por Idel Halfen
Pela 5ª vez o sonho do hexa não se concretizou e, assim como ocorreu nas vezes anteriores, a caça aos culpados tornou-se a atividade mais popular por parte dos torcedores e da imprensa esportiva.
“O técnico errou ao estabelecer a ordem dos batedores dos pênaltis, jamais o melhor na função, supostamente o Neymar, deveria ser o último a cobrar”.
“O técnico errou ao não recuar o time para garantir o resultado após ter feito 1 x 0”.
“O técnico errou ao escalar um time todo reserva no jogo contra Camarões, pois o resultado ruim transmitiu confiança aos adversários”.
Mas o que falariam se o Brasil tivesse vencido a partida?
Não podemos ignorar que se o Neymar batesse o primeiro pênalti e errasse, seria bem provável que a confiança dos demais ficaria abalada.
Não podemos ignorar que, ao se jogar recuado, o adversário passa a ser mais ofensivo, o que pode incorrer no vazamento da defesa, ainda que essa esteja mais protegida.
Não podemos ignorar que o ato de poupar jogadores minimiza o risco de contusões e punições disciplinares.
Mas ignoramos isso tudo em nome da caça aos culpados, ou responsáveis, como queiram.
E aqui reside o ponto que pretendo abordar: a prepotência das pessoas em se acharem capacitados em assuntos que necessitam de um conhecimento muito maior do que o que efetivamente possuem, sendo que, mesmo que detivessem todo esse conhecimento, a certeza prévia é impossível por se tratar de uma atividade na qual o imponderável é bastante presente.
O tão criticado técnico, seja ele quem for, acompanha treinos, tem uma equipe que o municia sobre o estado fisiológico e psicológico de cada jogador e consegue ser bem remunerado exercendo tal atividade. Será que nós – sim eu me incluo entre os críticos – sem acompanharmos os treinos, sem informações e sem sermos bem ou nada remunerados em função do futebol, temos como atacar de forma peremptória as decisões do treinador?
A resposta parece fácil: evidente que não, ainda que tenhamos o direito a opinar.
O futebol, no caso, serve apenas como um exemplo para nos fazer refletir o quanto pecamos em outras áreas ao nos apegarmos à busca por se ter razão a qualquer custo, negligenciando que esse tipo de atitude traz consigo um risco enorme à própria credibilidade.
Na vida corporativa, por incrível que possa parecer, é comum ver profissionais criticando decisões em assuntos que julgam conhecer, mas cuja capacitação não passa de mera retórica.
Aliás, até na vida pessoal essa postura se manifesta usualmente. A preferência por ter razão, além de não deixar a pessoa evoluir, já que fica arraigada à sua convicção, ainda faz com que fique evidente sua limitação, insegurança e o pior, que sejam “evitadas” em diálogos, conversas e demais situações de interação, afinal, estarão sempre “certas” ou “sertas”.
Evidentemente que o assunto poderia ser explorado com muito mais exemplos até mesmo em relação à Copa do Mundo, porém, creio continuaríamos sem poder precisar o que levam as pessoas a transformarem suas convicções em certezas absolutas.
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