por Serginho5bocas
Se há na linha do tempo uma equipe que podemos chamar de moderna sem medo de ser feliz, foi a seleção holandesa da Copa de 74, na Alemanha, comandada por Cruyff. Pode não ter sido campeã mundial, nem a melhor de todas as Copas, mas não tenho dúvidas de que foi a mais inovadora.
Cruyff era o senhor do jogo, aquele que comandava todo o balé, era “o cara”, sobrava na turma e talvez em qualquer turma de futebol neste planeta e em qualquer tempo, pois já nasceu técnico, era o elo com o treinador Rinus Michels, de dentro do campo.
Esse cara era Cruyff, o gênio holandês, o maior jogador de futebol nascido na Holanda em todos os tempos.
Cruyff pode não ter sido o maior de todos, mas com certeza foi o mais versátil, o cara que jogava no campo todo, com inteligência e domínio de todos os fundamentos, um peão que fazia o time girar.
Estava em todos os lugares do campo e fazia todo mundo jogar bem, acompanhando e comandando os movimentos da equipe de longe e, quando necessário, mais de perto, sempre se apresentando para dar opção e demonstrando através de seus passes para gols dos companheiros, um altruísmo acima da média.
Driblava muito bem, tinha uma visão de jogo acima da média e uma velocidade espantosa quando arrancava com a bola, partindo para cima dos adversários.
Foi com certeza o rei dos três dedos, o mestre da trivela, e tudo sem tomar conhecimento da bola, olhava para cima, altivo e elegante, dono de um estilo de jogo monárquico, um deus da bola.
Cruyff foi o rei de sua época, o melhor da década de 70, venceu inúmeros prêmios individuais, mas a sua marca registrada era o jogo coletivo, todos juntos lá atrás se ajudando para ninguém tomar drible ou levar gols e todos juntos lá na frente, para ter e dar opção de jogo a todo instante. Sem contar a linha de impedimento perfeita e as “blitz” que faziam amiúde, roubando a bola dos adversários totalmente perplexos.
Cruyff e a Holanda poderiam jogar hoje, mais de 40 anos após o apogeu, que seria moderno, pois ninguém conseguiu fazer aquilo de novo, em nenhuma época.
Eu não tive a felicidade de vê-lo em ação ao vivo na sua melhor fase, mas ainda pude me maravilhar com lances de DVDs e pela internet que felizmente possibilita a qualquer um rever os melhores lances deste grande jogador.
O confronto da Holanda contra o Uruguai na Copa de 1974 deu a sensação de que os caras de laranja eram de outro planeta. Pela TV dava a sensação de que aquilo tudo era armação, efeitos especiais, mas não era, era futebol puro, completo, coisa de quem sabe das coisas, e muito. Era o jogo que ficaria conhecido como FUTEBOL TOTAL. O que muita gente não sabe, é que aquela formação de time, uma mistura do Ajax com o Feyenoord, nunca havia jogado junto, entraram cinco novos jogadores na estreia da Copa de 1974.
Quem viu aquele cara, o camisa 14 da laranja mecânica, comandando aquilo tudo dentro do campo, teve a noção exata do que ele era capaz.
Cruyff se despediu sem levar o título, mas no jogo final, apresentou ao mundo mais uma de suas jogadas fantásticas, uma amostra do seu imenso repertório. Arrancou do meio de campo em alta velocidade e foi se infiltrando pela zaga alemã, até ser parado com pênalti, que abriria o marcador do jogo. Para se ter uma ideia, a Holanda havia dado a saída de bola, trocou de pé em pé por quase dois minutos sem que a Alemanha tocasse na bola, até que o gênio holandês pintou sua tela, a tela mais bela e surpreendente das Copas, imortal.
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