por Pedro Henrique Gomes
A extraordinária jornada do Bangu pelas terras do Tio Sam
Era 1960 e ninguém quis representar o Brasil num torneio internacional de Football sediado na cidade de Nova Iorque por medo de represálias das federações locais de futebol. Fluminense, Botafogo, Santos e Palmeiras renunciaram ao torneio e o Bangu, vice-campeão carioca em 1959, assumiu a missão de ser o embaixador do futebol em terras estadunidenses. Contra os interesses da federação de futebol do Rio de Janeiro e sob críticas dos jornalistas de plantão, Bangu mandou seu jovem time para o torneio e colocou a equipe de juniores para disputar o campeonato carioca daquele ano. O jovem Ademir da Guia e o clube proletário foram as sensações do torneio numa campanha invicta contra os grandes campeões do território europeu.
Para incentivar a prática futebolística nos EUA, o International Soccer League foi um Torneio Mundial de Clubes realizado em Nova Iorque e disputado entre 1960 e 1965. A primeira edição foi realizada durante os meses de maio, junho e julho de 1960. Autorizada pela FIFA e sob a supervisão de Stanley Rous, então presidente da Associação Inglesa de Futebol, secretário-geral e vice-presidente da FIFA, o torneio teve como referência a Copa do Mundo de Seleções e foi jogado por boa parte do campeões nacionais dos países que disputaram a Copa do Mundo de 1958, quando o Brasil se sagrou campeão pela primeira vez.
O texto que vos escrevo é uma tentativa de mostrar a trajetória de um campeão à revelia que encantou o público em terras estrangeiras, foi denunciado para a justiça desportiva e foi bastante criticado pela imprensa local. O Bangu, clube proletário e suburbano carioca, foi rebelde no cenário futebolístico em 1960. Por meio de notícias do Jornal dos Sports, tradicional periódico da cidade do Rio de Janeiro, será narrado alguns episódios da jornada heroica alvirrubra.
Uma viagem à revelia
Antes de qualquer coisa, vale explicar a mencionada infração do Bangu frente às determinações da Confederação Nacional de Desportos (CND). Na época, a CND proibia a participação dos clubes futebolísticos em eventos paralelos aos campeonatos locais e regionais. Não era permitido colocar o Campeonato Carioca e o Torneio Rio-São Paulo em segundo plano. Existia punição por meio de multa e o clube era julgado pela justiça desportiva para a definição de outras punições. O Bangu questionou as determinações, aceitou o convite para disputar o torneio e foi julgado.
Na época, leitores do Jornal dos Sports enviavam cartas com críticas ferrenhas ao clube proletário. Em duas delas, é possível entender parte das razões. Numa crítica publicada em 04/08/1960, na página 03, do referido periódico, intitulada O Medo de Punir, um leitor discutiu e defendeu a punição do Bangu em prol da valorização dos campeonatos locais e da ordem estabelecida na CND. Porém, reconhecia que dificilmente o clube seria punido em razão da elasticidade das leis desportivas. Segundo o leitor, “é preciso impedir que o fato se repita. Ou pela penalização severa do Bangu, que parece difícil em face da elasticidade do Código Brasileiro de Football ou pela proibição que existe mas sem punição prevista no regulamento da federação”.
Em outra crítica publicada no dia 05/08/1960, intitulada O Sentido do Campeonato, o leitor denunciava a desvalorização dos campeonatos locais pelos clubes em virtude das viagens para excursionar em vários países denominada por excursões caça-níquel. Tal atitude deixava os jogadores cansados nas vésperas da estreia nos campeonatos locais. Para o leitor, “o campeonato é a atividade sagrada dos clubes. Ou devia ser se fossem respeitados não só os regulamentos como, principalmente, o ideal do esporte”. De certa forma, a denúncia era fruto de uma preocupação dos torcedores e dirigentes num contexto marcado pela emergência do futebol brasileiro após a sua primeira conquista mundial com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. Os clubes brasileiros eram cada vez mais convidados para jogar fora do território nacional, o que gerava rendimentos financeiros para os mesmos, e isso poderia gerar a desvalorização dos tradicionais campeonatos locais. Para muitos, a atitude do Bangu foi considerada uma subversão do esporte, um desinteresse pela competição e o público local. Em razão disso, o clube foi julgado no dia 05/08/1960 e foi isento de culpa. O caso foi considerado um problema administrativo da federação e seu regulamento.
Na imprensa carioca, além das cartas enviadas pelos leitores, os colunistas do Jornal dos Sports travavam grandes debates sobre o acontecido. Muitos jornalistas consideravam que a aventura do jovem time do Bangu seria marcada por derrotas e prejuízos financeiros. Entretanto, outros reconheciam os feitos da equipe alvirrubra e elogiavam a campanha. Um exemplo era o jornalista Nelson Rodrigues. Apesar de críticas iniciais, Rodrigues publicou textos com destaques para a campanha do Bangu. No dia 04/08/1960, na coluna Dá Bom Dia, é publicado o texto intitulado A Estrela do Bangu, marcado por ideias ufanistas. A equipe do Bangu e sua vitoriosa trajetória representava, juntamente com o primeiro título mundial da seleção brasileira, o rompimento do complexo de vira-latas e a emergência do sentimento de valorização de ser brasileiro. Segundo Rodrigues, “é nas partidas internacionais que o sujeito sente a conveniência de ser brasileiro. Agora mesmo, amigos, agora mesmo! O Bangu está nos Estados Unidos representando o nosso football. E não apenas o nosso football: — representando o Brasil. A meu ver, um team patrício no exterior é a própria pátria de calções e chuteiras, é a própria nação dando botinadas. E justiça se lhe faça. O Bangu anda realizando milagres, lá fora”.
Uma campanha extraordinária
Diante do contexto de polêmicas e elogios, precisamos destacar a excelente campanha do clube proletário da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. A equipe teve cinco vitórias e um empate com a seguinte formação: Ubirajara, Joel, Darci Faria, Zózimo, Ananias, Nilton dos Santos, Luis Carlos, Zé Maria, Correia, Ademir da Guia e Beto. O craque do Torneio Mundial de Clubes foi o jovem Ademir da Guia com 18 anos.
A campanha iniciou-se no dia 04/07/1960 com uma sonora vitória de 4 x 0 contra a Sampdoria com dois gols de Zé Maria e dois gols de Luiz Carlos. Com a primeira rodada do torneio realizada, a imprensa local já colocava o Bangu e a Estrela Vermelha como os favoritos. O time de Belgrado também havia ganho o primeiro jogo com uma goleada de 5 x 2 contra o Rapid Viena, campeão austríaco de 1959/60.
Na segunda partida do grupo B do International Soccer League, o Bangu enfrentou o Rapid Viena no dia 10/07/1960. O jogo foi marcado pelo nervosismo da jovem equipe alvirrubra, ao levar um gol no início da partida. Com os nervos em ordem, o time virou o jogo com gols de Zé Maria, Luiz Carlos e Hugo e a defesa se manteve firme para garantir a vitória por 3 x 2. Essas duas primeiras vitórias rompem com o pessimismo do noticiário esportivo fluminense e despertam elogios para a campanha alvirrubra. Boa parte dos elogios são direcionados para o meia Ademir da Guia, o artilheiro impetuoso Zé Maria e a defesa segura de Zózimo. Além de vitórias e gols, o Bangu atraia grandes públicos para as partidas. Nas duas primeiras quase 40 mil pessoas presenciaram os feitos do time.
O terceiro jogo foi contra o vice-campeão português Sporting Lisboa. Em jogo disputado no dia 16/07/1960, o Bangu meteu uma saraivada de 5 x 1, com gols de Zé Maria (2), Luiz Carlos (2) e Beto. O time comandado por Tim jogou partida espetacular e teve Zé Maria como grande nome. O público novaiorquino ficou fascinado com o virtuosismo, as infiltrações esfuziantes e os dribles que deixaram a defesa portuguesa bem confusa. De certa forma, a partida representou uma batalha vencida contra o football viril e ríspido dos portugueses naquele momento. No dia seguinte ao jogo, a edição 4.469 do Jornal dos Sports estampava na capa a grandiosa vitória. Em comparação às vitórias anteriores, era a primeira vez que o periódico dava um destaque digno a campanha do Bangu na terra do Tio Sam. Um dado curioso da partida contra o Sporting de Lisboa foi a manifestação violenta do jogador português Hilario da Conceição após o quarto gol alvirrubro. Para os portugueses, o gol foi ilegal, mas confirmado pelo juiz. Imediatamente, o jogador chutou fortemente a bola em direção aos espectadores da tribuna e torcedores lusos invadiram o campo para pegar o juiz Ray Kraft. Com a polícia em campo, a partida foi restabelecida após alguns minutos para o Bangu completar o placar elástico.
