por Zé Roberto Padilha

Caro Presidente. Bom dia.
Sei que não foi formado nas divisões de base do clube, muito menos teve como mestres Zezé Moreira, Píndaro, Pinheiro e Telê Santana. Desse jeito, fica mesmo difícil explicar o que é ver crescer, dentro de você, o amor pelo Fluminense.
Eu, e minha geração, com Abel, Nielsen, Rubens Galaxe, Cleber, Pintinho, Edinho chegamos ao clube aos 16 anos. E o deixamos com 24 anos. Percorremos cada vestiário, bar do Fidelis, cantinho do Ximbica e Salão Nobre, com vitrais franceses.
Mais do que títulos, nos formamos em dignidade, respeito ao clube, aos adversários e à profissão. Jamais fomos expulsos de campo porque fidalguia e gentileza caía na prova. Além de jogadores, nosso clube formava homens. Cidadãos do bem.
Esse legado, de Preguinho, Valdo e Denilson, de tão nobre, não encontrou ainda uma palavra que explique a você, presidente, o que é, de fato, ser Fluminense.
Por ter essa essência estampada na alma, não nas bets, no balanço e distribuição de lucros, como na Petrobras, é que se torna impossível, acredite, ao Fluminense se tornar um clube empresa.
O nosso lucro sempre foi buscado durante os 90 minutos. Não na venda de um Luiz Henrique e Almada, porque Textor corre atrás de lucros. E joga no lixo e descarta um time quase imbatível. Entrosado. E entrosamento vem com o tempo, dentro de campo. Não na Bovespa.
Definitivamente, pergunte ao Pedrinho, SAF combina com RedBull Bragantino. É o produto à frente do clube. De clubes que se unem e trocam mercadorias, não jogadores. E formam atletas frios e calculistas que passam a beijar a logo, não ao escudo.
Caro Presidente, esqueça a SAF. Dê uma volta na sala de troféus e veja o quanto minha geração conquistou, por amor ao clube e respeito a nossa camisa. E por aí deixaram suor e levaram gratidão e saudades de volta.
O ser Fluminense transcende o ser lucrativo que toda empresa busca. Ele vai além porque carrega a paixão, a tradição pelas ruas, cidades e arquibancadas por todo o nosso país. Tente, hoje, ser diferente. No lugar de ir ao seu gabinete encontrar investidores, vista nossa camisa e dê uma volta correndo em torno do campo.
Jamais vai sentir a emoção que senti quando Rivelino, no final da prorrogação, soltou uma bomba, venceu o País, e conquistamos a, então, cobiçada Taça Guanabara sobre o América. Há 50 anos, com a Máquina Tricolor.
Mas você vai perceber um vazio. Um silêncio danado à sua volta. Porque do cofre de uma SAF só sai dividendos. Porque da torcida, única e envolta pelo pó-de-arroz, historicamente só sai amor ao clube.
Uma pena que você, que não recebeu essa energia dentro de campo, continue a pensar que ações poderão substituir essa bonita e inexplicável paixão. Entender o que Francisco Horta percebeu mais do que você.
Vencer ou vencer, não render ou render.
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