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Bolívar

14 / novembro / 2016

XERIFE DO BOM JESUS

texto: Augusto Dalpiaz | fotos: Paulo Oliveira | edição de vídeo: Daniel Planel 

 

O lateral esquerdo Bolívar desenvolveu, ao longo de sua carreira, estratégias para intimidar os adversários, antes mesmo do jogo começar. Seu mentor foi o zagueiro Jorge Ortunho, ex-Vasco, ex-Grêmio e com rápida passagem pela Seleção Brasileira, em 1956. De tanto ouvir que era preciso se impor em campo logo na primeira jogada e que tinha de mostrar que não estava ali para brincar, Bolívar usava seis travas de cerca de 18 mm, as maiores possíveis, na sola de suas chuteiras de alumínio, que brilhavam à distância. Ele chega a comparar o solado à “boca de um crocodilo”. 

Não era o bastante. Ao sair do vestiário, começava a “riscar” (esfregar o pé no chão), tirando faíscas no atrito com o concreto, avisando aos oponentes o que lhes esperava. Depois, batia as travas na “goleira”.

– Fazia um barulhão e os adversários pensavam: “lá vem o homem” – relembra o jogador, que atuou no Avenida (Santa Cruz do Sul – RS), Grêmio, Portuguesa (SP), Inter de Limeira, Bragantino, Bandeirante (Birigui – SP), Aimoré (RS) e Guarani (Venâncio Aires – RS).


Bolívar com as camisas da Portuguesa, Grêmio e Inter de Limeira, na varanda de sua casa, no bairro Bom Jesus.

O comportamento e jogadas que deixaram marcas no corpo dos adversários, a ponto de acabar com a carreira de um deles, fez Bolívar ser chamado de “assassino” por 15 anos. Mas isso nunca abateu o atleta que foi bicampeão do Torneio de Cannes com a seleção brasileira juvenil (1972-1973) e campeão paulista pela Inter de Limeira (1986).

PULANDO MUROS

Bolívar Modualdo Guedes nasceu em 21 de dezembro de 1954, no bairro Bom Jesus, também conhecido por Camboim, em Santa Cruz do Sul, a cerca de 150 km de Porto Alegre. Desde os anos 1950, a região era a “vergonha da cidade”, que foi colonizada por alemães e se desenvolveu com a indústria fumageira. Lá, se fixaram os afrodescendentes que migraram em busca de emprego, mas só encontraram o preconceito e a segregação, de acordo com o historiador Eduardo Paim, em seu trabalho “História, identidade e racismo na formação da sociedade santa-cruzense”.  Os jornais locais reforçavam o estereótipo que, no bairro, a miséria e a fome andavam parelhas com a marginalidade e a desesperança. Sem se importar com o que diziam, Bolívar, torcedor do Avenida Esporte Clube, costumava pular os muros do Estádio dos Eucaliptos para ver os jogos do alviverde, sem saber que o Periquito marcaria a sua carreira.

Aos 13 anos, Bolívar conciliava o curso de mecânico ajustador no Senai com o estágio na fábrica de cigarros Souza Cruz. Porém, com menos de um semestre para a conclusão do ensino profissionalizante, decidiu largar tudo e seguir o caminho do futebol. Um dia, em um rompante, saltou o muro do Senai e foi para casa. Ao chegar, foi interrogado pelo pai por que estava em casa tão cedo. A resposta veio de bate-pronto: “não vou mais à escola, vou jogar bola”.  O menino que tinha sido descoberto pelo técnico Gaúcho em um jogo de futebol de salão nas quadras da associação de funcionários da Souza Cruz chamava atenção por sua magreza:

– Eu ia treinar no Avenida e os caras me davam leite com mel e uma vitamina. Lembro do copão de mel, aquele leite gelado e sustagem (suplemento para combater carências nutricionais). Eu bebia aquilo antes ou quando terminava o treinamento. O massagista vinha com um copão. Às vezes, colocava chocolate e me dava vitamina B12. Eu vinha para casa feliz da vida, assoviando. Chegava de barriga cheia. O pai falava: “Vai comer? “. E eu dizia que tinha comido no clube! – recorda.

Não era a primeira vez que jogava por causa do lanche. Antes de ir para o Avenida, jogou no Verinha, time amador do então distrito (hoje cidade) de Vera Cruz. Lá, na posição de centroavante, foi bicampeão infanto-juvenil e artilheiro em uma das temporadas (24 gols) em troca apenas de cachorro-quente, refrigerante e uns pedaços de carne do churrasco feito após os jogos.

– Era uma festa! – define.