Ao longo das três partidas, Zé Maria e Luiz Carlos demonstravam grande poderio de ataque com gols em volúpia. O jovem Ademir da Guia orquestrava o time e deixava os adversários enlouquecidos com dribles e jogadas objetivas para o gol. Entretanto, é justo e verdadeiro colocar em evidência o comportamento da defesa composta por Joel, Darci Faria, Zózimo, Ananias e Nilton dos Santos. Em três jogos, três gols tomados. A imprensa do torneio destacava o lado sóbrio e a liderança de Zózimo no bloqueio das equipes adversárias. Se a defesa não segurava as investidas adversárias, o goleiro Ubirajara estava pronto para afastar o perigo e garantir o resultado da equipe alvirrubra.
Com três jogos disputados e três vitórias, o jovem esquadrão banguense era a verdadeira sensação do torneio em gols, em belas vitórias e por atrair grande público ao estádio Polo Grounds. O time iugoslavo do Estrela Vermelha acompanhava a campanha do clube proletário e era credenciado como o grande adversário do Bangu na competição. O confronto contra o Estrela Vermelha seria o último da primeira fase e era importante manter a pegada para enfrentá-los com moral. Mas, antes deles, o Bangu enfrentaria o grande campeão sueco IFK Norrköping. No dia 20/07/1960, no estádio Polo Grounds, o Bangu enfrentou a equipe sueca e teve o seu primeiro grande obstáculo no torneio. A partida terminou num 0 x 0, quebrou a série de grandes vitórias e levou a definição do finalista do grupo B para a última partida contra o Estrela Vermelha — grande esquadrão europeu e favorito nas apostas do torneio. No grupo A, já estava definido o finalista. O vice-campeão escocês Kilmarnock fez uma grande campanha e superou as dificuldades impostas pelos seus adversários — Burnley (campeão inglês), Nice (campeão francês), New York Americans (equipe anfitriã), Bayern de Munique (3º lugar no campeonato alemão) e Gievanon F.C. (Campeão Norte-Irlandês).
O jogo contra o campeão sueco foi marcado pela aplicação de um ferrolho viking, o que impediu o jogo mais alegre e técnico do Bangu. O grande destaque da partida foi o goleiro Ubirajara com uma série de defesas portentosas. O time sueco foi um grande adversário com uma defesa bem postada e com contra-ataques velozes. Para o Bangu, restou lamentar um pênalti mal cobrado por Décio Esteves, ratificando assim o empate.
Uma final antecipada
A expectativa era grande. Uma semana separavam o penúltimo jogo contra o IFK Norrköping e a última batalha da primeira fase contra os favoritos do torneio. Nesse intervalo, além do descanso, o Bangu aproveitou para ganhar uma grana e viajou para Montreal para enfrentar uma seleção local. 2 x 0 para encantar os canadenses. Enquanto isso, o Estrela Vermelha sapecava o time sueco com um 4 x 0 e chegava bastante confiante para a última rodada. Afinal, um simples empate garantia a sua vaga para a grande final. Eles tinham um saldo de gols acima do Bangu.
Chega o dia 30/07/1960. Dia do principal confronto do grupo B do International Soccer League. No entanto, chuvas torrenciais impedem a realização da partida, agora transferida para o dia seguinte — 31/07/1960. Em disputa, os dois grandes favoritos do torneio: Estrela Vermelha e Bangu, com campanhas impecáveis até o momento. Para a imprensa do torneio, o Bangu deveria temer o esquadrão iugoslavo. Afinal, eles foram campeões nacionais em seis oportunidades nos últimos 10 anos e tinham os melhores jogadores da seleção nacional.
