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CLÁSSICO DOS MILHÕES (EM CASA)

5 / fevereiro / 2021

por Luciano Teles


Dia 04 de Fevereiro de 2020, 21:15. Provavelmente, escrevo já com uns 15 min passados do jogo Flamengo x Vasco, válido pela 34ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2020 (20/21?). Não ouço pelo rádio. Não acompanho pela TV. Estou no meu carro, na garagem do meu prédio. Até o CD player foi desligado.

Portanto, não sei como anda o placar. E não me interessa saber. Depois eu vejo. Na atual situação, meu Vasco luta contra si mesmo, politica e economicamente. Em campo, contra o vice-líder do campeonato. Na vida, lutamos contra um invisível vírus. Mas redes sociais, muitos crendo no anonimato virtual, uns contra os outros. Onde entra o futebol, nesse contexto?

Estou na garagem porque acabo de chegar de Ipanema, onde fui buscar um laudo da médica da minha filha, do qual precisarei amanhã. Ainda na Zona Sul, me lembrei do jogo no Maracanã. Morador da Tijuca, por um momento temi por um engarrafamento na Lagoa, no Túnel Rebouças e na própria Tijuca. E, claro, pensei: Tenho de evitar o Maracanã. Até que…

Até que me lembrei de que o Clássico dos Milhões será com todos os seis dígitos de torcedores em casa. Ninguém nas arquibancadas. Nem uma dezena a ocupar as cadeiras.

Na volta para a Tijuca, me perco em pensamentos, enquanto um The Who ao vivo, de 75, sai do CD player. Até que saio do sinal da estação de São Cristóvão e, ao subir o viaduto Oduvaldo Cozzi, que liga a Radial Oeste à Avenida Maracanã, visualizo o ex-Maior do Mundo. Iluminado internamente, como sempre, noites de jogos. Mas…

Mas nada demais acontece externamente. A iluminação rotineira da rua e de fora do estádio dá visibilidade aos que caminham, correm ou se exercitam calmamente, na calçada do Maracanã. Os carros seguem pelas duas pistas da avenida, num trajeto tranquilo, o qual nem o semáforo da Eurico Rabêlo parece querer interromper. Se mantém verde, assim como o da São Francisco Xavier.

Não pude ver a expressão da estátua de Bellini. Mas tenho certeza de que não observava tudo isso com ar de normalidade. “Noite estranha, com tudo esquisito”, ouso parafrasear Renato Russo.

Segui pela Tijuca. Me lembrei de 13 de novembro de 2019, quando muitos jogadores desse mesmo time do Flamengo enfrentaram um Vasco que não apresentava a mesma qualidade técnica. Muito suor e muita dedicação depois, saindo atrás no placar, logo no início da partida, com duas viradas, os times saíam de campo empatados num surpreendente 4×4! Não sem antes ter a clássica confusão entre os jogadores. Coincidentemente, o jogo era válido pela 34ª rodada.

Naquela quarta-feira, saí do hospital em que trabalho, na Zona Sul, já pelas 19h e enfrentei trânsito de “arder os nervos”, como diria meu avô. Sou muito ligado na minha rotina e acabo me esquecendo de eventos e jogos que possam causar lentidão no trânsito etc. Mesmo em ruas periféricas ao Maracanã, em outro trajeto, o tráfego sofria as consequências do Clássico dos Milhões.

Mas, hoje, é o Clássico dos Milhões que tem sua rotina mudada pela vida. A vida real. A realidade é dos milhões em casa. Dos milhões de infectados e dos milhões que se foram em todo o mundo. O futebol, como tantos outros esportes e atividades, incluindo de trabalho, é um sobrevivente. Que façamos tudo para sobrevivermos e voltarmos à vida, ao jogo da vida dentro das regras como as conhecíamos. Sem nenhum impedimento.

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