por Paulo-Roberto Andel
Ele disputou três Copas do Mundo, se destacou como um dos maiores jogadores brasileiros dos anos 1970 e 1980 e viveu dezenas de tardes inesquecíveis no velho Maracanã com mais de 100 mil torcedores. Ainda garoto, foi simplesmente titular da Máquina Tricolor ao lado de campeões mundiais como Paulo Cezar Caju, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Félix e Marco Antônio. E ninguém mais do que ele equilibrou tanta garra em campo com qualidade técnica vestindo a camisa do Fluminense.
Aos 68 anos completados nesta quarta-feira, Edino Nazareth Filho, o inesquecível Edinho, está consagrado como um dos maiores nomes da história do Fluminense. Ele foi o principal responsável por segurar o ânimo da torcida tricolor após o término da Máquina. Sempre se destacou mesmo em times menos valorizados do Fluminense. Liderou o time campeão carioca de 1980 e marcou o gol do título na final contra o timaço do Vasco.
Para os tricolores em torno dos 50 anos de idade, Edinho foi o grande ídolo, a estrela maior. Arrancava da defesa para o ataque, marcava gols, dava passes, lançava, cruzava e voltava para combater. Era uma espécie de camisa 10 jogando na quarta zaga, fazendo as duas funções simultaneamente. Enlouquecedor.
É fácil lembrar dele pelos títulos e vitórias. Com 360 jogos pelo Flu, venceu mais da metade e só perdeu 75 em nove temporadas disputadas, somadas as duas passagens pelo clube. Mas o Fluminense de Edinho era tão valente e lutador que recebia aplausos até na derrota. Foi o caso das oitavas de final do Brasileirão de 1981: o Fluminense precisava derrotar o Vasco por 3 a 0 para se classificar, e conseguiu o resultado ainda no primeiro tempo. Num jogo de muita luta, o Cruz-maltino reagiu, descontou para 3 a 2 e conseguiu a vaga. Mesmo triste, a torcida tricolor aplaudiu seu time ao término da partida. Era assim nos tempos de Edinho.
Já como treinador do clube, em sua última passagem, o eterno craque deixou a marca do que pensava sobre o Flu. Contrariado pelos dirigentes, que impuseram a contratação do veterano lateral cruzeirense Nonato, simplesmente declarou: “Jogador reserva de outro time não serve para ser titular do Fluminense”. E pediu o boné. A vitória era sua filosofia desde garoto, no futebol de praia de Copacabana.
Numa típica fake news, ainda há torcedores que apontam Edinho como “traidor” por ter jogado no Flamengo. O tamanho dessa bobagem pode ser desmentido por quem viveu a época: Edinho simplesmente tinha voltado da Itália, estava sem clube, pediu para treinar semanas no Fluminense e foi desprezado pelo inacreditável presidente Fábio Egypto, famoso apenas por ter desmontado o time tricolor tricampeão de 1983/1985. Sem saída – a não ser a loucura de encerrar a carreira aos 32 anos -, o zagueiro foi para a Gávea, ganhou a Copa União e, ao primeiro sinal de arrependimento do Fluminense, acertou imediatamente a volta ao clube, naquele tempo bem mais enfraquecido do que seu rival. Outros preferem dizer que ele era “contra o Fluminense” na função de comentarista do SporTV por uma década – o engraçado é que vascaínos, alvinegros e rubro-negros tinham a mesma reclamação em relação aos seus clubes…
Quem melhor definiu Edinho foi Seu Pinheiro, símbolo eterno do Fluminense, às vésperas de sua morte em 2011. Tive a oportunidade de entrevistar o ídolo no Tijuca Tênis Clube naquela ocasião, ao lado de Raul Sussekind e Álvaro Doria. Passamos horas divertidas conversando sobre o Fluzão e o futebol. Em certo momento, cravei: “Seu Pinheiro, com toda a sua história e títulos, campeão mundial pelo clube, homem de confiança de Castilho com mais de uma década de serviços prestados às Laranjeiras, eu posso dizer que o senhor é o maior zagueiro da história do clube?”.
Com olhar sério e emocionado, o velho Pinheiro – que sabia de tudo do Fluminense dos anos 1930 até 2010, tendo visto inclusive outros cracaços da defesa como Ricardo Gomes – um monstro! -, além de revelar inúmeros craques, cerrou as sobrancelhas, deu uma pausa e disse: “Não, meu filho. Não. Eu joguei muito bem, assim como outros, mas o maior zagueiro da história do Fluminense é o Edinho.”
Ponto final.
@p.r.andel
Olá, me emocionei, pois vivi tudo isso e muito mais que o Pinheiro comentou. Tenho 64 anos e vivi muitas glórias maravilhosas no Maracanã de todos os 4 grandes do Rio: Botafogo de 68, do Flusão dos anos 70 e 80, do menguinho com aquele timaço do Zico e cia e do Vasco do nosso saudoso Roberto Dinamite. Tive a sorte de ver verdadeiros espetáculos no nosso maraca e assistir a 3 Copas do Mundo com meu saudoso pai, que se foi recentemente, com 91 ano.. Fomos na famosa Copa de 70 (eu tinha 10 anos e não me esqueço) e muitas histórias interessantes e curiosas tenho para contar, depois 74 na Alemanha que pude ver a Laranja Mecânica ,ao vivo, arrasar com o Brasil em Dortmund e perder a final não sei com para Alemanha que ainda era Ocidental. depois fui ainda ver o Campeão Moral com Coutinho e Companhia em 1978 na Argentina.
Bom, muita viagem no tempo, não vi o Pinheiro jogar, meu pai o conheceu, pois atuou como jornalista no Flu nos anos 50 e 60, época também do técnico Zezé Moreira e o conheceu junto com outros craques quando foi na Copa de 1954 na Suissa..
Falar do Edinho, nossa! Um monstro realmente um dos melhores que vi jogar na posição, talvez o Pinheiro tenha mesmo razão foi o melhor na posição no meu Flu, uma pena que não jogue hoje, pois a nossa defesa está um horror.
Obrigado pelo espaço e se um dia se interessar tenho algumas historinhas para contar de minha vida como torcedor do futebol brasileiro, pois íamos ao maracanã, eu e meu pai, nas quartas e quintas de rodada dupla, sábado e domingo, para ver bom futebol e víamos também as preliminares de domingo dos antigos juvenis.
Abraços
Edinho foi um dos maiores de sua geração, numa época que formavamos vários bons zagueiros. Jogou na copa de 78 deslocado para a lateral esquerda, devido a sua polivalência e pelas doideras do Coutinho. Em 82, ficou na reserva de Luizinho, que jogava o fino, mas Edinho era melhor. Em 1986 finalmente foi titular e não fez feio, inclusive marcando um golaço contra a Polonia, parecendo um atacante pela sua habilidade. Quando o mercado italiano reabriu, foi pioneiro indo para a Udinese, numa época que ir pra Europa era para os melhores. Sou flamenguista mas não sou burro, jogou muito!!!