Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

E A AMÉRICA FICOU AZUL DE NOVO

30 / agosto / 2020

por Claudio Lovato 


Esta é uma das melhores lembranças que guardo comigo sobre idas a estádio na condição de visitante. Dia 1º de setembro de 1996, um domingo, eu e meu irmão mais novo a bordo de um ônibus 474, Copacabana-São Cristóvão, a caminho de São Januário para ver o nosso Grêmio enfrentar o Vasco pelo Brasileirão. Acomodados lado a lado num banco próximo ao do cobrador, tínhamos à nossa frente pai e filho vascaínos. Os dois usavam camisas com o número 10 sobre a faixa transversal preta, como muitos outros que estavam ali. Eu conversava com o meu mano e ao mesmo tempo tentava prestar atenção ao papo dos dois à nossa frente. 

Lá pelas tantas, o guri disse:

– Hoje não vai ser fácil.

Ao que o pai respondeu:

– Não vai mesmo. Esses caras jogam até no inferno!

Nunca mais esqueci aquilo. Nunca vou esquecer. Ser respeitado pelos adversários, respeitado de verdade, é uma das melhores coisas no esporte e na vida. 

Jogo duríssimo. Pimentel fez um a zero para o Vasco aos 40 minutos do segundo tempo. Paulo Nunes empatou para o Grêmio aos 47. Naquele ano, o Grêmio conquistaria o seu bicampeonato nacional, batendo a Portuguesa na final.

A história daquele time que eu e meu irmão acabáramos de ver enfrentar o Vasco havia começado nos primeiros dias de 1995, quando se reuniram, no vestiário do Estádio Olímpico, jovens pratas da casa (alguns deles remanescentes da equipe campeã da Copa do Brasil do ano anterior, como Danrlei, Roger e Carlos Miguel) e jogadores vindos de fora, este segundo grupo formado por veteranos e novos, alguns deles desvalorizados nos clubes de procedência. Esse time daria à torcida, meses depois, um dos principais títulos da vitoriosa trajetória do clube: o bicampeonato daLibertadores da América.  

A taça continental foi erguida quase exatamente um ano antes daquele empate em São Januário. Em 30 de agosto de 1995, o Grêmio conquistava sua segunda Libertadores da América ao empatar em 1x 1 com o Atlético Nacional de Medellín, na cidade colombiana (gols de Aristizábal e Dinho), coroando uma campanha de oito vitórias, quatro empates e duas derrotas. O Tricolor vencera o primeiro jogo da final por 3x 1 em Porto Alegre, uma semana antes: Marulanda (contra), Jardel e Paulo Nunes balançaram as redes para o Grêmio e Ángel descontou para Atlético Nacional.

Havia muito e muito mais que isto: as defesas brilhantes, algumas inacreditáveis, e a vibração incendiária de Danrlei, os cruzamentos perfeitos e os chutes potentes de Arce, a técnica e a segurança de Adilson e Rivarola, a consciência tática e os passes precisos de Roger, a experiência e a liderança de Dinho e Goiano, volantes com ótima saída de bola, os dribles e a movimentação de Arílson, avisão de jogo e os lançamentos geniais de Carlos Miguel, o entendimento e o instinto matador de Paulo Nunes e Jardel, autores de 16 dos 29 gols (11 de Jardel) marcados pelo Grêmio na campanha, que incluiu embates antológicos contra o Palmeiras. Mas havia também a capacidade de entrega e a qualidade dos outros jogadores do elenco, entre os quais Emerson (que viria a se tornar capitão da Seleção Brasileira), Luciano, Magno, AlexandreXoxó, Nildo, Murilo, Sílvio, Vagner Mancini e Jacques.

Havia mais, é claro: o conhecimento de futebol de Luiz Felipe Scolari, para nós sempre Felipão, que montou e comandou um time de grande qualidade técnica e mentalidade vencedora, que,jogo após jogo, sufocava os adversários em campo; a excelência da preparação física de Paulo Paixão, fundamental para o estilo de jogo praticado pela equipe; a condução sábia, serena e apaixonada do grande presidente Fábio Koff e as constantes demonstrações de amor de uma torcida que promovia celebrações lendárias no Olímpico lotado em completa comunhão com a equipe, míticas avalanches da alma azul-preta-e-branca que tiveram seus primórdios no Fortim da Baixada e hoje encontram palco e templo na nossa Arenainaugurada em 2012.

Neste 30 de agosto de 2020, a torcida do Grêmio comemora os 25 anos do bicampeonato da Libertadores da América e exalta um espírito que levou o clube a tocar o céu várias vezes, frequentemente por ter sabido jogar, e vencer, até no inferno.

 

A campanha    

Primeira fase:

Palmeiras 3 x 2 Grêmio (21/02, São Paulo)

Emelec 2 x 2 Grêmio (14/04, Guayaquil)

El Nacional 1 x 2 Grêmio (17/03, Quito)

Grêmio 0 x 0 Palmeiras (22/03, Porto Alegre)

Grêmio 4 x 1 Emelec (31/03, Porto Alegre)

Grêmio 2 x 0 El Nacional (07/04, Porto Alegre)

 

Oitavas-de-final:

Olímpia 0 x 3 Grêmio (25/04, Asunción)

Grêmio 2 x 0 Olímpia (03/05, Porto Alegre)

 

Quartas-de-final:

Grêmio 5 x 0 Palmeiras (26/07, Porto Alegre)

Palmeiras 5 x 1 Grêmio (02/08, São Paulo)

 

Semifinal:

Emelec 0 x 0 Grêmio (10/08, Guayaquil)

Grêmio 2 x 0 Emelec (16/08, Porto Alegre)

 

Final

Grêmio 3 x 1 Atlético Nacional (23/08, Porto Alegre)

Atlético Nacional 1 x 1 Grêmio (30/08, Medellín)

 

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *