por Elso Venâncio
A Umbanda e o Candomblé, religiões africanas, têm muitos adeptos no país do futebol. Dirigentes, técnicos, jogadores, massagistas e torcedores respeitam, reverenciam e buscam ajuda com rezas, crenças, simpatias e oferendas. Dizem até que há santos e orixás que favorecem clubes.
O grande João Saldanha repetia:
“Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”.
Lourinho, figura popular e folclórica, era chefe da torcida do Bahia. Ia aos jogos todo vestido de branco, com direito a turbante, e por lá fazia os seus ‘trabalhos’.
“Pai Mineiro”, massagista do Flamengo, garante ter amarrado Bebeto, quando o maior jogador do Brasil na época trocou o Flamengo pelo Vasco, após a Copa América de 1989. Naquele ano, a Seleção Brasileira chegou ao título, após jejum de 40 anos, e com sete gols Bebeto foi o artilheiro e principal nome da competição.
Na estreia contra seu ex-clube, Bebeto estava nervoso. Deu um pontapé no amigo e compadre Zé Carlos, goleiro rubro-negro, sendo imediatamente expulso. Na semana desse jogo, que consagrou Bujica, autor dos gols da vitória do Flamengo por 2 a 0, “Pai Mineiro” estava numa agência bancária, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, quando Bebeto adentrou o recinto com a esposa Denise. Vendo o ‘mandingueiro’, o casal recuou, saiu de fininho.
Como esquecer “Pai Santana”, do Vasco?
Vanderlei Luxemburgo pediu ao meio campo Gilmar Fubá para ir ao seu quarto, na concentração, à meia noite.
“Pois não, professor” – sorriu o alegre Gilmar.
“Fubá, entre nessa banheira de gelo, que você vai marcar o Müller”.
“Mas tá frio… O que tem nessa banheira?” – retrucou o jogador, obrigado a contragosto a fazer tal imersão. Müller, em grande fase no São Paulo, aplicou dois dribles em Gilmar e fez seu gol. Depois, marcou o segundo. Fosse pouco, deu passe para o terceiro. Gilmar acabou sendo substituído e, claro, vaiado pelos corinthianos.
“Não deu, né? Os santos falharam”.
“Que falharam, o quê? Você é que não joga porra nenhuma!” – resmungou, irritadíssimo, o treinador.
Roberto Barros, o “Pai Guaratã”, lançou um livro em que revela detalhes do ‘culto espiritual’ que promoveu numa suíte do Hotel Nacional, em São Conrado, com direito à presença do presidente corintiano Vicente Mateus, do técnico Davi Ferreira, o Duque, e dos titulares escaldados para o jogo com o Fluminense válido pelas semifinais do Brasileiro de 1976.
Quando o pai de santo incorporou, avisou que o Corinthians venceria a ‘Máquina Tricolor’ nos pênaltis, o que se confirmou. Anos depois, encontrei Duque e perguntei a ele se a história era mesmo verdadeira.
“Sim, Elso. Eu organizei tudo! E, quer saber, o Oswaldo Brandão também faz esse ritual”.
Márcio Braga apoiava as torcidas organizadas. Nisso, deu à Atorfla, a Associação das Torcidas Organizadas do Flamengo, uma sala na Gávea. Nilton Francisco, o saudoso Niltinho, da Flatuante e depois da Jovem, passou a assessorar George Helal, o vice de futebol rubro-negro. Niltinho levou um pai de santo, o “Seu 7” para falar com Helal.
“O número 7 faz gol aos 7 minutos” – afirmou o místico.
Contratado junto ao Atlético Mineiro, o ponta-direita Sérgio Araújo, que jogava com a camisa 7, estrearia num domingo, contra o Santos. “Seu 7” entrou no gramado do Maracanã, deu sete passos e sete baforadas num charuto. Empate sem gols no primeiro tempo e Sérgio Araújo, a grande atração da partida, mal pegou na bola. Aos 6 minutos da etapa final, Sérgio Araújo abriu o placar. Na ótica de “Seu 7”, esse tento aconteceu aos sete minutos. O Flamengo venceu por 1 a 0.
O pai de santo acabou sendo contratado por Helal. Mas foi dispensado três meses depois, diante da má fase do próprio Sérgio Araújo e, por conseguinte, do Flamengo.
Para alívio de Telê Santana, que ficava de cara amarrada quando alguém perguntava sobre o “Seu 7” ou quando, ocasionalmente, o mesmo passava por ele na Gávea.
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