do acarajé ao pão de queijo
por Paulo Oliveira
No dia 27 de novembro de 1988, diante de 15.045 torcedores, um ser celestial apareceu na Fonte Nova. Até então o time do Bahia fazia campanha irregular no Campeonato Brasileiro. A derrota de 1 a 0 para o Botafogo na partida anterior fizera o centroavante Renato pedir demissão. E seu substituto, Osmar, não ia bem.
Naquele 17º jogo do campeonato, o técnico Evaristo Macedo resolveu substituir Sandro no último terço do jogo contra o Corinthians por um rapazote de 20 anos, nascido em Itapetinga, cidade a 570 km de Salvador, conhecida por ser a “terra do boi gordo” e por ser bicampeã (1995/1996) do intermunicipal baiano de seleções.
Aos 45 minutos do segundo tempo, Zé Carlos cruza, Marquinhos passa a bola de cabeça para trás e Charles Fabian Figueiredo Santos de costas abre as asas, domina, gira o corpo e bate de primeira. Golaço. Surgia ali o Anjo 45, que ajudaria o Bahia a ganhar o título mais importante de sua história, mas cairia em desgraça 28 anos depois.
Charles mora hoje em sua cidade natal, na Avenida Palmeiras, bairro Morumbi. Até as coisas mais simples em torno dele têm o futebol como referência.
Aos 50 anos, está em forma. Depois de ser demitido do cargo do Bahia, em 2016, voltou a frequentar a academia, perdeu peso – não diz quanto – e aguarda proposta para retornar ao futebol como treinador, “algo que está fazendo falta”.
Não demonstra muito interesse pelas atividades da fazenda, adquirida quando se transferiu para o Cruzeiro, em 1991, no vizinho município de Maiquinique. O pai, Nelson, cuida dos negócios provenientes da criação de gado leiteiro e de corte.
Na casa do ex-centroavante, cujas portas foram abertas para o Museu da Pelada, não faltam fotos e lembranças da vitoriosa carreira, detalhada em uma hora e trinta e dois minutos de conversa. Voltemos ao passado.
DA VÁRZEA AO TÍTULO BRASILEIRO
Charles começou a jogar bola na escola, nos campos de várzea e no Coroas Country Clube. Embora torcesse pelo Bahia, o primeiro time que defendeu foi o Vitória, de Itapetinga, equipe do bairro onde morava. De um rubro-negro para outro, foi para o Flamengo, que disputava o campeonato municipal.
A habilidade no meio de campo, fez Joaquim Ortélio e José Luna Filho, diretores do Bahia, convencerem seu Nelson a deixar o filho fazer um teste no Tricolor. O pai impôs uma condição, mesmo que Charles fosse aprovado no clube, deveria terminar o primeiro ano do segundo grau em Itapetinga. Por isso, a transferência para o clube e para uma escola em Salvador só se concretizou em 1985, cinco meses depois da avaliação.
Ao contrário de que muita gente pensa, não foi Evaristo quem subiu Charles para o elenco profissional. Quem descobriu seu valor no meio da garotada foi “Titio” Fantoni, ex-jogador do Vasco, Lazio e Cruzeiro e técnico vitorioso.
Fantoni transformou Charles em centroavante, argumentando que se ele era artilheiro como meia, faria muito mais gols no comando do ataque. Charles treinou com o elenco principal entre 1986 e 1987. Às vezes, descia para reforçar os juniores. Sem jogar partidas oficiais, viu o Bahia conquistar o tricampeonato estadual, em 1988.
No mesmo ano, surgiu a oportunidade na Copa União, nome oficial do Campeonato Brasileiro à época. E Charles aproveitou. Além do gol contra o Corinthians, o centroavante marcou gols na contra o Criciúma (0x1 – 1/12/88), contra o Santos (5×1 – 7/12/88), foi fundamental na vitória contra o Grêmio (3×1 – 11/12/88) e fez o gol de empate contra o Sport (1×1 – 29/01/1989), na Ilha do Retiro, nas quartas de final, em partidas consideradas decisivas para arrancada ao título.
– Rapaz, foi um jogo difícil. O Sport colocou um a zero e eu empatei o jogo. Ali a gente começou a acreditar que poderia ser campeão. Na Fonte Nova, outra partida parelha. Do final do tempo normal até acabar a prorrogação, eles tiveram duas chances de ganhar o jogo. Ronaldo (goleiro) foi muito feliz, fez duas grandes defesas. A gente passou um “sufocozinho”, mas conseguiu ir adiante porque tínhamos a vantagem do empate! – lembra o 19º maior artilheiro (68 gols) da história do Bahia.
O Fluminense foi o adversário da semifinal. Após o empate sem gols no Maracanã, a Fonte Nova recebeu público recorde de 110.438 pagantes no dia 12 de fevereiro de 1989. Cerca de trinta mil pessoas não conseguiram entrar no estádio.
Washington abriu o placar para o Flu. Bobô e Gil Sergipano viraram o jogo. Torcedores invadiram o campo. O jogo foi paralisado. Quando a partida recomeçou, o Bahia estava ainda mais ofensivo e garantiu a vaga na final.
– Eles fizeram 1 a 0, mas foi aquela situação da gente tomar o gol e ter confiança de que poderia virar. Se você pegar os melhores momentos verá que a gente perdeu muitas oportunidades! – comenta Charles.
SURPRESA
No primeiro jogo da final contra o Internacional, na Fonte Nova, doze dias depois do Carnaval, o pai de santo Lourinho amarrou bonecos com o nome dos jogadores gaúchos em fieira para que os gaúchos não andassem em campo. A mandinga não impediu Leomir de abrir o placar para o Colorado. Trabalho mais eficiente fez Bobô, que marcou dois gols e colocou o Tricolor em vantagem.
O Bahia foi para Porto Alegre para jogar pelo empate. No estádio, Charles e os demais jogadores foram surpreendidos com o que encontraram no vestiário 5:
– A única coisa que me lembro é que tinha um negócio lá de macumba. Ninguém entrou. A diretoria deu ordem para esperarmos. Só depois que o Alemão (José Lourival dos Santos), massagista desfez o trabalho e limpou tudo é que o time entrou para vestir o uniforme. Foi meio corrido, mas a partida não atrasou. – recorda o craque.
A macumba gaúcha, feita com pata de vaca, galinha preta, camarão e erva mate não deu certo.
Charles teve o pressentimento que sua vida iria mudar ao entrar em campo. Nervoso no início, mas relaxado quando a bola rolou, o atacante recebeu o incentivo de Bobô, Paulo Rodrigues e outros veteranos.
– A gente sabia da força do Inter e que ia tomar sufoco em alguns momentos do jogo. Perdi um gol e fiquei abatido. Cheguei a tirar a bola do Taffarel, mas perdi o ângulo. Podia ter consolidado o título bem antes do término do jogo. Se eu marcasse, o Inter teria que fazer dois gols para ir para a prorrogação. Ronaldo foi o principal jogador naquele dia.
Terminado o jogo, o elenco e a diretores do Bahia foram comemorar o título em uma churrascaria. O dia 19 de fevereiro tinha entrado para história
OUTRO CARNAVAL
O elenco do Bahia retornou a Salvador no dia seguinte. Tinham passado doze dias da Quarta-feira de Cinzas, mas os baianos fizeram um novo Carnaval. Dois trios elétricos esperavam a equipe na pista de pouso. Milhares de torcedores se espalharam nos cerca de 30 quilômetros que separam o aeroporto internacional do Farol da Barra.
Charles lembra que embarcou no trio de Dodô e Osmar, onde estavam diversos artistas, entre eles Moraes Moreira. No trajeto, percorrido em oito horas e que lembrou a comemoração do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira, o povo cantava o hino do clube. As pessoas jogavam camisas e outros objetos para os jogadores autografarem. O episódio marcou para sempre o centroavante.
Em 1989, apesar do início alvissareiro – dois gols contra o Grêmio na segunda rodada (Bahia 3×2), e dois contra o Vasco na quarta rodada (2×2) -, Charles teve um problema muscular e ficou quase dois meses parado. O Bahia disputou o “Torneio da Morte”. Por pouco não foi rebaixado.
O Bahia também fez boa campanha no Brasileiro de 1990. Chegou à semifinal, mas foi eliminado pelo Corinthians, que viria a ser campeão.
Charles foi o artilheiro do campeonato e durante muitos anos o único jogador de uma equipe do Norte/Nordeste a conquistar a Bola de Prata, da revista Placar. Em 2016, Diego Souza, do Sport (PE), igualou a façanha.
