por Zé Roberto Padilha
Quando o circo chegava, era uma festa. A família toda ia para lá em busca de lazer e diversão. Daí proibiram os animais e o Corpo de Bombeiros exigiu um laudo de prevenção contra incêndios para um teatro erguido sob lonas.
E o palhaço foi perdendo os motivos que tinha para sorrir e os circos nunca mais apareceram por aqui.
Restava para a familia brasileira o circo que trazia sua maior paixão: o futebol. Que bom assistir o Botafogo se apresentar em Três Rios. Gente saindo pelo ladrão e pais mostrando aos filhos: “Olha o Túlio, ali!”.
Colados ao alambrado, radinho de pilhas em uma mão, copo de cerveja na outra, nada de Canal Premiére, o show do intervalo tinha a sabedoria de cada um. Tudo ao vivo. Nem precisava do Júnior ou do Tita para nos explicar o que estava acontecendo.
De repente, viraram as costas para o interior.
Surgiram as arenas, desapareceram os geraldinos. Veio a Fla-TV no lugar do trem que trazia a torcida Fla Subúrbio. Ou você assina o pacote Sky, mesmo sabendo que é cúmplice de um grupo de extermínio do seu clube local, ou fica sem assistir o futebol.
Uma nova arma para aumentar nossa desigualdade social veio a reboque da maior paixão do povo brasileiro. Milhares de clubes fecharam suas portas, talentos foram desperdiçados e oportunidades de trabalho negadas a centenas de trabalhadores.
Ou seu filho talentoso busca entre muitos um espaço no Ninho do Urubu, mesmo que lhe sobrem apenas containers a abrigar tanta gente, ou adormece seus sonhos de menino.
A solução? Menos campeonato brasileiro, quem sabe com 12 clubes, e mais espaço, valor e apreço aos campeonatos estaduais, devolvendo às cidades sua melhor festa do interior.
Está aí a beleza que é a Copa do Nordeste.
Os cartolas poderosos podem matar uma, duas, três promessas do nosso futebol que estão sem competições, jogando bola, como meus netos, ali no quarto pelo Playstation da Fifa.
Mas jamais poderão evitar a Primavera que nos encherá de esperança quando os gramados voltarem a dar frutos e flores de um incontido amor.
0 comentários