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CAMPEÕES DE FANTASIA

23 / junho / 2024

por Péris Ribeiro

Moreira, Cao, Zé Carlos, Leônidas, Waltencir e Carlos Roberto,  em pé; Rogério, Gérson, Roberto, Jairzinho e Paulo Cézar Caju, agachados.Este é o timaço do Botafogo, bicampeão carioca em 1967/68. O “Tri Mundial”de Caracas, no entanto, acabou solenemente ignorado pela FIFA

Pode não parecer uma explicação definitiva – ou a mais coerente de todas. No entanto, é comum muitos clubes optarem por contar a própria história – e então decidem contá-la, quase sempre, à sua maneira. Uma transgressão que leva a imediatas – e esperadas – distorções, já que vários números por eles apresentados, fatalmente acabam se chocando com a dura realidade dos fatos. Daí uma série de conquistas, de alguns dos maiores clubes do mundo, se verem inapelavelmente contestadas – ou, até mesmo, não reconhecidas.

O Fluminense do Rio, por exemplo, até hoje se considera vencedor de três Torneios Rio- São Paulo, quando, na realidade, venceu apenas dois – foi campeão em 1957 e 1960. Explica-se. A edição de 1940 da competição não foi até o fim, sendo paralisada antes da fase decisiva, devido ao pouco interesse do público e ao consequente prejuízo nas bilheterias. Porém, como a dupla Fla-Flu era líder do torneio até ali, o Fluminense decidiu, apressadamente, autoproclamar-se campeão – o que o Flamengo se recusou a fazer.

Aliás, outro fato semelhante veio a ocorrer 12 anos depois, quando realizou-se a disputa da II Copa Rio. Na verdade, um torneio internacional de importância comprovada, com a presença, inclusive, do Peñarol, campeão uruguaio – e recheado de jogadores que haviam ganhado a Copa do Mundo, realizada no Brasil dois anos antes, em 1950. Porém, aquela era  uma competição que, mesmo com times da Europa e da América do Sul, jamais foi considerada um Mundial de Clubes – muito menos, pela FIFA.

O que não impede o Fluminense – campeão da competição, ao vencer o Corinthians por 1 a 0, no primeiro jogo decisivo, empatando o segundo em 2 a 2 – de pensar de maneira diferente. Tanto que se autoproclama, oficialmente, “Campeão Mundial Interclubes” de 1952.

Por falar nisso, tal comportamento é o mesmo adotado pelo Palmeiras de São Paulo, vencedor da I Copa Rio, em 1951. Uma façanha celebrada, até hoje, com grande vibração pelo clube alviverde – que se considera, oficialmente, o primeiro “Campeão Mundial Interclubes” da história.

Aliás, pouco importa aí a determinante – e definitiva – decisão da FIFA, afirmando não reconhecer nas conquistas de palmeirenses e tricolores edições de um pretenso Campeonato Mundial entre clubes. O que as duas agremiações brasileiras, evidentemente, demonstram jamais aceitar como uma resolução irrevogável. Ainda mais, partindo da principal Entidade do futebol internacional.

                                       O delírio, em lugar da verdade

No entanto, o que parece ainda mais surrealista em toda essa história – tornando os fatos, inclusive, cada vez mais inverossímeis -, são os seguidos desmandos perpetrados por vários e vários clubes de todo o mundo, no que se poderia chamar de uma típica “forçação de barra”. Por sinal, tais desmandos se veem expostos de forma ainda mais desavergonhada, no exato instante em que tais clubes tentam, despudoradamente, atribuir a si próprios importantes conquistas que jamais obtiveram. Quando não, títulos que jamais conseguiram.

É o caso específico, para não ir mais longe, do Botafogo do Rio, que ao ganhar, por três anos consecutivos, o Torneio Internacional de Caracas – realizado por volta da década de 1960 -, resolveu exigir da FIFA que o considere “Tricampeão Mundial”. Certamente, numa delirante alusão ao antigo torneio realizado na capital da Venezuela, em plenos Anos 1950, e que foi denominado pomposamente pelos seus organizadores, de Pequena Taça do Mundo de Caracas. Normalmente, um Quadrangular disputado por clubes da Europa e da América do Sul.

Por sinal, até o poderoso Real Madrid – recordista absoluto, no quesito grandes conquistas internacionais – chegou a cair nessa armadilha. A ponto de catalogar como oficiais, os títulos que ganhou nos anos de 1952 e 1956.

Explica-se. Campeão em 1952, na primeira edição da competição, e novamente campeão em 1956 – já então, podendo escalar Di Stéfano, Kopa, Rial, Gento e Cia -, o Real se tornou o clube mais vezes campeão da badalada Pequena Taça do Mundo. E, empolgado pelo fato de haver vencido uma competição fora da Europa naquela época, passou a anexar aqueles dois títulos de maneira oficial por vários anos. Um fato que só foi corrigido recentemente, com as duas Pequenas Taças do Mundo de Caracas passando a fazer parte, tão somente, da lista dos torneios amistosos vencidos pelo Gigante de Madrid.

Por fim, o que podemos afirmar seguramente é que, mesmo sendo tentadora – mas condenável, sob todos os pontos de vista -, a estranha mania de os clubes contarem à sua maneira a  própria história, continua se espalhando mundo afora. Infelizmente!

E é isso, por sinal, que anda fazendo com que a grandeza de alguns clubes – todos eles, centenários e vitoriosos, e reconhecidos internacionalmente -, acabe entrando no perigoso terreno da contradição. Com a sua história, inclusive, até mesmo sendo posta em dúvida.

Triste, não?

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