REVOLTA CONTRA A SELEÇÃO
O título da Copa União levou Charles à Seleção Brasileira, convocado pelo técnico Sebastião Lazaroni. A falta de jogo de cintura da comissão técnica, na visão do jogador, provocou uma revolta popular na Fonte Nova. Charles estreou em um amistoso contra o Peru, em Fortaleza, e fez dois dos quatro gols da seleção. Teve desempenho acima da média em outras três partidas preparatórias para a Copa América. No entanto, foi cortado da competição.
Lazaroni optou por Baltazar, ex-jogador do Grêmio que atuava no Atlético de Madri. Decepcionados, os torcedores baianos que queriam vê-lo contra o Peru, na Fonte Nova, se revoltaram: atiraram ovos nos jogadores e atingiram Renato Gaúcho, vaiaram o Hino Nacional e rasgaram bandeiras. Renato disse que a Bahia “era terra de índio” e Bebeto declarou que tinha vergonha de ser baiano, segundo o noticiário da época.
– Na época, fiquei chateado, sabia que estava em iguais condições diante dos outros. Ele deu preferência a Baltazar. Nos primeiros jogos da Copa América só podia inscrever 20 jogadores, ele tinha 23 no elenco. Fui cortado e houve a revolta. Ele me inscreveu para a segunda fase, mas não cheguei a jogar! – lembra Charles.
O craque baiano também foi convocado pelo técnico Paulo Roberto Falcão. Em sua conta, foram 12 convocações e oito amistosos pela seleção. Apesar de não ter participado de jogos oficiais, Charles disse que o fato de ter sido chamado para o escrete valorizou o seu passe.
Se não atrapalhou o jogador, a revolta fez a CBF retaliar. A seleção brasileira só voltou a disputar um jogo, mesmo assim amistoso, na Fonte Nova, seis anos e três meses depois.
CRUZEIRO E MARADONA
Em 1991, o jogador de Itapetinga conquistou o Campeonato Baiano e foi vendido para o Cruzeiro. De acordo com Charles, o clube mineiro pagou um milhão de dólares por seu passe. Com o dinheiro que recebeu, comprou uma fazenda de gado, que mantém até hoje.
Em Minas, o atleta baiano foi campeão da Supercopa Libertadores, recolocando o Cruzeiro na rota de títulos internacionais 15 anos após a conquista da primeira Libertadores. Lá, também ganhou um novo apelido da torcida: Príncipe Charles
A equipe mineira, depois do título, foi convidada a participar de um torneio na Argentina, com o Racing, Olímpia e Boca Juniors. Na final, contra o Boca, o cultuado Diego Armando Maradona estava assistindo o jogo e se entusiasmou com o desempenho de Charles. Os argentinos venceram por 2 a 1. Mas Dieguito manteve seus planos.
Ainda no hotel portenho, o brasileiro foi contatado pelo empresário e por um advogado de Maradona. Eles disseram que o Cruzeiro tinha aceitado a proposta de um milhão e 250 mil dólares e negociaram o salário com Charles, cujo passe passou a pertencer ao craque argentino. Em seguida, foi cedido ao Boca Juniors.
Foram apenas três jogos no Boca. O baiano não se adaptou ao jogo aéreo nem às botinadas dos hermanos. O frio e nova contusão foram os outros adversários. Ao se recuperar após três meses no “estaleiro”, Charles foi emprestado ao Grêmio.
– Convivi muito pouco com Maradona. Ele tinha a vida dele! – resume
Na equipe porto-alegrense, Charles ficou um ano. Não foi bem, mas o tricolor comemorou o título gaúcho de 1993.
PASSAGEM PELO FLAMENGO
No ano seguinte, Maradona emprestou seu jogador para o Flamengo. Lá, ele ganhou o apelido de Charles Baiano para diferenciá-lo de Charles Guerreiro. Acrescentar o gentílico ao nome dos atletas da Bahia que passam pela Gávea é uma espécie de tradição rubro-negra: Júnior Baiano, Toninho Baiano, Fábio Baiano…
Apesar de ter sido o artilheiro do Campeonato Carioca, ao lado de Túlio, do Botafogo, Charles ficou só no cheirinho. O Vasco foi tricampeão.
Para receber os salários atrasados, Charles Baiano entrou com ação na Justiça. Fez acordo e o pagamento foi feito em parcelas.
Outro episódio marcante em sua passagem pela equipe carioca foi a disputa do torneio da Malásia, no qual o Flamengo empatou com a seleção da Austrália, derrotou Leeds United, venceu o Bayer de Munique e foi campeão.
