por Mateus Ribeiro
O futebol precisa de mais um Suárez. Ou não.
Luis Suárez está prestes a completar 30 anos. Quase metade dessas três décadas dedicadas ao futebol profissional. Hoje, pode se considerar um vitorioso, afinal, está no topo. Joga em um dos clubes mais vitoriosos dos últimos anos, ganha um salário astronômico, se ficar desempregado amanhã, terá os maiores times do mundo o disputando na base da foice e do facão.
O atacante uruguaio não chegou onde chegou por sorte, ou por qualquer outra coisa que não seus esforços. Desde o começo de sua carreira, fez gols por onde passou, seja pelo Campeonato Uruguaio, seja pelo Campeonato Holandês, ou pela Liga de Campeões da Europa.
Feitas as devidas apresentações, vamos nos aprofundar um pouco mais, e dissertar um pouco sobre as peculiaridades que tornam o atacante uruguaio um jogador único. E uma personalidade única, também.
Qualquer pessoa que não tenha passado os últimos anos fora do Planeta Terra sabe que Suárez é um dos maiores jogadores da sua geração. E aqui vai uma opinião um pouco polêmica: pode não ser o maior, mas é de longe, o jogador que mais agrada um torcedor que preza valores tão esquecidos, como a raça, a entrega e a determinação.
Explica se: Luis, ou Luisito, como queiram, encara cada partida como se fosse sua primeira (ou a última). Corre feito um animal ensandecido atrás de sua presa durante o jogo todo, disputa todas as bolas, e nunca se dá por vencido. Claro que existem alguns outros jogadores assim, mas no mainstream da bola fica difícil imaginar alguém com tamanha paixão e sangue no olho. Vale lembrar o chilique protagonizado pelo atacante na enfadonha Copa América 2016, quando ao saber que não entraria na partida contra a Venezuela, mostrou um pouco da sua fúria ao mundo. Bom, se vocês não se recordam…
Acontece que esse não foi o primeiro ataque de Suárez. Podemos lembrar facilmente das suas mancadas do passado. Desde as mordidas até o lamentável episódio racista contra o francês Evra. Acontece que até mesmo esse lado obscuro, curioso e de certa forma maluco de Suárez chamam a atenção, ainda mais nessa época de vacas magras, com jogadores plastificados, fabricados para não sentir ou representar emoção alguma. Podemos nos lembrar do jogo conta o Crystal Palace, onde o Livepool deixou escapar a chance do título Inglês, que não vinha (e não veio ainda) desde o início da década de 1990. Caso essa imagem não seja suficiente, voltemos mais ainda no tempo. Mais precisamente, 2010. Quartas de final da Copa do Mundo. Último lance da prorrogação. Tanto o time de Gana quanto do Uruguai estavam praticamente inteiros dentro da área Uruguaia. Um gol ganês naquela altura levaria os africanos pela primeira vez na historia do continente a uma semifinal de Copa. Levaria. Se não fosse a atitude de Suárez, que enfiou a mão na bola para salvar o tento que eliminaria sua Seleção. Expulsão, e penalidade máxima. Choro, desespero, agonia. Todos esses sentimentos foram para o espaço quando Gyan mandou a bola no travessão.
O lance mostrou o garoto Uruguaio para o mundo. Mostrou também como sua gangorra de sentimentos é parte da sua personalidade, quando trocou as lágrimas pelas comemorações insanas após a cobrança de pênalti desperdiçada.
Mesmo com todas essas características, Suárez raramente figura na lista de melhores do Mundo. Talvez por não ter o perfil de integrante de boy band que tanto agrada quem vota e quem apoia a realização desse verdadeiro concurso de marketing, que deveria ser abolido, aliás.
É óbvio que enquanto existirem os outros dois jogadores que se revezam a posição de “melhor do mundo”, nenhum outro jogador vai concorrer seriamente ao prêmio. Muito menos alguém que pouco liga para recordes, que quer apenas e puramente jogar bola.
Suárez possui uma quantidade imensa de sangue no olho e em suas veias, coisa que falta, e muito, para muita gente que é chamada de craque por aí. Pode se dizer que é uma versão melhorada de Carlos Tevez, com pitadas dos momentos do grande Wayne Rooney da década passada. Porém, para a Fifa, a France Football e demais subordinadas de patrocinadores, agrada mais a ideia de jogar holofotes em nomes que soam melhor para a publicidade do futebol do que em quem realmente pensa no coletivo, e não apenas em si mesmo e em números.
Ao contrário de muitos companheiros (de clube e de profissão), Luisito está pouco ligando para sua imagem. Não esquenta a cabeça por ter dentes avantajados, uma aparência que está longe de ser a mais apresentável do mundo, tampouco faz coisas do naipe de pintar cabelo, barba e demais atitudes que são a regra na atualidade.
Não os faz por ser a exceção. Não os faz por não ser midiático. Não os faz por ser um dos últimos dos moicanos. Talvez o último.
O último que trata a bola como seu prato de comida.
O último que encara o futebol como ele deve ser encarado.
O último que mesmo no topo, sempre quer melhorar. Em nome do seu time. Em nome de sua Seleção. Em nome do futebol.
Obrigado por jogar um pouco de sal nessa salada sem gosto chamada futebol.
Que apareça ao menos mais um Suárez por década. Ou não.
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