No Avenida só fez treinamentos e chegou a atuar 10 minutos em três amistosos contra times profissionais. Ele só lembra de dois adversários: o Veteranos, de Carazinho, e o Riograndense, de Santa Maria. No ano seguinte (1969), se transferiu para a equipe infanto-juvenil do Grêmio. Foi promovido para o juvenil e convocado para a seleção brasileira da categoria que conquistou o bicampeonato (1972-1973) do torneio de Cannes, uma espécie de mundial juvenil à época.

OLIMPÍADA E ATENTADO

A convocação seguinte, para disputar as Olimpíadas de 1972, em Munique, foi marcada por um péssimo resultado e uma tragédia. Em campo, a seleção fez a pior campanha de sua história nos Jogos Olímpicos. A equipe que contava com Dirceuzinho, Nielsen, Rubens Galaxe, Falcão, Zé Carlos (Santa Cruz) e outros craques decepcionou. Eliminada na primeira fase,  ficou em último lugar de seu grupo. Bolívar jogou dois dos três jogos: o empate (2 a 2) contra a Hungria, melhor resultado dos brasileiros, e a derrota contra o Irã (0 a 1). A seleção perdeu ainda para a Dinamarca por 3 a 2.

Além disso, os Jogos Olímpicos ficaram marcados pelo atentado do grupo terrorista palestino Setembro Negro que matou dois e sequestrou nove atletas de Israel. A ação da polícia alemã para libertar os reféns acumulou erros e resultou na morte de todos israelenses, cinco terroristas palestinos e um policial. Bolívar conta que ouviu tiros na madrugada do dia do sequestro, mas voltou a dormir. Acordou com barulho de helicópteros, pessoas falando alto, cães latindo e com a movimentação de policiais. Ele acrescenta que os dirigentes da CBD tiraram os jogadores rapidamente da Vila Olímpica, embarcando-os para Portugal e, em seguida, para o Brasil.

– Havia o boato de que os sul-americanos também seriam sequestrados! – conta.

VOLTA PARA O GRÊMIO

Ao regressar para o Grêmio, em 1972, ainda adolescente, se profissionalizou. Com os primeiros salários comprou um terreno no Camboim:


Cadeira com as cores do Grêmio na varanda da casa de Bolívar, único torcedor tricolor em uma família de 13 pessoas – os outros são Inter.

– Vílson Cavalo, Iúra, Ivanir e Euclides, todos meus amigos, compraram um carro. Na época, o pessoal gostava de Fuscão. Eles diziam para eu fazer o mesmo, mas eu respondia que não queria, não gostava desse troço. Até hoje não dirijo. Preferi adquirir um terreno, que depois vendi para um parente, aqui no bairro – conta o ex-lateral.

Bolívar diz ainda que o filho Fabian, ex-jogador do Internacional, tentou lhe dar um carro várias vezes, mas que prefere ficar a pé. “

– Gosto de tomar uma cerveja para caralho. Deixa assim! – acrescenta.

Durante o período que passou no Grêmio (1972-76), o ex-ponta esquerda que virou lateral para atender o técnico Antoninho, da seleção de base do Brasil, não ganhou nenhum título gaúcho. Esta fase engloba o octacampeonato do Internacional (1969-1976). Bolívar considera o Gre-Nal o clássico mundial de maior rivalidade, superando até Boca Juniors versus River Plate, na Argentina. Neste tempo, os jogadores dos dois times não podiam se falar. Dirigentes, desde a base, diziam para os jogadores tricolores: “Guri, o inimigo é o vermelho (cor do Inter) “. A pressão era tanta que Bolívar e Falcão, parceiros desde Cannes, dificilmente se encontravam para não haver comentários sobre a influência da amizade no resultado dos jogos. Os atletas dos dois times mal se cumprimentavam. Mas isso não tirava o sono do lateral na véspera dos jogos.


Pôster do Grêmio. Bolívar é o último, em pé, à direita

Os confrontos que Bolívar teve com Valdomiro, um de seus maiores rivais, também foram marcantes. Segundo suas palavras, o ponta-direita o “infernizou”:

– Ele não era muito driblador como o Zequinha, mas quando dava um tapa e corria para o fundo, eu pensava que com pouco espaço não faria nada, mas ele chegava e “tum”: a bola estava lá dentro. Valdomiro era um cara rápido e tinha muita força. Para tentar pará-lo, precisava grudar nele e, de vez em quando, dar uma pancada, não tinha outro jeito – admite.

