por Sergio Pugliese
No carro, indo para Arraial do Cabo, parecia aquele menino de 14 anos que não via a hora de entrar no Maracanã ou em São Januário. Era impressionante, mas mesmo indo aos estádios semanalmente, a prazerosa sensação não cessava. Acho que isso é o que chamam de magia. O campo gigante, o gramado verdinho, a tal aglomeração, que hoje virou sinônimo de palavrão, os bandeirões, as organizadas e eles, os ídolos, nossos super-heróis. Eu sempre ficava com olhar fixo no túnel à espera da entrada dos artistas do espetáculo. O primeiro que eu procurava era Dinamite, meu maior ídolo no futebol, e, em seguida, buscava Dudu. Não era difícil avistá- lo, afinal ele era grandalhão. Volta e meia eram publicadas matérias criticando seus quilinhos a mais. E eu lá estava preocupado com isso! O cara jogava uma barbaridade! Roubava a bola do adversário, avançava com um vigor de touro faminto e disparava um míssil certeiro de fora da área. A torcida delirava! “Esse gordinho joga demais!”, era uma frase recorrente nas arquibancadas. Mas Dudu não era um ídolo improvável, Dudu jogava muita bola e em uma entrevista à Placar, que tenho guardadinha aqui comigo, Zico alertava seus companheiros: “Preocupem-se em marcar Dudu”. Chegou a ser cotado para a Copa de 82. Mas logo saiu do Vasco, foi para Portugal e nunca mais ouvi falar. Claro que ao longo do tempo busquei outros ídolos na saída do túnel, mas Dudu ficou guardado em um cantinho da memória afetiva. Jamais esquecerei o dia em que falando sobre velhos ídolos com um motorista de táxi ele disse…”o Dudu sei que anda muito doente e trabalha na Prefeitura de Arraial do Cabo”. Foi impactante. Dudu, doente? Aquele gigante? Impossível! Não falei nada, mas a maquininha do tempo instalada em nosso cérebro foi rebobinando, rebobinando e voltei à arquibancada, um menino e seu ídolo indestrutível. Pouco tempo depois, Marcelo Cortez, parceiro do Museu da Pelada, nos deu o caminho das pedras para encontrarmos um Dudu debilitado, trêmulo, mas com um humor ácido, saboroso. Que resenha! Na companhia do próprio Marcelo e de Da Silva, campeão da Libertadores pelo Olimpia, do Paraguai, rimos e acariciamos nossas almas com doces recordações. Não bebemos porque seu fígado já havia pedido arrego há tempos, mas pude abraçá-lo e agradecê-lo por aqueles momentos sublimes nos estádios. Que felicidade ter chegado a tempo, nem sempre dá. Ontem, Dudu pendurou as chuteiras, saiu de campo e entrou no túnel, o mesmo túnel que eu, ansioso, esperava que surgisse, gigante, imbatível, iluminado.
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