por Paulo-Roberto Andel
Agosto ou setembro de 1980. Instituto Santo Antônio de Pádua, rua Tenreiro Aranha, transversal à Figueredo Magalhães, coração de Copacabana.
Exceto nas aulas de Educação Física, era proibido o uso de qualquer bola para qualquer prática de jogo dentro da escola. Alguém teve uma ideia para a hora do recreio: e se não fosse uma bola, mas um quadrado?
Não me lembro como, mas viabilizaram um quadradinho de madeira, melhor dizendo, quase um taco de piso. Um taquinho.
Não podia ter gol, nem golzinho. Então nasceu o racha: os players ficavam em três das quatro paredes do terraço da escola. Todos ficavam de prontidão quando o grito era de algum grandão da oitava série: “É RACHAAA!”. Misturavam sétima, sexta e quinta séries. Os menorzinhos, não.
Dado o grito, o taquinho era chutado para uma das paredes. Todo mundo corria para bicar quem dominasse a “pelota retangular”. Gritos e gritos, “É RACHAAA!”. O taquinho ia de um lado para o outro, ficávamos suadíssimos em quinze minutos e o jogo acabava. O mais incrível é que ninguém se machucava e a gente só disputava aquela loucura na escola.
Lembrar do racha é lembrar de um grande ano do futebol, o campeonato brasileiro, o carioca, os craques: Edinho, Cláudio Adão, Mendonça, Roberto, Paulo Cezar, Adílio, Tita, Zico, Luisinho, tanta gente. Pintinho, Zé Mário, Deley. Os botões, os álbuns de figurinhas, o Futebol Cards. Juntar dinheiro para comprar um escudo bordado e pedir à mãe para costurá-lo na camiseta Hering, combinada com short Silze. Sonhar com o pai falando “Tome seu banho que vamos pro Maracanã”.
O colégio acabou, a rua Tenreiro Aranha também. Agora tem o batalhão da PM e a estação do metrô. Onde foram parar os amigos do racha? O Fernandão eu sei, tá todo contente com o Botafogo. O Leo é super atleta de corrida, natação e o diabo.
Meu pai, ah, agora está longe demais dessa capital, mas penso nele todo dia. Hoje pensei mais, é que vi figurinhas de um álbum, ele adorava colecionar. Lá se vão quarenta e quatro anos, mas a vida é isso: envelhecer, poder olhar para trás e ter lembranças marcantes. O racha é uma delas. O lindo Fluminense cheio de jovens e todo de branco, sendo um esplêndido campeão. A garotada atual não vai entender, mas a gente nem estava aí para Libertadores – e por motivo justo.
No fundo, no fundo, o futebol é nosso eterno teletransporte para a infância. Deve ser por isso que gostamos tanto desse jogo de bola, tanto que nem ligamos se a própria bola vira um taquinho.
@pauloandel
No colégio, como não podia levar bola, improvisavamos com as amêndoas que caíam das amendoeiras, abundantes no pátio. 1980, o ano da benção de João de Deus!
Cara, adoro suas crônicas e seus livro sobre o Fluminense. Saber que estás no Museu da Pelada, só faz que a cada dia seja reconhecido. Parabéns!!
Muito legal!
Eu jogava com copo de Coca-Cola amassado. Era muito bom!
Que delícia, caro Andel.
No túnel do tempo e, as melhores lembranças de nossa doce adolescência escolar.
Fazíamos uma bola também “meio quadrada” ,com os copos de papelão, revestidos de cera, usadas naqueles tempos pela cantina. Bebíamos o mate, refri, sucos e, em seguida estourávamos com o pé, amassávamos, e um copo dentro do outro, até atingir o formato, tamanho pra o jogarmos Copobol. As cestas de lixo, eram mais que necessárias do que ser uma simples lixeira, no basquetinho.
Também tinha o rachão. O Bernardinho, era nervosinho desde daqueles tempos. Não aceitava perder nada. Mas, no vôlei, ele, o Gradin, o Pintado, eram os caras das mãos, dos tapas e cortadas. Assim, fizemos o time de vôlei de areia, em frente à rua rua Júlio de Castilhos. Tempos áureos, dos anos 70.
Bernardinho, sabemos um pouco pelo que ainda vem fazendo ainda em dias atuais. O restante, muitos partiram. Outros, saíram do RJ. Alguns poucos, ainda tenho contato. Mais de meio século passado. As imagens ainda são claras. Parece que foi outro dia. Nossas memórias modestas, que só emocionam àqueles que viveram os melhores tempos da vida.
Cansei de jogar com bola feita com a meia normal.
Até futevôlei jogamos com bola de meia no Colégio de São Bento. A rede era a trave da baliza.
Boas lembranças, Andel! As minhas remetem às discussões sobre futebol e disputa de queimada.