Por conta desses embates, os dois jogadores vivenciaram uma situação curiosa durante a entrega do troféu “Everaldo Marques da Silva”, no programa do jornalista João Bosco Vaz. Bolívar, ao ser chamado ao palco para receber o troféu em honra a sua carreira, não imaginava quem lhe entregaria o prêmio. Não deu outra: Valdomiro. Ao se olharem, os ex-jogadores se estranharam. O ponteiro colorado não se conteve:

– Puta sacanagem os caras fizeram, com o tanto que tu me bateste, ainda vou ter que dar o troféu na tua mão! – depois, os dois começaram a rir.

Ao fazer um balanço de todos os jogadores que marcou, o santa-cruzense com nome de general libertador de países sul-americanos, apontou Serginho Chulapa como o mais difícil por sua força e Careca, pela habilidade. Outros citados foram o centroavante do Palmeiras, Toninho, “baixinho e com muita velocidade”, e Beijoca, do Bahia, “que também batia muito”. Bolívar, porém, tem uma teoria para explicar porque nunca se desentendeu com jogadores como Chulapa, que brigava com todo mundo:

– Lobo não come lobo! – diz.

O MAIS VIOLENTO

Se antes do Gre-Nal, Bolívar dormia tranquilo, na hora da peleja, se transformava. Esquentava a cabeça durante o jogo, dividindo todas as jogadas com rispidez. Conta que devido a esta forma de atuar chegou a ser tachado de jogador mais violento do Rio Grande do Sul. Segundo ele, ao lado de Figueroa, do Inter.


– Eu chegava firme. Cada vez que ia na bola era um prato de comida que eu via. E eu sempre fui um cara de 1,87m. Quando saía para uma dividida, saía forte. Um cara pesadão assim… Mas eu não era desleal! – defende-se, para no segundo seguinte admitir que machucou alguns adversários.

Em uma partida do Campeonato Gaúcho de 1976, em Caxias do Sul, contra o time da cidade, o ponta-direita grená Maurinho acertou o lateral gremista duas vezes, atirando-o para a pista de atletismo. As jogadas duras de Maurinho eram incentivadas pelo treinador Marco Eugênio, que não parava de gritar:  

– Não deixa o Bolívar passar. Se deixar, vou te tirar de campo!

Após o segundo lance, Bolívar falou:

– Pô, Maurinho, tu estás de sacanagem, não vai na conversa do homem, deixa assim!

As entradas duras continuaram. Na dividida seguinte, o lateral decidiu que era hora de reagir. Resultado: 15 pontos na perna de Maurinho, vitória do Grêmio por 1 a 0 e muita dificuldade para o tricolor deixar o estádio, devido à fúria da torcida do Caxias contra o lateral rival. Apesar de tudo, Bolívar faz questão de dizer que era amigo de Maurinho e Marco Eugênio, já falecido. 

TRANSFERÊNCIA

Entre 1977 e 1980, Bolívar atuou na Portuguesa, onde acredita ter tido a sua melhor fase técnica, interrompida por uma lesão do tornozelo esquerdo. Num jogo em Limeira, ele enfiou o pé em um buraco e ficou seis meses sem jogar. Segundo o ex-lateral, antes da contusão, estava cotado para disputar a Copa de 1978, na Argentina. Talvez tenha sido um castigo por suas jogadas ríspidas, mas o certo é que Bolívar não foi convocado e isto o incomoda até hoje.


Bolívar acredita que contusão no tornozelo esquerdo impediu que ele fosse convocado para a seleção brasileira e da Copa de 78.

Mesmo jogando “muito bem nesta época”, foi na Portuguesa que ocorreu o lance que o fez ser chamado de “assassino” durante 15 anos pelas torcidas dos times que enfrentava. Numa partida contra a Ponte Preta, de Dicá, Vanderlei, Odirlei, Polozzi e Oscar, em Campinas, Bolívar discutiu com o arisco ponteiro Lúcio. A Ponte ganhou o jogo e veio o returno. Os ânimos ainda estavam exaltados. 

Neste dia, Lúcio foi substituído por “um menino” chamado Wilsinho.  A Ponte fez 1 a 0, no Pacaembu – a partida terminaria empatada. Em outra jogada, tocaram a bola para o ponteiro. Bolívar conta que em vez dele entregar a bola para o Dicá, que estava bem posicionado, resolveu dar uma “pedalada”. O lateral deu um carrinho acreditando que iria pegar a bola, mas não foi isso que aconteceu: 

– Peguei a perna do moleque e quebrou tudo. Quebrou tíbia, quebrou perônio, atingiu os ligamentos. Ele nunca mais jogou- rememora o defensor da Lusa. 