Com 20.107 espectadores, o Bangu alcançou a vitória sobre os iugoslavos por 2 x 0 com gols de Décio Esteves e Zé Maria. O primeiro gol alvirrubro foi uma redenção para o jogador Décio após perder horrorosamente um pênalti no final do último jogo. A partida foi bastante disputada e aguerrida com momentos de conflitos entre jogadores de ambos os times. Para o clube proletário, um dos desafios foi jogar sem o seu principal jogador. O jovem Ademir da Guia não atuou na partida. Para a imprensa internacional, a vitória alvirrubra foi o grande acontecimento internacional do futebol naquele momento. Em crônica internacional publicada na edição 9.481 do Jornal dos Sports, em 02/08/1960, o jornalista Albert Laurence intitulou a sua notícia: Football brasileiro conquista mais um triunfo de relevo mundial com as proezas do Bangu no Torneio de Nova York. No mesmo dia e jornal, em coluna do jornalista Luiz Bayer, a campanha vitoriosa em Nova Iorque é valorizada, porém, é lembrada a polêmica do campeonato carioca disputada por uma equipe de aspirantes.
Extraído do Jornal dos Sports, edição 9.481, de 02/08/1960.
Enquanto o Bangu dava show em terras estrangeiras, a equipe de jogadores aspirantes disputavam o campeonato local com uma péssima campanha. O clube proletário suburbano era indiciado pela justiça desportiva e sofria pressões de outros clubes cariocas. Por exemplo, o Madureira pedia a punição do Bangu com a justificativa de abandono da competição e solicitava indenização pelo baixo público em jogo disputado semanas atrás. Já o Flamengo o apoiava e trabalhava nos bastidores para adiar a partida para uma data após o retorno da equipe banguense.
A Grande Final
De 4 a 31 de julho de 1960, o Bangu Atlético Clube disputou seis jogos com grandes potências futebolísticas do mundo, alcançando 5 vitórias e um empate. Com 14 gols pró e 3 contra. Uma campanha impecável com um ataque fulminante liderado por Zé Maria e Luiz Carlos; um meio de campo habilidoso com o jovem Ademir da Guia e experiente com Décio Esteves; e uma defesa segura liderada por Zózimo e sob a guarda do bom goleiro Ubirajara. O futebol do Bangu encantou os norte-americanos, levando milhares de pessoas ao estádio Polo Grounds. A equipe chegava a final como favorita contra o descansado Kilmarnock, vice-campeão escocês na temporada 1959/60. Sim, descansado. A equipe escocesa tinha disputado a sua primeira fase entre os meses de maio e junho de 1960 e só aguardava o seu adversário para a grande final.
A imprensa brasileira valorizou a campanha banguense e rumou para as terras da América do Norte para cobrir o acontecimento histórico. Mais do que a final de um torneio, a primeira edição do International Soccer League representava o sucesso popular do “soccer” numa grande nação que, até aquele momento, não tinha demonstrado interesse no esporte mais praticado no mundo. De certa forma, as equipes participantes foram os embaixadores do football nos Estados Unidos e arredores. A seguir, podemos assistir alguns lances da grande final.
No dia 06/08/1960, Bangu e Kilmarnock decidiram a final da primeira edição do International Soccer League. Nesse jogo, o Bangu sagrou-se campeão com uma vitória tranquila de 2 x 0. Os gols foram assinados pelo atacante Valter. Cerca de 25 mil pessoas presenciaram uma bela partida e se encantaram com o futebol alvirrubro. Na final, a equipe foi formada por Ubirajara, Joel, Zózimo, Darci Farias, Ananias, Nilton dos Santos, Correia, Zé Maria, Décio, Décio Esteves, Valter e Beto. Apesar da expectativa antes da final, os jogadores Ademir da Guia e Luiz Carlos não foram para o jogo por estarem machucados.
