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CENTENÁRIO DO FLAMENGO

23 / outubro / 2023

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O futebol do Flamengo viveu no seu centenário um dos momentos mais turbulentos da história do clube mais popular do Brasil. O centroavante Romário, repatriado no auge, logo após a conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira, chegou não como a grande personalidade do futebol, mas sim do país. Famoso, poderoso e intocável, o ‘Baixinho’, eleito o ‘Número 1’ do planeta, fez um pedido. Queria a seu lado Edmundo, do Palmeiras, melhor atacante em atividade no país. Surgiu uma forte e influente corrente contrária à contratação, devido à profunda identificação do ‘Animal’ com o Vasco, mas a vontade do camisa 11 prevaleceu.

A Nação Rubro-Negra lotou as ruas para receber Romário em janeiro de 1995 e repetiu o feito quatro meses depois, parando o Rio para celebrar a chegada de Edmundo. O craque chegou de jatinho, encontrando um Santos Dumont invadido por torcedores. Da pista, precisou entrar em um helicóptero que o levou direto à Prefeitura, onde recebeu as ‘chaves’ da cidade.

O Circo Garcia, em plena atividade na Praça XI, cedeu alguns de seus animais para desfilarem no carro aberto que conduziu Edmundo, atrás da viatura do Corpo de Bombeiros. O bicampeão paulista e brasileiro pelo Palmeiras acenava feliz da vida para todos os cariocas. Ao passar por Copacabana, surgiu no calçadão um barrigudo, de bermudas e camisa rubro-negra, dançando, gritando e fazendo gestos de vitória com as mãos. Era ninguém menos que Bussunda, estrela do ‘Casseta & Planeta’, que no ano anterior apresentou seu programa televisivo direto da Copa dos Estados Unidos para a TV Globo.

O valor do passe de Edmundo? Seis milhões de dólares. Na época o nosso real estava forte, pareava com o dólar. O consórcio Plaza forneceu o dinheiro em troca de um Shopping Center na Gávea, mas este nunca foi construído. Na Justiça, mais de vinte anos depois, o Flamengo fez um acordo. Porém, teve de pagar R$ 60 milhões.

Na estreia, Edmundo fez gol no empate em 1 a 1 com o Guarani, de Campinas, no Estádio José Fragelli, em Cuiabá. Jogou com a camisa 11 do ‘Baixinho’, que vestiu a 100, em homenagem ao Centenário do clube. Sávio vestiu a 10 de Zico. Estava formado o ‘Ataque dos Sonhos’, logo chamado de ‘Melhor Ataque do Mundo’.

O Flamengo seguiu para uma excursão à China. Antes de uma atividade de dois toques, Romário e Edmundo bateram o par ou ímpar para escolherem as equipes. De repente, acabaram discutindo feio e partindo para a briga. Foram separados pelo assessor de imprensa Rodrigo Paiva. Tal discórdia entre os astros começou a afetar o rendimento do time em campo. Se alguém passasse a bola a Edmundo desagradava Romário, e vice-versa. Resumindo, a guerra de egos engoliu o ‘Ataque dos Sonhos’.

Depois de perder o Campeonato Carioca para o Fluminense naquele mítico gol de barriga marcado por Renato Gaúcho, competição que Edmundo não pôde jogar por ter perdido o prazo de inscrição, o Brasileirão começou com ele já legalizado para honrar o manto sagrado. Apesar dos diversos investimentos, por pouco o clube não foi rebaixado. Para se ter ideia, apenas com Romário, Edmundo e Bebeto, que retornou à Gávea em 1996, o clube movimentou mais de dez milhões de dólares.

O vai-e-vem era intenso. Ao chegar Bebeto, Romário, que queria reinar sozinho, voltou à Espanha. Quando seu ex-parceiro de ataque no tetra deixou o clube, o Baixinho retornou. Campeões do mundo, como Branco e Ronaldão, vinham e iam embora. Sávio aceitou proposta do Real Madrid e Edmundo se mandou para o Corinthians antes de voltar à cidade para se consagrar no Vasco.

Na época, o Flamengo não estava estruturado para receber e cumprir seus compromissos com o então melhor jogador do mundo. O clube deveria ter lhe proporcionado um time e elenco mais forte, com o qual poderia tirar melhor proveito da sua genialidade em campo.

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