Os gritos de “assassino” que passou a ouvir dali por diante não o incomodariam.

– Entrava por um lado, saía pelo outro! – diz. Bolívar nunca entrou em contato com Wilsinho para se desculpar. Alega que não teve oportunidade.

Em contrapartida, narra um lance que quase provocou sua morte, em 1982, em Ribeirão Preto. Na disputa entre Inter de Limeira e Comercial, o técnico Jair Picerne mandou Bolívar marcar o Edval, ex-zagueiro do Fluminense. “Negão, alto e forte”, na definição de lateral, que disse estar ganhando todas as bolas alçadas na área naquele jogo. De repente, um cruzamento. Os dois saltaram, mas Edval, perdeu o tempo da bola e deu uma cabeçada na nuca do gaúcho.


Bolívar relembra episódios de sua carreira

– Caí com a cabeça no chão. Só lembro de ver o refletor rodando. Não vi mais nada. A ambulância entrou no campo. Saí como morto. Só fui acordar uma hora depois no hospital. A gente usava camisa, calção e meia branca. Quando despertei, me perguntei o que estava fazendo com aquele uniforme vermelho. O médico disse que era sangue e que tive sorte. Falou que se não rachasse a cabeça  teria dado um coágulo e eu não ia suportar mais meia hora. No final, levei 10 pontos! – relata.

Durante um mês, Bolívar passou a se encolher toda vez que a bola chegava pelo alto. Só depois de passar por uma série de exames e ser avaliado por um neurologista é que perdeu o medo.

CHUTEIRAS PINTADAS

A fama de “violento” preocupava os árbitros. José Assis Aragão foi um dos primeiros a tomar providências. Toda vez que apitava um jogo de Bolívar, proibia o uso das chuteiras de alumínio, mesmo em dias de chuva quando elas eram indicadas para evitar escorregões. Aragão mandava um representante da federação fiscalizar os calçados. Para tentar ludibriar os juízes, Bolívar pediu ao massagista da Inter de Limeira para pintar as travas da chuteira de preto porque, em suas palavras, sem isso “seus alumínios (travas) brilhavam de longe”. 

Na partida contra o Santos, na Vila Belmiro, após 10 minutos de jogo, a tinta desbotou por causa da areia que havia em campo. A chuteira voltou a brilhar. O juiz, cujo nome Bolívar não lembra, o abordou e falou “não te avisei que era para tirar essa merda? ” E o obrigou a trocar a chuteira. Em sua defesa, o ex-jogador alega que a chuteira com travas altas faziam ele “se sentir seguro” em dias chuvosos.

– Eu gostava de jogar na chuva, no barro. Deixava o campo como um leitão, como um porco, todo sujo, mas ficava satisfeito! – fala e solta uma risada.


Da Lusa para a Internacional de Limeira, onde ganhou o apelido de “Xerife”. Foram três passagens, a primeira de 1980 a junho de 1984; a segunda, de 1985 a 1987; a terceira, em 1989. A interrupção inicial ocorreu porque a mãe do jogador ficou doente e ele pediu para voltar a Santa Cruz do Sul para ficar mais perto dela. No Sul, jogou alguns meses no Aimoré, de São Leopoldo. 

No regresso a Limeira, viveu o momento mais especial de sua carreira, o título paulista de 1986, conquistado diante do Palmeiras. Era a primeira vez que uma equipe interiorana, fora do eixo São Paulo-Santos, ganhava um campeonato estadual. Bolívar define a Inter daquele ano como “um time de casca grossa (jogadores experientes), com dois meninos – Lê e Tato”.

Depois de derrotar o Santos por 2 a 0, na casa do adversário, e voltar a vencer por 2 a 1, em Limeira, a Inter, treinada por José Macia, o Pepe, se classificou para disputar o título do Paulistão contra o Palmeiras. Metódico, Pepe ensinou a Bolívar que futebol tem que ser jogado como feijão com arroz. 

– Se colocar maionese, estraga – dizia o Canhão da Vila Belmiro.

DECISÃO HISTÓRICA

 No primeiro jogo da final, 104 mil torcedores viram o empate de 0 a 0, no Morumbi. As manchetes dizendo que faltavam 90 minutos para o Verdão, que estava na “fila” há dez anos, ganhar o título, mexeram com o brio dos alvinegros. Na segunda partida, a Inter venceu por 2 a 1, também no Morumbi, com gols de Kita e Tato. Amarildo descontou. 

