por Valdir Appel
Paulo Mata protagonizou uma cena incomum num campo de futebol e que provavelmente, pela sua ousadia e despudor, abreviaram a sua curta carreira de técnico de futebol.
Dirigindo o Itaperuna, do interior fluminense, em jogo contra o Vasco da Gama pelo Campeonato Carioca de profissionais, arriou as calças no centro do gramado e mostrou sua branca bunda para todos os presentes no estádio em sinal de protesto contra a arbitragem, que segundo ele, prejudicava a sua equipe.
Nunca mais dirigiu time nenhum.
Este baiano já era bom de marketing nos anos 60. Deu charme carioca ao seu sotaque nordestino, lançou moda na zona sul com suas calças altas, camisas de grife e sapatos sem meias. Buscou seu espaço nos campos de futebol com garra e na sociedade com sua irreverência.
Tornou-se fiel escudeiro do zagueiro Fontana, um capixaba culto, educado e carismático, ídolo da torcida vascaína, passaporte para seu acesso aos círculos sociais e de forte referência na mídia esportiva.
Paulo presenciaria os últimos dias de Fontana em São Januário.
Em Salvador, o jogo contra o Bahia foi cancelado por causa das fortes chuvas que caíram sobre a capital baiana. O técnico Paulinho de Almeida liberou uma folga aos jogadores até as 23h.
A maioria voltou no horário, exceto três, que impuseram ao Paulinho uma vigília até às 3h da madrugada na porta do hotel. Aí deu um estalo no treinador que desceu para o bar que ficava no subsolo e…lá estavam: Eberval, Fontana e Moacir. Paulinho ainda teve tempo de ouvir:
– Garçom! Bota mais uma dose de uísque, por favor! Só não identificou o autor do pedido.
No dia seguinte a tensão era grande no ônibus que levaria os jogadores para o treino. Os “exxxpertos” da noite foram os últimos a embarcar.
Uma voz sacana quebrou o silêncio incômodo:
– Pelas minhas contas, cada dose ficou em 60 “paus”!
O cálculo do preço havia sido feito, tomando como referência a multa que cada um teria em seu salário, 40%.
Por falta de opção na lateral, Eberval jogou a partida seguinte e fez um gol de falta na vitória contra o Náutico do Recife. O mineiro Moacir pediu desculpas aceitas pelo técnico.
Fontana ainda resistiu dois meses até criar um novo atrito com o Paulinho de Almeida, quando se recusou a jogar uma partida decisiva contra o Internacional, alegando uma contusão minutos antes de o time entrar em campo.
Foi substituído por Moacir, mantido para a ultima partida conta o Santos. Fontana foi dispensado e negociado com o Cruzeiro.
O Vasco ficou em 3º lugar na competição.
(Taça de Prata, 1968)
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