por Claudio Lovato Filho
Com ele, sempre foi assim: a personalidade – toda ela – se refletindo no futebol.
Primeiro como jogador: explosivo, atrevido, autoconfiante, incansável.
Assim ele já era em Bento Gonçalves, no time da fábrica de móveis em que trabalhava como montador.
Depois no Esportivo.
E, então, o Grêmio. E o mágico e abençoado ano de 1983.
Libertadores conquistada no Olímpico.
O gol da vitória originado de um lance louco e genial dele: acossado por uruguaios entre a lateral e a linha de fundo, as embaixadas, o balão para a área mais improvável de todos os tempos, mandando a Cesar o que era também de César.
Em dezembro, Tóquio. E o duelo com o Hamburgo, vencedor do confronto europeu contra a Juventus de Platini, Paolo Rossi, Zoff, Boniek, Bettega, Gentille, Tardelli, Scirea, Cabrini.
E ele: corte pra cá, corte pra lá, bola entre o goleiro e a trave, gol.
E ele de novo: corte pra cá, canhota na bola, gol.
Tem gente que cai na estrada e ganha o mundo. Tem gente que fica em casa e ganha o mundo de outra maneira. Quem é mais feliz? Impossível dizer. Ele se foi. Para o Rio, para Roma, para Belo Horizonte.
Rodou, rodou e, um dia, decidiu virar técnico, porque não conseguiria viver fora do futebol.
Amadureceu. Cada vez mais sábio. Mais sereno. Vantagens dos cabelos brancos.
Comandante. Melhor: líder. Melhor ainda: mestre amigo.
Na terceira passagem pelo Grêmio como treinador, o tri da Libertadores, o único brasileiro campeão da Liberta como jogador e como técnico. E pelo mesmo clube.
Parabéns, Renato. Feliz aniversário, Homem-gol. A Nação Azul, Preta e Branca te abraça. O biógrafo Marcos Eduardo Neves não cansa de avisar aos desavisados que o dia do teu aniversário é hoje, 22 de janeiro, e não 9 de setembro. São 59 verões hoje!
Obrigado, Renato, pelo que fizeste pelo nosso escudo. Porque o escudo, como disse o Bielsa, é o que o emociona. Nada é mais importante que o escudo. E tu fizeste e continuas fazendo muito pelo nosso. Ontem, de meias arriadas, correndo pela ponta, como se não fosse haver amanhã. Hoje, na beira do campo, na condição de nosso treinador recordista de partidas.
Quanta coisa ainda está por vir nesta história mágica em três cores? Quanta coisa ainda está por vir nesta história mágica em três cores!(Interrogação seguida de enfática exclamação, claro.)
Porque contigo sempre foi assim, desde os tempos em que chegávamos mais cedo para te ver jogar pelos juvenis, no Olímpico: a expectativa ilimitada pelo que tu nos proporcionaria a seguir. A espera por algo extraordinário fadado a acontecer – saído dos teus pés, da tua cabeça. Às vezes, quando tudo indicava o contrário. Às vezes, quando muitos achavam que tu não serias capaz. Malsabiam eles que, aí sim, era exatamente quando se quebravam.
Sempre assim. Desde os tempos do time da fábrica de móveis, lá em Bento, passando pelos argentinos do Estudiantes, os uruguaios do Peñarol, os alemães do Hamburgo, até o tri da Libertadores, até o jogo do próximo fim de semana, e tudo o mais que estiver a caminho.
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