por Claudio Lovato Filho
Um está no gol
O outro chuta
O que está no gol fala alguma coisa
O outro ri alto
As traves e o travessão formam sombras alongadas na areia
Demarcando o território do qual os dois são donos absolutos
É domingo, e os carros deslizam no asfalto da avenida, se amontoam, se provocam
No calçadão, as pessoas vêm e vão, desviam umas da outras
Um casal pede dois cocos no quiosque
Os meninos invertem as posições
O que estava no gol vai chutar
O que estava chutando vai pro gol (de má vontade)
Em volta deles
A cidade é claridade, palavrório e buzina
E o mundo segue em sua cacofonia de beleza e loucura
Esperança e tragédia
Vida e morte
Um chute
E outro
E outro
O menino que está no gol diz alguma coisa
O outro cai na gargalhada, e responde
Então os dois riem
E riem
E riem
E parece que não vão mais parar de rir
Nunca mais
Parece que vão rir para sempre
Até que decidem que é hora de ir embora
Um deles pega a bicicleta
O outro põe a bola debaixo do braço
Vão para casa
Para seus pratos feitos com arroz, feijão, bife e ovo
Cobertos com um pano sobre o fogão
Os dois se vão de bicicleta pela ciclovia
Gritando
Rindo
Rindo alto
Rindo sem parar
Dois meninos
Dois irmãos.
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