Segundo a cobertura esportiva da final, o Bangu iniciou o jogo atacando cerradamente com passes curtos e rápidos, colocando o adversário na roda. Logo, aos 3 minutos de jogo, o atacante Valter faz o primeiro gol após uma jogada espetacular de Décio Esteves. Nem o ferrolho suíço com passes longos do time escocês foi suficiente para brecar as investidas do Bangu. De alguma forma, o empate sem gols contra o IFK Norrköping foi um aprendizado para superar o futebol-força dos europeus. Apesar de ter sido a vedete do torneio, na final, a torcida apoiava o time escocês e se irritava com o amplo domínio brasileiro. Numa jogada isolada do Kilmarnock, o juiz James Mclean marca um pênalti contestável contra o Bangu. Porém, os escoceses foram parados pelas mãos de Ubirajara. O penalidade animou os escoceses e eles fizeram alguma pressão durante o segundo tempo do jogo. No entanto, o goleiro Ubirajara garantiu o resultado na defesa e o atacante Valter voltou a aprontar no final do jogo com um forte tiro no fundo das redes escocesas. Valter foi decisivo com seus gols, mas o craque da partida foi o meia Décio Esteves, capitão do time. No final do jogo, Bangu é campeão do mundo e o jogador Décio recebe a taça e comemora nos braços dos jogadores escoceses, que reconhecem a supremacia do clube proletário suburbano do Rio de Janeiro. O jogo final foi sensacional com as duas equipes jogando para vencer e levando a loucura os torcedores presentes. Infelizmente, um dos torcedores chamado Alfredo Suarez, de 46 anos, não suportou a emoção e veio a falecer após um ataque cardíaco.
Após seis batalhas contra grandes times europeus, a sua glória estampava as capas do New York Times e de outros jornais dos EUA. O radialista Orlando Batista viajou para Nova Iorque e transmitiu a partida pelas ondas do rádio para o território brasileiro através da Rádio Mauá. Na sua cobertura, Orlando Batista destacava o comportamento aguerrido e técnico do Bangu para alcançar a glória. Certamente, a impressão deixada pela equipe em terras do norte contribuiu para a ascensão do futebol por lá.
O Jovem Ademir
Eleito o craque da primeira edição do International Soccer League por um juri de jornalistas e dirigentes, o jovem Ademir reforçou a estrela da família Da Guia no clube proletário da Zona Oeste carioca. Sua permanência no Bangu foi curta, mas deixou um legado para os futuros torcedores do time. Do Bangu foi para o Palmeiras e se tornou um grande jogador da seleção brasileira. Em 2017, além da lembrança do título mundial, o jogador foi homenageado com o lançamento de uma camisa retrô do Bangu, uma edição comemorativa pelo título mundial de clubes alcançado em 1960. Uma ação importante para homenagear os guerreiros que lutaram pelo título e para manter a chama viva da memória banguense nos antigos e novos torcedores. Em 1960, na chegada dos campeões ao Rio de Janeiro, Ademir falava sobre a experiência: “Estou feliz, pois além de ter colaborado com meu clube, ganhei um prêmio que qualquer colega poderia ter ganho”, em entrevista para o Jornal dos Sports. Domingos da Guia, presente na recepção, não escondia tamanha admiração e entusiasmo com o filho — mais um Da Guia a fazer história no clube proletário.
A recepção dos heróis da Zona Oeste
Toda uma recepção foi preparada para receber a delegação do Bangu. A chegada em território brasileiro e carioca estava marcada para o dia 10/08/1960, quarta-feira, com desembarque no Galeão. No entanto, os primeiros a chegar no Rio de Janeiro foram o atacante Luiz Carlos e o radialista Orlando Batista. Segundo a imprensa carioca da época, os campeões do mundo receberam um bicho respeitável, cerca de 30 mil cruzeiros de prêmio pelo brilhante título.
