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DOIS MENINOS

29 / junho / 2021

por Claudio Lovato Filho


(Foto: Americo Vermelho)

(Foto: Americo Vermelho)

Um está no gol

O outro chuta

O que está no gol fala alguma coisa

O outro ri alto

As traves e o travessão formam sombras alongadas na areia

Demarcando o território do qual os dois são donos absolutos

É domingo, e os carros deslizam no asfalto da avenida, se amontoam, se provocam

No calçadão, as pessoas vêm e vão, desviam umas da outras

Um casal pede dois cocos no quiosque

Os meninos invertem as posições

O que estava no gol vai chutar

O que estava chutando vai pro gol (de má vontade)

Em volta deles

A cidade é claridade, palavrório e buzina

E o mundo segue em sua cacofonia de beleza e loucura

Esperança e tragédia

Vida e morte

Um chute

E outro

E outro

O menino que está no gol diz alguma coisa

O outro cai na gargalhada, e responde

Então os dois riem

E riem

E riem

E parece que não vão mais parar de rir

Nunca mais

Parece que vão rir para sempre

Até que decidem que é hora de ir embora

Um deles pega a bicicleta

O outro põe a bola debaixo do braço

Vão para casa

Para seus pratos feitos com arroz, feijão, bife e ovo

Cobertos com um pano sobre o fogão

Os dois se vão de bicicleta pela ciclovia

Gritando

Rindo

Rindo alto

Rindo sem parar

Dois meninos

Dois irmãos.

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