por Mário Moreira
Época de Copa do Mundo é sempre aquele momento em que pululam dados estatísticos e informações históricas sobre as edições anteriores do torneio. Para contribuir com quem gosta de posar de sabichão, listei algumas curiosidades que não costumam aparecer nos
almanaques.
Por exemplo: a partida com mais gols em Copas do Mundo – qualquer compêndio registra – é Áustria 7 x 5 Suíça, em 54. Mas você conhece a marcha da contagem? Então pasme: aos 19 minutos de jogo, os suíços venciam por 3 x 0. E pasme de novo: aos 34, os austríacos já tinham virado para 5 x 3. Aos 39, os donos da casa reduziram a diferença. Na segunda etapa, os visitantes marcaram mais um aos 8 minutos, a Suíça diminuiu de novo aos 15 e a Áustria fez o último gol do jogo aos 31. Detalhe: pouco antes do intervalo, ganhando por 5 x 4, a Áustria chutou um pênalti para fora – ou seja, o recorde de gols poderia ser ainda maior!
Abaixo desse confronto “épico”, há três partidas com 11 gols: Brasil 6 x 5 Polônia (na prorrogação, após 4 x 4 no tempo normal), em 38; o célebre Hungria 8 x 3 Alemanha, em 54; e Hungria 10 x 1 El Salvador, em 82 (a maior goleada dos Mundiais, fato público e notório). E você sabia que um único jogo registrou exatamente dez gols na história da competição? Pois é. Foi França 7 x 3 Paraguai, em 58.
Já os empates com mais gols terminaram em 4 x 4, nas partidas Inglaterra x Bélgica (em 54, na prorrogação, após 3 x 3 nos 90 minutos) e URSS x Colômbia (em 62). Nesse último jogo, o colombiano Marcos Coll marcou o único gol olímpico já registrado no torneio – ironicamente, em cima do soviético Lev Yashin, considerado, de modo quase unânime, o melhor goleiro de todos os tempos.
Além de ser o único pentacampeão do mundo, o Brasil é o país que mais vezes forneceu o artilheiro da Copa: quatro (em 38, com Leônidas; em 50, com Ademir; em 62, com Vavá e Garrincha, empatados com mais quatro jogadores; e em 2002, com Ronaldo). A Alemanha vem a seguir, com três vezes. Romário ampliaria a lista de brasileiros se a arbitragem não tivesse anulado um gol seu contra os EUA em 94, por impedimento inexistente – ele teria alcançado o russo Salenko e o búlgaro Stoichkov como artilheiro da Copa, com seis gols. (A propósito, o alemão Gerd Müller também teve um gol legal anulado pelo mesmo motivo na final de 74, contra a Holanda. Esse tento o igualaria a Ronaldo como segundo maior artilheiro dos Mundiais, com 15, um a menos que seu compatriota Miroslav Klose, como todo mundo sabe.)
Apesar de jamais uma seleção do Leste Europeu ter ganho um Mundial, a região é pródiga em artilheiros de Copas. Nove jogadores da ex-Cortina de Ferro já atingiram esse feito: dois húngaros, um tcheco, um iugoslavo, um polonês, um búlgaro, um croata e dois da URSS/Rússia. A Europa Ocidental forneceu 11 artilheiros: três alemães, dois italianos, dois ingleses, um francês, um português, um espanhol e um holandês. Da América do Sul, brasileiros à parte, foram dois argentinos, um chileno, um uruguaio e um colombiano.
Além de Ronaldo e Pelé (12 gols), só dois sul-americanos chegaram aos dois dígitos em Mundiais: o peruano Teófilo Cubillas e o argentino Gabriel Batistuta, ambos com dez gols. (Para quem não viu Cubillas jogar, sugiro buscar no YouTube o gol de falta que ele marcou contra a Escócia na Copa de 78, uma verdadeira obra-prima!) Jairzinho, que marcou sete gols em 70 e dois em 74, também poderia estar nessa lista: marcou de cabeça contra a Hungria em 66, mas o gol foi anulado por impedimento – como a imagem da TV não mostra a posição do atacante no momento do passe, é impossível saber se ele tinha condição de jogo. (Na mesma partida, o árbitro anulou um gol húngaro quando já estava 3 a 1 para eles, que foi o placar final do confronto; no caso, a imagem permite ver claramente que o jogador vinha de trás, ou seja, o resultado deveria ter sido uma goleada para a Hungria.)
Já os africanos que mais marcaram em Mundiais jogavam por seleções… europeias: o marroquino Fontaine, artilheiro em 58 com 13 gols pela França, e o moçambicano Eusébio, goleador em 66 com nove, jogando por Portugal. Pelas equipes africanas, o maior artilheiro é o ganês Asamoah Gyan, com seis tentos – teria chegado a pelo menos sete não fosse o famoso pênalti perdido contra o Uruguai no finzinho da prorrogação do jogo pelas quartas- de-final de 2010, o que levou o confronto para a decisão por pênaltis, vencida pelos uruguaios.
Apesar de ser a seleção com mais títulos e artilheiros, o Brasil nunca deu a maior goleada em nenhuma edição da Copa. Nesse quesito, o destaque é a Alemanha, que aplicou o placar mais elástico em cinco Mundiais – incluindo o de 2014, com um certo 7 a 1. Argentina e Hungria deram a maior goleada em três Copas. Na outra ponta, a seleção que mais sofreu o maior placar foi a dos EUA (três vezes), seguida de Bulgária e El Salvador (duas cada). E o placar mais frequente como maior goleada foi 6 x 1, nada menos que seis vezes.
Uma última curiosidade. Você sabia que os laterais direitos brasileiros somam o mesmo número de gols que os esquerdos ao longo dos Mundiais? Acredite: sete para cada lado. Eles empatam até em gols de bola parada: um de pênalti e um de falta para os direitos; dois de falta para os esquerdos.
Pronto: quando o assunto for Copa, você já pode despejar toda a sua cultura inútil para cima
dos amigos.
Mario, vc é uma enciclopédia! Gostei muito. Abração
Cecilia Zioni
Parabéns pela série de interessantes curiosidades de Copas.