Numa pegada ufanista, a imprensa carioca glorificou o resultado do Bangu como a primeira grande ação do futebol brasileiro no mundo após a campanha vitoriosa da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. Após a chegada no aeroporto do Galeão, os campeões do mundo foram recebidos pela torcida e saíram em cortejo até a estação de Guilherme da Silveira. Uma grande festa foi realizada na Fábrica Bangu. Na capa do Jornal dos Sports, de 11/08/1960, era estampada a alegria dos torcedores na chegada da equipe. A empolgação tomou conta dos corações alvirrubros. Era felicidade pura. Luiz Bayer, colunista do Jornal dos Sports, assim escreveu no dia seguinte: “A cidade recebeu com todo afeto e com grande entusiasmo os jogadores do Bangu campeões da primeira taça da América. Foi uma acolhida simpática, justa porque o Bangu honrou o football brasileiro mostrando aos norte-americanos um estilo bonito que foi suficiente para demonstrar grande superioridade sobre grandes equipes do football europeu”.
Como pode ser visto, a recepção e a comemoração foi quilométrica, passando por diferentes bairros e esquinas da nossa cidade. Os campeões do Bangu tiveram um reconhecimento digno da torcida, do Galeão até a estação Guilherme da Silveira. O capitão Décio Esteves era novamente carregado, agora, pelos torcedores do clube proletário que sentiam viva emoção. Cercado por amigos e familiares, o técnico Tim, visivelmente emocionado, bradava no cortejo: “o Bangu é uma coqueluche!”.
Tim e o troféu de campeão. Fonte: https://www.futbox.com/blog/clubes/bangu-1960.
Na Fábrica Bangu, os jogadores foram recebidos por dirigentes, torcedores, operários da fábrica e moradores das cercanias para comemorar o título com banda de música, bandeiras e flâmulas. O patrono do Bangu, Dr. Guilherme da Silveira, assim descreveu o sentimento naquele dia: “Estou feliz, feliz pelo brilho do meu Bangu. Honramos em todos os setores o nosso football. Pela técnica e pela disciplina voltamos de cabeça erguida. Honra aos atletas e ao próprio football da nossa terra”, em entrevista para o Jornal dos Sports.
Para entender o efeito do Bangu campeão mundial naquele momento, recomendamos ler atentamente as homenagens escritas elaboradas pelos jornalistas Nelson Rodrigues, Luiz Bayer e Vargas Neto no dia da chegada do Bangu ao Rio de Janeiro. Em nossa análise, uma equipe necessária para romper com o complexo de vira-latas que ainda era dominante no imaginário do futebol brasileiro naquele momento.
Por fim, o reconhecimento!
Reconhecer histórias é construir memórias que aproximam, emocionam e criam novos caminhos. Considerando a extraordinária história do Banguzão, é de extrema importância a luta do clube e dos seus torcedores pelo reconhecimento do campeonato mundial de 1960 junto a FIFA. Todo o movimento de criar camisas comemorativas, estampar seus muros é importante para manter a história viva. Brigar pelo reconhecimento nas instituições responsáveis pelo futebol no mundo significa criar novos canais para fortalecer o poder de memória da nação banguense.
Créditos
O texto é fruto da pesquisa de um curioso torcedor do futebol carioca apaixonado pelos clubes do subúrbio e sua relação com seus respectivos bairros. As torcidas do Bangu inspiraram a elaboração dele, especialmente a Banfiel e a Castores da Guilherme — fanáticas pelo clube proletário. Para a sua produção, alimentamo-nos de diferentes textos e vídeos disponíveis na internet e listados a seguir.
Página do Bangu Atlético Clube: https://www.bangu-ac.com.br/titulo-mundial-do-bangu-faz-58-anos/
Liga dos Palpites (Texto): https://medium.com/@ligadospalpites/o-bangu-foi-campe%C3%A3o-mundial-20479ad4f94a
Liga dos Palpites (vídeo): https://youtu.be/6YCx8-a4Z0A
Matéria do Sportv: https://youtu.be/7r7DNFJtbpI
Matéria do Lance: http://blogs.lance.com.br/gol-de-canela-fc/voce-sabia-que-o-bangu-ja-foi-campeao-mundial-entenda-historia/
Ludopédio: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/campeao-mundial-de-1960-bangu-bangu-bangu/
Última Divisão: https://www.ultimadivisao.com.br/os-mundiais-de-clubes-alternativos/
Página BANGU CAMPEÃO MUNDIAL: https://www.facebook.com/BanguCampeaoMundial/
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