No jogo contra a equipe alemã, a carreira de Charles começou a entrar em declínio. O título da competição ficou em segundo plano, o ex-jogador lembra apenas da contusão no joelho direito:
– Eu me machuquei em um lance isolado. A cirurgia que eu fiz me deixou quase dois anos sem jogar. Quando voltei, não fui mais o mesmo jogador, não conseguia mais render. Tive um monte de contusões musculares, uma atrás da outra! – relata.
FIM DE CARREIRA
Em 1996, Charles voltou ao Bahia. Disputou poucos jogos pelo Brasileirão. Jogava duas, três partidas, machucava. Não suportava mais a sequência de jogos.
Foi parar na Matonense, em São Paulo, contratado pela Federação Paulista de Futebol, que cedeu jogadores com passagem pela seleção brasileira para times do interior paulista. Contusões seguidas nos músculos da coxa fizeram ficar apenas três meses no interior de São Paulo.
Os últimos clubes foram a Desportiva Ferroviária (ES) e o Camaçari (BA). Encerrou a carreira profissional após 12 anos, os três últimos “tentando jogar”.
Charles considera que os dois melhores técnicos que teve foram Evaristo Macedo, no Bahia, e Ênio Andrade, no Cruzeiro. Os maiores elogios, porém, vão para o técnico que o lançou no Brasileirão:
– Seu Evaristo foi fundamental para mim. O jeito dele falar era muito duro. No fundo, a gente sabia que ele gostava da gente, queria nosso bem. A princípio, a gente ficava chateado, mas depois via que ele sempre tinha razão. Ele passava toda experiência que teve no futebol. Cobrava muito. Pela cobrança dele, a gente sempre estava querendo chegar no limite, dar o máximo. Não podia se poupar nem em treinamento.
A descrição revela quem inspirou Charles no momento em que ele resolveu ser treinador.
SURGE O TÉCNICO
Os cinco primeiros anos a partir do convite feito por Bobô, amigo e superintendente tricolor, para seu companheiro assumir como técnico da categoria de base foram tranquilos. A situação começou a mudar quando Charles aceitou a ser interino da equipe principal após rebaixamento para a terceira divisão nacional.
Com o centroavante campeão de 88 no comando, o Bahia foi eliminado na primeira fase da Copa Brasil pelo Ceilândia (DF). Em oito jogos no Baianão, Charles acumulou três vitórias, cinco empates e uma derrota. O arquirrival Vitória foi campeão.
Na oportunidade seguinte, nova interinidade a partir da quarta rodada da primeira fase da Série C. Após 15 jogos e a classificação para o octogonal final, duas derrotas e um empate derrubaram Charles. Ele foi substituído por Lula Pereira, que não conseguiu tirar o Tricolor da vala.
Charles tentou se firmar como técnico no Votoraty (SP) e no Icasa (CE). Em 2009, acertou com o Camaçari (BA), mas o convite para assumir a secretaria municipal de esporte de Itapetinga o fez se afastar do futebol profissional.
O maior problema enfrentado como gestor foi administrar o orçamento reduzido da secretaria. Mesmo com parcos recursos, Charles diz que revitalizou o campeonato municipal, suspenso há quatro anos; montou a seleção do município e voltou a disputar o Intermunicipal; e organizou os campeonatos de bairros e de escolinhas.
CORINGA EM MOMENTOS DE CRISE
Em 2013, o jogador que tinha dado muitas alegrias à torcida tricolor foi chamado para ser treinador da equipe sub-20. Campeão baiano no ano seguinte, voltou a ser cogitado como solução em momentos difíceis.
O primeiro deles ocorreu em 28 de julho de 2014. Marquinhos Santos foi demitido e a negociação com Gilson Kleina foi por água abaixo. Transformado em treinador apenas com a experiência que tinha nos gramados – o curso de técnico da CBF e o estágio no Bayern de Munique só ocorreram mais tarde – Charles nunca teve medo de desafios.
Na nova interinidade, contabilizou vitória contra o Goiás e empate com Palmeiras na Série A. Venceu também o Corinthians (1×0) pela Copa Brasil, mas foi eliminado porque o time paulista ganhou a partida de ida por 3 a 0, quando Marquinhos Santos ainda era o treinador.
Os bons resultados, não impediram seu afastamento 17 dias depois. Kleina tinha se entendido com o Bahia.
O cartel do curitibano acumulava seis vitórias, sete empates e dez derrotas, quando ele pediu demissão. Kleina foi embora, deixando o Bahia na 19ª posição e com 92% de probabilidade de rebaixamento.
