por Elso Venâncio, o repórter Elso
Mais da metade da população brasileira – estima-se 56% – é negra ou parda. Pergunto: onde estão os técnicos negros no nosso futebol?
Lembrando apenas dois nomes, Gentil Cardoso e Waldir Pereira, o Didi, começo pelo primeiro. Gentil, ‘O Velho Marinheiro’, lamentava com pesar:
“Só não dirigi a seleção por causa da cor.”
Vitorioso, Gentil Cardoso trabalhou em vários clubes, dentre eles os quatro grandes do Rio, além do Corinthians. No Botafogo, aprovou em minutos a contratação de Garrincha:
“Estou sonhando?”
O único brasileiro negro a dirigir uma seleção em Copas do Mundo foi Didi. Em 1970, ele comandou o Peru, de Chumpitaz, ‘Perico’ León e Cubillas. Os peruanos eliminaram os argentinos em plena Bombonera, deixando-os fora do Mundial do México. Didi era sempre cotado para reger fora de campo a seleção brasileira, porém nunca chegou lá.
21 de março é celebrado como o ‘Dia Internacional Contra a Discriminação Racial’. Nessa data, esse ano, fui à Academia Brasileira de Letras, a ABL, presenciar uma palestra do tricampeão do mundo Paulo Cézar Caju:
“A delegação do Botafogo foi jantar em Bagé, no Rio Grande Sul, e na porta do restaurante lemos a frase: ‘Proibido Negros’” – a certa altura ele disse, dando um choque de realidade na plateia.
“Por que Andrade, campeão brasileiro com o Flamengo, Jayme de Almeida, Cristóvão, Roger e tantos outros estão fora do mercado?” – o craque indagou, noutro momento de reflexão.
“Passeava na Sunset Boulevard, em Los Angeles, em um carro conversível, com Jairzinho ao lado, quando vimos um movimento ‘Black Power’. Eram jovens de cabelos pintados. Descemos e, no primeiro salão, fizemos o penteado que acabou virando febre no Brasil. Por conta dele, os paulistas me apelidaram de Caju. Não gosto! Sou Paulo Cézar Lima”.
“Fiquem longe das drogas”, por fim ele aconselhou. “Estou curado há 25 anos. Morreria com 48 e tenho hoje 73 anos!”
‘Monsieur Paul Cézar’, como era chamado no país da Torre Eiffel, abriu o mercado francês para os brasileiros ao se transferir do Flamengo para o Olympique de Marseille logo após a Copa de 1974, disputada na Alemanha. Mesmo ignorado pela CBF no ‘Seminário Contra o Racismo’, não há dúvidas de que, no futebol, ninguém combate esse inconcebível preconceito como ele.
Gentil Cardoso era um Técnico emblemático, tremendo complexo com sua cor. Referia -se sempre a Flávio Costa como “o moço branco”. Era um bom homem.
Caro PCLima desculpa pela vezes é que mencionei caju, pois não sabia deste detalhe que essa palavra não era de seu gosto,abraço