Quando Dulcídio Wanderley Boschillia encerrou o jogo, Bolívar abraçou o Alemão, como o juiz era conhecido entre os boleiros, e foi para o vestiário. Enquanto a comemoração acontecia em campo, o gaúcho acendeu o cigarro que o roupeiro lhe trouxe e pegou o isopor com cervejas que tinha preparado. Entrou na banheira e comemorou sozinho, fumando e bebendo, o título que almejava desde os tempos que jogou no Grêmio.


Bolívar sentado na sala de casa, debaixo da foto com os filhos ainda crianças. Um deles, Fabian, foi campeão 12 vezes pelo Inter, sendo duas da Libertadores. O outro se chama Marcel

A festa não parou ali. A equipe chegou em Limeira às 5 horas da manhã do dia seguinte, e desfilou em carro de bombeiros. Por esse feito, por sua forma de jogar e por ter disputado 297 jogos com a camisa da Internacional, Bolívar até hoje é lembrado como o “Xerife de Limeira”.

Na terceira passagem pelo clube, em 1989, treinou a equipe principal por seis jogos, quando Pepe foi trabalhar na seleção peruana. Diante das poucas vitórias, o presidente do clube decidiu mudar. Enquanto Bolívar comandava o time na partida contra Botafogo de Ribeirão Preto, o dirigente jantava com Geninho e acertava a ida dele para Limeira. O gaúcho passou a cuidar da base. Geninho durou pouco. Levir Culpi, chegou e pôs o gaúcho no cargo de auxiliar técnico. No final do ano, o “xerife” decidiu voltar a correr atrás da bola.

FIM DE CARREIRA

Após ser campeão da segunda divisão do Campeonato Paulista, defendendo o Bragantino, em 1988, e da meteórica passagem como técnico, Bolívar retornou ao Rio Grande do Sul, defendendo o Guarani, de Venâncio Aires, cidade a 21 km de sua terra natal. No rubro-negro, conquistou o vice-campeonato de 1990 e subiu para a primeira divisão.

No ano seguinte, aos 37 anos, aceitou jogar por um baixo salário no Avenida. Objetivo era encerrar a carreira onde começou. Bolívar foi procurado por um dirigente alviverde que pediu ajuda para tentar fazer com que o Periquito voltasse à primeira divisão, o que não ocorreu. Segundo o livro “Histórico do Esporte Clube Avenida”, o então lateral jogou quatro jogos, sendo o último na derrota de 7 a 0 para o Internacional de Santa Maria.

Atualmente, Bolívar mora numa casa de dois andares, no bairro Bom Jesus. O confortável imóvel, que pertenceu a seu sogro é cercado por casas de seus familiares. Com quatro filhos (Tatiana, 43, Marcel, 39, Fabian “Bolívar”, 35, e Monise, 28) e seis netos (Tales, 16, Kevin, 13, Nicholas, 12, Vitória, 8, Valentina, 2, e Noah, 1 ano e 9 meses), espera que surja um jogador em sua terceira geração. A família toda torce para o Internacional. Só ele é gremista. 

Quando jogava futebol na Portuguesa, o ex-lateral virou figurinha, distribuída no chiclete Ping-Pong. Nela, revelava seu gosto musical por Roberto Carlos e Beth Carvalho. A novidade é que nos anos que passou em Limeira virou fã incondicional das duplas sertanejas Milionário e José Rico e Chitãozinho e Xororó. A ponto de tentar imitar José Rico, vestindo sobretudo e usando óculos escuros. Certa vez gravou uma música e enviou para o compadre Eudes, que também jogou na Lusa, Em resposta, ouviu a seguinte crítica:

– Fostes melhor jogador do que és cantor.

Outra preferência, revelada na figurinha, era a atriz Sônia Braga, que ele define como “uma máquina” nos tempos da novela Gabriela.

Bolívar ressalta que em sua época de jogador não ganhava muito dinheiro, mas tem orgulho de sua carreira. Seu maior reconhecimento vem de seus netos. O “xerife” conta que quando completou 30 anos do título da Internacional de Limeira, Kevin mandou uma mensagem, dizendo que tinha orgulho do avô. 


A única coisa que faz o santa-cruzense ir para ofensiva são críticas ao seu filho Fabian Guedes, que também adotou o nome de Bolívar e jogou no Internacional, Botafogo, Mônaco (França), dentre outras equipes. Em 2013, o então atleta foi apontado em pesquisa feita com 343 atletas como o mais violento do Brasil. Mesmo com a carreira encerrada e vivendo como empresário de jogadores e da renda de cinco postos de gasolina, o pai não deixa a história de lado e dispara:

– Perto de mim ele é um anjo, uma mãe. O perigo sou eu.

 

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