Adivinha o que aconteceu? Charles reassumiu a cinco rodadas do final do campeonato. As vitórias sobre o Criciúma e o Grêmio não foram suficientes. As derrotas para o Corinthians, Atlético-PR e Coritiba empurram o Tricolor para a segunda divisão.
Após o último jogo, em Curitiba (PR), Charles desabafou:
– Eu posso relacionar 23 jogadores, mas sabe porque só vieram 18? Porque teve jogador que se encostou no departamento médico e resolveu não sair mais. Tem jogador que falou que não ia mais (jogar) porque o time ia cair. Então esses 18 que vieram são homens. Os que ficaram, que fizeram isso com o Bahia, são covardes. O Bahia não merece esses caras.
Nos bastidores do clube, a declaração não agradou. Os dirigentes pretendiam esconder o fato para não desvalorizar os “covardes” em futuras negociações – os irmãos argentinos Maxie Emanuel Bianchucci, primos de Messi, estariam entre eles. O clima não estava bom, mas Charles foi mantido como assistente técnico.
O presidente Marcelo Sant’Anna contratou Sérgio Soares, ex-treinador do Avaí e do Ceará, para tentar voltar à série A. Soares ficou no cargo dez meses e 16 dias. Uma sequência de cinco jogos sem vitórias causou a demissão dele.
Charles Fabian, auxiliar de Sérgio, concordou em ser técnico mais uma vez. Não recebeu reajuste salarial, não assinou contrato, não tinha cláusula de rescisão. Além dos problemas em campo, enfrentou a insatisfação de alguns jogadores.
Ávine, promovido dos juniores por Charles, chegou a declarar que o campeão de 88 teve o nome rejeitado em uma reunião com os atletas. Houve desmentido, mas o mal-estar permaneceu.
– Jogador de futebol só está satisfeito quando está jogando. Quando está na reserva, sempre arruma um defeito. Arruma defeito no treinador, na diretoria, no preparador físico, arruma defeito em todo mundo, menos nele. Sempre foi assim. Eu também fui assim. – avalia Charles atualmente.
ANJO DECAÍDO
Com tantas dificuldades, o Tricolor terminou a temporada em nono lugar. Mais um ano na segunda divisão. Ao se reapresentar, em janeiro de 2016, o Anjo 45 decaiu. Foi demitido com a alegação de maus resultados.
Foram três meses de silêncio, longe das peladas, sem ver jogos do Bahia, refugiado com a família. O craque precisava curar as feridas. Deu entrevista para Globo, apresentando sua versão – não havia desentendimento com os jogadores, desacreditou Ávine e falou que se houve complô os jogadores foram burros.
Também disse que estava magoado, que pensaria duas vezes antes de voltar para o clube e assumiu a culpa por sempre ter agido com o coração em defesa do time. Emocionado, chorou durante a entrevista.
Na entrevista para o Museu da Pelada, o ídolo da torcida tricolor afirmou que o motivo de sua demissão foi a declaração dada após o jogo contra o Coritiba, em 2014, e que o resultado de 2015 foi só pretexto.
– Muitas pessoas não imaginam o que eu passei. Recebi agressões verbais e as pessoas mandaram mensagens para o seu celular me xingando. O clube não teve um pingo de consideração. Simplesmente por não conseguir um resultado, você é jogado na lata do lixo. Infelizmente, não há reconhecimento pelo que você fez. Infelizmente é assim no futebol! – declarou.
Em outubro, ensaiou o retorno ao futebol. Contratado como técnico do Anápolis (GO), da Série D, fez um acordo e deixou a equipe após dois jogos.
TRINTA ANOS DEPOIS DO TÍTULO
Os amigos que fez no futebol, principalmente os jogadores da equipe de 1988, lhe ajudam a esquecer os maus momentos. Atualmente, se comunica diariamente com os companheiros em um grupo de WhatsApp chamado “Campeões de 88”.
Charles, Bobô e companhia estão as voltas com a preparação da celebração dos 30 anos do título Brasileiro, a ser comemorado ano que vem, já que a final com o Inter ocorreu em fevereiro de 1989. A programação ainda não está definida. No entanto, segundo Charles, existem muitas ideias. Este ano, alegando contratempo, ele não compareceu ao evento anual que reúne jogadores e diretoria.
– No ano que vem estarei lá! – promete.
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