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BEM-VINDO, CENTROAVANTE

5 / janeiro / 2023

por Claudio Lovato

Em 1972, no comecinho do ano, eu e minha família chegávamos a Porto Alegre, vindos de Santa Maria, minha cidade natal, situada no exato centro geográfico do Rio Grande do Sul. Eu tinha 6 anos. Eu não me lembro de quantos dias se passaram até que eu e meu velho entrássemos num táxi e nos colocássemos no rumo do Olímpico – só sei que foram poucos. Afinal, se o nosso primeiro endereço, o residencial, era na Rua João Manoel, no centro da cidade, o outro endereço, o do coração azul, preto e branco, ficava no Bairro Azenha, e era preciso tomar posse deste também, o quanto antes. E, claro, foi maravilhoso.

Nosso time tinha, entre outros heróis da gloriosa história tricolor, Espinosa, lateral-direito que se tornaria o técnico do nosso campeonato mundial conquistado em Tóquio 11 anos depois; tinha Everaldo, Flecha, Oberti, Loivo… E na zaga central, lá estava ele: Atílio Genaro Ancheta Weiguel, eleito o melhor em sua posição na Copa do Mundo de 70, no México. Uruguaio nascido em Florida. Ancheta foi e continua sendo um dos meus grandes ídolos no futebol. Aos 9 anos, ganhei uma camiseta do Grêmio com o número 2 às costas, o número do Ancheta. O Museu da Pelada publicou um conto meu chamado “O número 2 do Ancheta, costurado torto”, do qual muito orgulho e que segue me emocionando a cada releitura.

Nesta quarta-feira, dia 4 de janeiro de 2023, Ancheta estava lá, agora na Arena, entregando a camisa número 9 a seu compatriota Luisito Suárez, o artilheiro nascido em Salto, sob os aplausos de mais de 40 mil torcedores, que fizeram da recepção ao Pistolero um maravilhoso e inesquecível espetáculo.

Ancheta jogou no Grêmio entre 1971 e 1980. Ele foi um dos craques que mais contribuíram para que o menino de Santa Maria que o assistia da arquibancada tivesse a certeza de que se tornaria jogador de futebol. Isso não aconteceu, mas foi lindo acreditar que assim seria. Ainda é, até hoje, quando o guri da arquibancada se aproxima das seis décadas de vida.

Quase seis décadas de vida e os olhos molhados vendo as imagens da apresentação de Luis Suárez na nossa casa, hoje não mais situada na Azenha, mas no Humaitá. Mais de 40 mil pessoas cantando e aplaudindo o novo herói que chega. Muitas crianças, muitos adolescentes, mas também muitos representantes da velha-guarda, alguns dos quais presenciaram in loco a cena do zagueiro uruguaio, então com 29 anos, ao lado de Tarciso, André, Éder, Oberdan, Tadeu Ricci, Iúra e outras feras, levantando a taça do histórico campeonato gaúcho de 1977.

A chegada de Luisito Suárez é um presente que enche de alegria e orgulho o coração de todos os gremistas. Muitos de nós – e eu sou um destes casos – somos fãs de carteirinha do centroavante desde que ele surgiu para o mundo do futebol, no Nacional de Montevidéu, mesmo clube que formou Ancheta e outro de nossos grandes ídolos, Hugo De León, uruguaio de Rivera, o grande capitão da nossa primeira Libertadores e do nosso Mundial.

O abraço de Ancheta e Suárez no centro do gramado da Arena simbolizou a força e a constância de um sentimento que une uma torcida e seu clube através de gerações. Isso começou em 1903 e – os deuses do futebol já asseguraram – jamais terá fim.

Bem-vindo, Luisito. Estamos juntos, centroavante. Te queríamos muito entre nós e agora já és parte da nossa História.

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