:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::
Ainda nem me recuperei da partida do Pelé – se é que algum dia vou recuperar – e ontem recebi mais uma notícia que me deixou sem chão. Na verdade, tem sido tempos difíceis para os amantes do esporte, sobretudo pra mim.
Em meados de 2021, tive a perda repentina do meu irmão Fred Marinho. Quem o conheceu sabe a pessoa incrível que era e ainda sinto demais a sua partida. Penso nele todos os dias! Em novembro, a Isabel, lenda do vôlei, morreu de uma síndrome respiratória. No fim do ano, foi o nosso Rei e agora o Dinamite!
Assim como fazia com os marcadores nos gramados, o artilheiro lutou até o fim contra um tumor no intestino, um adversário implacável. Nossos ídolos, nossas referências, estão indo embora e sabe qual é o pior? Os clubes não estão extraindo a sabedoria, o conhecimento, a experiência desses que fizeram chover dentro de campo e colocaram seus nomes na história do futebol.
Respondam com sinceridade! Faz algum sentido os dirigentes optarem pelos professores de educação física ao invés de colocarem os craques do passado – aqueles que vivenciaram o futebol de verdade – comandando alguma categoria das divisões de base? A resposta é óbvia! Como vão ensinar pra garotada como se bate na bola se nunca chutarem uma? Como dizer o comportamento dentro de campo, se nunca assinaram uma súmula? Os clubes precisam mudar essa postura antes que seja tarde, e o tempo é curto!
Lembro direitinho quando Roberto Dinamite surgiu nos profissionais, em 1971, no Maracanã, e já carimbou o apelido que acompanhou durante toda a carreira. Aos 17 anos, o garoto marcou um gol contra o Internacional, no Maracanã, e no dia seguinte a capa do Jornal dos Sports estampava: “Garoto-dinamite explodiu”. É, e dificilmente será superado, o maior artilheiro da história do Vasco da Gama com 708 gols marcados e também o que mais balançou a rede na história do Campeonato Brasileiro, com 190 tentos. Precisa dizer algo mais?
Se já não fosse o bastante, era uma pessoa incrível fora de campo e quem conheceu sabe o privilégio que era estar com Bob. Brincalhão, humilde e sempre de bem com a vida, jamais se comportou como a estrela que era e fazia questão de atender todos os fãs, seja lá onde estivesse.
Em um dos últimos encontros que tivemos, num almoço na casa do Sergio Pugliese, para o Museu da Pelada, simulamos uma cobrança de falta com a barreira e o goleiro improvisados com copos e talheres, relembrando o estilo de bater na bola de cada um. Nos divertimos bastante! Eu fui um dos primeiros a bater falta no canto do goleiro, desde os tempos de futebol de praia, no Columbia. Enquanto Bob tinha aquela pancada, eu dava um toque sutil na bola. Mas a verdade é que o goleiro não pegava nenhuma das duas! Kkkk!
Antes de terminar a coluna, gostaria de lembrar de um chocolate que demos no River Plate, time base da seleção argentina que tinha conquistado a Copa de 78, quando atuávamos pelo Vasco da Gama no Troféu Joan Gamper! Lembro de ter feito dois gols no Fillol, que saiu com a cabeça quente! Kkkk! Descanse em paz, meu amigo! Você fará muita falta!
Pérolas da semana:
“Sempre brigando pela segunda bola, o time busca a saída pela beirada através do corredor lateral, que proporciona uma leitura de jogo com apetite reativo e filosófico para pular do trem em aceleração”.
“Para subir as linhas ou mantê-las baixa, o treinador liga a torneira geométrica que visa um amasso espinhoso associando o encaixe com assistência para o último homem do ataque chapar a bola com precisão”.
Curto o museu da pelada! Sou de Bangu e vivi o momento áureo do time na Vila Hípica! O Paulo Cesar Cuja, está uma fera em suas resenhas! Um forte abraço em todos
Eu admirava muito e gostava dele quando veio aqui em Manaus. Mas, Paulo César vc me lembrava muito o Edu do Santos e eu gostava e gosto de ambos, vc mais recente. Pelo Botafogo, aqueles cortes e dribles aprendi muito e usei muito. Igual a puchada do Roberto Rivelino, quebrei muitos zagueiros. Vc pra mim também é inesquecível. Abraços mesmo sem conhecê-lo.
Esse jogou e entende o que escreve , e há muito faz alerta mas os negociadores só querem se empanturrar de dinheiro para si e os seus
Esse é o nosso sentimento PC.
Estamos ficando desorientados buscando em vcs um pouco da essência do futebol brasileiro. PC, acabou o drible! Só se dribla nas laterais e pouco. Ninguém mais dribla no meio-campo, ninguém!!!
Abração, PC ! Concordo com sua análise. Nós, que gostamos de Futebol, assim, escrito com letras maiúsculas por questão de respeito, estamos ficando órfãos. Órfãos de craques, de dirigentes bem intencionados, de técnicos corajosos…..e de estádios que possam cumprir a sua função social, que é abrigar uma.torcida que não tem R$80,00 para pagar um ingresso. Menos elite, mais povo na arquibancada e na geral…..menos estrelas e mais dribles e trivelas nos gramados.
Hj é futebol robô…
Não sabem bater na bola, não sabem a gíria do boleiro.
Dar passe de 50 metros como Gerson e Geovane vc não vê hj. E os pontas liso ligeiro que iam no fundo e cruzavam… A base é o início de tudo. Temos que ter os ex jogadores a frente da base..
Que falta faz urigueller, Zé Sérgio mauricinho…
Esse futebol hj é pobre fraco..
Antigamente eram 3 ou 4 por posição agora tá difícil achar um….
PC CAJU! Monstro como jogador! Agora também excelente e preciso na escrita. Textos verdadeiros e sempre mexenendo na ferida da vaidade desses “gestores” do nosso medíocre futebol. Abraços!!
Não se pode negar que o futebol evoluiu muito e não é mais como era. Não quero aqui desvalorizar ou menosprezar a experiência de campo dos ex-atletas profissionais, que somada aos conhecimentos produzidos pela academia constroem um profissional da bola mais redondo. Entendo que a vivência futebolística, seja no amador ou profissional, é um diferencial importante, mas não determinante. Não se aprende só no campo de jogo, mas também fora dele, nos bancos das escolas, em cursos de graduação de qualidade, em pós-graduação em futebol e nos cursos ministrados pela CBF. Não cabe mais no futebol de hoje, um ex-jogador que apenas reproduz o que aprendeu na sua vida de atleta, considerando o estágio que o futebol alcançou nos tempos atuais. É preciso aliar a vivência, a experiência de campo aos conhecimentos teóricos, que não são poucos! Portanto, o ex-atleta precisa sentar nos bancos da escola, deixando esse ar de superioridade para trás e admitir que sem se adequar a nova linguagem do futebol, será preterido pelos profissionais da Educação Física com ou sem a vivência no campo de jogo. Aliás, hoje o trabalho é realizado em equipe multiprofissional e o coordenador da base precisa entender não só de bola, mas de avaliação, de fisiologia, de técnica, tática, treinamento físico, etc. O futebol moderno exige um treinamento voltado para o entendimento do jogo, onde não se deve dissociar os aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos nas sessões de treinamento. Nessa exigência moderna aplica-se o conceito do treinamento sistêmico que preconiza uma abordagem onde deve ser dada ênfase desde cedo ao entendimento do jogo e a eficiência tática, uma maior importância aos aspectos estratégicos e táticos da prática, a utilização de situações-problema e ao ensino da técnica a partir da tática. Para isso é preciso muitos anos nos bancos escolares!