por Rubens Lemos
O brasileiro perdeu o olhar do menino da foto. A imagem é de 1955 e o moleque magrelo estava a dizer calado: “Deixa comigo. Vamos botar a bola no chão e o resto eu resolvo,” para na imaginação soltar o martelo da sua superioridade divina: “É comigo e mais ninguém”.
Pelé chegou ao Santos e, nos primeiros treinos, provou que tudo era com ele, para surpresa de astros do quilate de Dorval, Jair Rosa Pinto, Vasconcelos, Pagão e Pepe, os primeiros mundialmente conhecidos, graças à fama do garoto que saiu a driblar um, dois, três, quatro, cinco, seis, a Via Láctea e as gerações de zagueiros e goleiros do mundo inteiro enquanto chuteiras calçou.
O olhar do brasileiro, porque o olhar é o espelho transmissor da alma, era altivo e superior, tal a face falsamente amena do jovem de canelas finas e repertório infinito.
Enquanto Garrincha ria e o seu sorriso fazia estádios gargalharem no balé de dribles e palmas humanas, Pelé era uma pantera em plantão observando a caça.
E esse olhar é o fato singular que os pobres marcadores temiam, como crianças vendo, pela primeira vez, um filme de terror.
Assombrava o mundo, o rapaz que ganhou uma Copa das três conquistadas, aos 17 anos e oito meses de idade, sem querer saber do poderio dos adversários.
Pelé olhava e seguia, trotando rumo ao gol e à glória. Vimos, hoje, rosto à meio-pau, o futebol com a exclamação das causas perdidas.
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