por Zé Roberto Padilha
Com o fechamento de muitos campos de futebol, a invasão dos seus gramados por gente sem chuteiras em busca de shows e entretenimento, tenho encontrado meus netos dentro do quarto jogando Real Madrid X Barcelona. Pelo Playstation. Sem conhecer a magia das peladas.
Pertencem a primeira geração dos Lopes e Padilhas que deixam as chuteiras e vão jogar futebol com as mãos. Muitos não perceberam que esse fenômeno tem sido o divisor de águas no futebol brasileiro.
Do improviso que surgia nos campinhos de futebol pela adaptação aos desníveis irregulares, o jogador de futebol brasileiro criou seu diferencial. Cobiçado por todo mundo.
O primeiro a criar uma obra de arte, a bicicleta, Leônidas da Silva disse que caminhava para completar um cruzamento da linha de fundo e a bola encontrou um montinho pelo caminho. Tomou uma trajetória contrária, passou por sua cabeça e ele se jogou para tentar alcançá-la. E a acertou lá em cima.
A tabelinha, a segunda obra de arte, foi criada, segundo Zizinho, onde tinha um poste e a pelada era no meio da rua. Acuado num canto, tocou no poste e recebeu mais à frente. O poste, embora fixo e limitado, não errava uma devolução.
Desse laboratório onde a bola tinha vida própria, e teve o Drible da Vaca, era preciso desenvolver uma gama de recursos para dominá-la, surgiu o nosso diferencial. Que infelizmente está indo embora. O que resiste, as Taças das Favelas, revelam Vinicius Jr, e a Copinha, que a cada gol nos mostra que não há mais cotas disponíveis para brancos e loirinhos.
O futebol não é para quem quer. É para os que mais precisam.
E para fechar o caixão da criatividade, a IA chegou ao Liverpool. Corners serão batidos no mesmo lugar em que o algoritmo marcar. E os atacantes irão procurar o lugar em que Lewandowski regularmente cabeceia pro fundo das redes.
Tudo o que se fez será
Do mesmo jeito que se fez um dia
Nada mais se cria, tudo se copia
E o futebol, como a vida, vai ficando chato e repetitivo toda vida.
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