, gênio, craque. Craque demais. Não pode ser resumido em adjetivos.
Poucos personagens puderam encarnar tão bem a mistura de garra, poesia e tragédia tão típicas do imaginário portenho.
Nele, o mais poderoso estava em sua condição humana. Ídolo de milhões de pessoas pelo mundo afora, mito de verdade, semideus em sua terra, ele nunca abdicou de sua condição humana, tanto por alguns erros quanto por incontáveis acertos. Seu discurso era genuíno: vivia o que acreditava.
Sinceramente, por mais que fosse previsível, eu não esperava por esse dia. A imagem que tenho de Maradona é a do jovem no Maracanã fazendo Leão, o poderoso goleiro da Seleção Brasileira, se esticar todo para evitar um gol em 1979. Dez anos depois, um chutaço do meio de campo explodindo no travessão.
Por mais que ele mesmo provocasse, e a imprensa adorasse, não precisou ser maior do que Pelé no campo para ser gigantesco, eterno, senhor supremo e absoluto. Também não foi Garrincha, mas assim como o craque brasileiro conduziu o Brasil no Mundial do Chile, Maradona o fez na segunda Copa do México.
Em sua história há de tudo um pouco: tango, papel picado, jogadas espetaculares, uma Copa do Mundo nas mãos, a Máfia, as drogas, os prazeres, a sinceridade, o amor, a empatia, o carisma e um talento para o futebol que atravessou continentes e memórias.
À essa altura, em algum lugar nosso Fernando Vanucci está narrando uma jogada fantástica de Maradona num Globo Esporte. Jorge Curi, narrando um golaço-aço-açooooo. João Saldanha comentando e aplaudindo da cabine de rádio.
Ou talvez tudo seja apenas o último capítulo, silencioso, de um filme impecável: a história de um garoto que ganhou a Terra com a bola nos pés.
Maradona, nosso ídolo e algoz, herói do povo argentino e mosca na sopa dos moralistas.
Nós, simples mortais, lamentamos. Ele, não: já estava condenado à eternidade desde sempre.
@pauloandel
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