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DEPOIS DE BRUMADINHO, O PUXADINHO

8 / fevereiro / 2019


O jornalista esportivo, diante de uma tragédia esportiva, precisa se portar como um legista. Não procurar sair a encontrar culpados, esta tarefa cabe a Defesa Civil, ao Ministério Público e ao Corpo de Bombeiros. Mas diante das suas responsabilidades, calçar luvas, pegar uma caneta fria e buscar a fundo as causas do ocorrido. Seu relatório servirá de base para que as causas do ocorrido sejam conhecidas. Analisadas a fundo, poderão no futuro evitar outras tragédias. O que não podemos, como ex-atleta e jornalista, é nos calar diante desse triste episódio.

No nosso caso, que saímos aos 16 anos para morar numa concentração no bairro da Urca, e percorrer todas as divisões de base do Fluminense, bastaram as primeiras imagens, do helicóptero da Rede Globo, no Bom Dia Brasil, sobrevoando o Ninho do Urubu, para perceber que a fumaça não saía do Complexo Esportivo destinado à administração e ao alojamento dos profissionais. Todos eram protegidos por coberturas de lajes. Pegou fogo nos dormitórios das categorias de base, visto lá do alto um puxadinho, módulos improvisados protegidos por telhados discutíveis.


De cima, seus alojamentos destoavam da harmonia e beleza da obra. Por dentro, deixaram expostos o descaso com que a maioria dos clubes de futebol, por todo o país, ainda tratam as suas divisões de base. Para os Henriques Dourados, Vitinhos, que já não dão mais lucros, pagam os maiores salários e servem do bom e do melhor. Para os futuros Vinícius Jrs, Lucas Paquetás, verdadeiros diamantes a serem lapidados e vendidos a peso de ouro, reservam e acomodam no espaço em que for possível.

As notícias divulgadas pelo G1 não nos deixam mentir para que lado são direcionados os privilégios num CT: “Em 2018 foi inaugurada a nova ala reservada aos profissionais, com novos alojamentos, um parque aquático, academias e a estrutura pré-existente foi deixada para as categorias de base”. Estrutura pré-existente é coisa do passado destinado aos que garantirão o futuro do clube. Até quando?


O segundo laudo traz as responsabilidades indiretas da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro no ocorrido. Ao abandonar o futebol do interior, ajudar com seu descaso o fechamento das ligas desportivas que organizavam os campeonatos, cerceou o crescimento e o amadurecimento dos craques em seu próprio berço.

Se antes um atleta se revelava nos infantis, ele defendia seu clube nos juvenis e disputava os campeonatos amadores municipais e regionais. Somente alguns eram convidados a treinar em clubes grandes. Hoje, todos procuram Xerém desde os 8 anos e muitos se dirigem ao Ninho do Urubu sem alcançar sequer o ensino médio. Todos perdem com isto: os pais, precocemente a companhia dos filhos, a cidade, um dos seus maiores atrativos, e o filtro estreito que acaba fechando o caminho de muitas promessas.

Poucos no universo esportivo, suas vítimas , seus pais e familiares, legistas ou jornalistas percebiam que havia, além do sonho de jogar no Real Madrid ou no Barcelona, ter sua história contada no Globo Esporte, abutres sobrevoando o legítimo sonho treinado em cada ninho por centenas de meninos”.

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