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BOTÃO DIDA

20 / dezembro / 2017

por Edmar Facó


Desde pequeno, Dida é meu ídolo. Na final do Carioca de 1955, ele fez quatro gols e o Flamengo venceu por 4×1 o América, no Maracanã, conquistando o segundo tricampeonato carioca.

Desde pequeno, gosto de brincar de botão sozinho ou com amigos. Gostava de reinventar jogos de futebol com os times cariocas do Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, São Cristóvão, Madureira, Olaria, Portuguesa, Bonsucesso e Canto do Rio. Nos campeonatos que eu organizava, entravam todos os times e ídolos.

Em junho de 58, do alto dos meus nove anos e meio, contratei o personagem da final do segundo tri para reforçar o time de botão e disputar a Copa do Mundo na vila onde morava. Minha seleção de botão foi a da Áustria. Não venci a Copa do Meiér na Vila, mas a seleção brasileira foi campeã da Copa do Mundo na Suécia.

A cada dia que eu brincava de jogar botão, tipo sete dias por semana, ficava mais cobra. Eu e meus botões. Com eles reinventava os passes e gols do Flamengo, em especial do Dida nos gramados. Com eles, era o técnico, jogador e narrador de partida. Estava em campo e no rádio. Eu e meus botões.


Joguei muito, até uns 17 anos, quando aposentei o Dida e todos meus botões numa caixa de tênis Kichute, no fundo de uma gaveta.

Mais tarde voltei a jogar para ensinar ao meu irmão-temporão-quase filho e meus dois filhos ,e o Dida voltou a brilhar nas mesas de botão. Os meninos dividindo seu tempo com os jogos de Atari. No Maraca, brilhava o Zico, ídolo dos filhos. Até que em um treino, com o filho que gostava de jogar botão, na hora de um chute ao gol… Creeeck… Dida se contundiu seriamente e quebrou as duas pernas em 3 pedaços. Foi operado de emergência com super-bond, com direito a transplante: encavalei os pedaços em cima de outro botão e refiz as superfícies e a bainha. Ele continuou jogando.

Depois de aposentado, joguei por uns tempos na Praça dos Cavalinhos na Av. Maracanã, nas manhãs de domingo, com um grupo em torno das mesas que um amigo botonista armava por lá. Um dia parou e não voltou. 

O mais legal na brincadeira de jogar botão é encontrar os amigos para um papo furado e discutir numa boa as regras, que estão sempre sendo mexidas desde sua criação, e comentar os jogos e notícias de futebol.


O jogo de botão foi criado pelo carioca Geraldo Cardoso em 1930. Antes de mim, do Dida e do Maracanã. E ele nem sabe, mas sinto saudade das partidas de botão nas mesas ou chãos contra os amigos da vila e ruas vizinhas, dos jogos no estádio de futebol torcendo na arquibancada pelo Dida e o Flamengo, ao lado do pai, amigos e a Charanga do Jaime, assim como dos deslocamentos de casa para o Maraca e da volta para casa de trem ou bonde.

Saudade dos golaços do Dida, dos amigos e do pai.

Até hoje, esporadicamente, ainda brinco de jogar botão, sozinho ou com novos amigos botonistas. A coluna grita e ri.

Em 2018, o meu botão Dida vai fazer 60 anos em junho; e seu técnico, 70 anos em dezembro.

Notas:

Botão = Jogador em forma de disco de várias alturas, diâmetros e inclinações das bainhas. Feitos de plástico, galalite, acrílico, osso, coco etc. Inicialmente eram botões usados em casacos, capas e batinas.

Dida, o botão = Amarelo opaco de galalite; altura 2,5mm, diâmetro da base 42,5mm e bainha 55º. Após a contusão e transplante em 95, encavalei sobre um botão transparente de janela de lotação; altura nova 5,25mm, novo diâmetro da base 45,5mm e bainha 55º. Medidas tiradas com régua escolar, pois não tenho paquímetro. O melhor e maior artilheiro do mundo dos campos de mesa e chão.

Paleta = ficha antiga de lotação ou de cassino ou disco similar de galalite.

Bolinha = de miolo de pão ou papel prata de bombom ou feltro ou dadinho ou disquinho ou botão de camisa ou etc.

Goleiro = caixa de fósforos com peso dentro ou de madeira ou de galalite.

Técnico = usa a paleta para movimentar os botões e é o narrador dos jogos. E as vezes apitava o jogo junto com juiz.

Dida, o jogador = Edvaldo Alves Santa Rosa. É o segundo maior artilheiro do Flamengo; o primeiro é o Zico que sempre diz que Dida foi seu grande ídolo. Zico, todo final de ano, organiza uma pelada com ídolos veteranos na Arena. Dida continuam brilhando com os ídolos eternos no Maraca céu.


Áustria = Na Copa do Méier entrou em campo com; Pompéia, Tomires, Pavão, Jadir, Dequinha, Jordan, Garrincha, Didi, Henrique, Dida e Babá. Na Copa da Suécia, Brasil 3×0 Áustria no 1°jogo, com Dida em campo. Ele se contundiu e foi substituído pelo jovem Pelé que com Garrincha e mais noves foram campeões invictos.

Maracanã = Estádio de Futebol construído para Copa de 1950 e foi considerado o maior templo do futebol mundial. Praticamente demolido em 2012 (mas isso é outro conto) e no seu lugar, construído uma Arena Multiuso para a Copa de 2014.

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1 Comentário

  1. Lilian Costa

    Excelente conto! Amei ainda mais porque é baseado no meu time do coração!!! Parabéns Edmar!!!

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