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BARBOSA E GARRINCHA

21 / abril / 2021

por Leymir Moraes


Os clichês podem apontar Barbosa e Garrincha como personagens antagônicos, um exemplifica o êxtase e a expressão máxima do fundamento mais divertido do jogo, o drible. Garrincha é o maior encantador da história do futebol, sem nunca ter sido um atleta na concepção do termo.

O outro é o atleta dedicado, o multicampeão obscurecido pela nefasta e determinante tarde de 16 de julho de 1950. Sua carreira enfrentou a maior injustiça do futebol mundial, um surto coletivo de frustrações nacionais direcionados a si de forma impiedosa.

Os mais inocentes vivem inúmeros carnavais sem nunca perceber seu quinhão de tristeza, o carnaval como o futebol tem um pé na ilusão e na magia, e outro no drama e na aspereza. Barbosa e Garrincha são personagens emblemáticos que compõem esse ciclo.

Garrincha é um Rei Momo esbelto que posterga a devolução das chaves por 10 anos, de 53 a 63 ele mistura os limites entre fantasia e jogo. Garrincha é um bailarino, Garrincha é um jogador, Garrincha é um redentor? Garrincha é tudo isso, e ninguém poderia com justiça maior ser reconhecido como Alegria do Povo.

Mané é o Rei despojado, alma de criança, sorriso de moleque, é o Rei por direito divino e acaso. O soberano perfeito que nunca percebeu seu reinado.

Barbosa é um rei diferente, majestoso em cada detalhe, das muitas personagens do futebol ninguém teve sua elegância e fidalguia. Barbosa é ao mesmo tempo a lei áurea, a abolição e a justiça racial no gol da seleção brasileira. 

O Homem de Borracha, o antigo ponta esquerda do Comercial de SP, o maior goleiro entre todos do seu amado Vasco da Gama, e um dos maiores da seleção em seus gigantescos 1,70 m de altura, sofre em(por?) sua pele um rosário de pesadas injustiças.

Se Garrincha reina despercebido, Barbosa carregou durante a vida o peso de sua coroa de espinhos. Barbosa é o Rei necessário, o que ensina com seus feitos e suas injustas chagas.

Barbosa teve paz, alegria e suporte fora de campo, aquele que uma nação tentou em vão destruir teve em sua querida Clotilde uma intransponível muralha. SClotilde a companheira de toda uma vida, Tereza Borba a quem amou como filha e foi amado como pai, junto a torcida Vascaína, foram seus apoios para que vivesse bem e partisse sereno. O majestoso Barbosa teve o maior prêmio que um homem pode ter, foi amado de perto até seu último minuto nesse mundo.

Garrincha que ao lado de Pelé é o maior de todos que já chutaram uma bola, teve um percurso diferente de Barbosa. Do mundo do futebol ele teve tudo e mesmo com suas pernas arqueadas sustentou “sozinho” o peso de uma Copa do Mundo, ninguém em mundial algum jogou como Garrincha em 62.

Mané, o resumo perfeito da alegria no campo de jogo, teve um final conturbado frente ao único adversário capaz de pará-lo, as perplexidades da vida e seu fardo.

Não lhe faltou o amor da família, não lhe faltou o reconhecimento do povo e nunca faltou a devoção da torcida do Botafogo, ainda assim Garrincha, a alegria do povo, parte cedo e amargurado aos 49 anos de idade.

Um carregou o rosário de expiações dentro de campo e outro fora dele. Parece completamente inverossímil, mas mesmo os melhores jogadores de futebol são compostos de carne, osso e alma, e nesse particular igual a todos nós meros mortais. É injusto, pode ser? Mas é como é a vida.

Garrincha nunca foi só alegria, como Barbosa não foi só tristeza, o carnaval e o futebol são assim um pé na ilusão e na magia, e outro no drama e na aspereza.

Dois homens eternos, dois dos arquitetos do amor do povo brasileiro pelo esporte que explica e expõe no seu melhor e no seu pior, parte da identidade nacional.

Os queridos e eternos Barbosa e Garrincha são o ciclo perfeito de dor e alegria que representa o palco iluminado e o bastidor solitário do futebol. 

Dois gigantes que descansam sob seus imensos legados, Manoel Francisco dos Santos e Moacir Barbosa Nascimento, a quem sou profundamente grato de nascer após a eles e ser sabedor de suas fantásticas histórias! 

Títulos Barbosa:

Vasco da Gama

Campeonato Sul-Americano de Campeões: 1948

Campeonato Carioca: 1945, 1947, 1949, 1950, 1952 e 1958

Torneio Início do Campeonato Carioca: 1948

Torneio Rio-São Paulo: 1958

Torneio Municipal de Futebol do Rio de Janeiro: 1947, 1948

Torneio Quadrangular do Rio: 1953

Torneio de Santiago do Chile: 1953

Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer: 1953

Santa Cruz

Torneio Início de Pernambuco: 1956

Seleção Brasileira

Copa Roca: 1945

Copa Rio Branco: 1947, 1950

Copa América: 1949

Individual

Terceiro Melhor Goleiro Brasileiro do Século XX

 

Títulos Garrincha:

Torneio Quadrangular Interestadual: 1954

Taça Brasil-Colômbia: 1954

Torneio Internacional da Costa Rica: 1961

Torneio Pentagonal do México: 1962

Copa Ibero-Americana: 1964

Torneio Rio-São Paulo: 1962, 1964

Taça dos Campeões Estaduais Rio-São Paulo: 1961

Campeonato Carioca: 1957, 1961, 1962

Torneio Início: 1961, 1962, 1963

Corinthians

Torneio Rio-São Paulo: 1966

Copa Cidade de Turim: 1966

Seleção Brasileira

Copa do Mundo FIFA: 1958, 1962

Taça Bernardo O’Higgins: 1955, 1959 e 1961

Taça Oswaldo Cruz: 1958, 1961 e 1962

Superclássico das Américas: 1960

Prêmios individuais

Melhor jogador da decisão da Copa Interstadual de Clubes: 1962

Melhor jogador do Campeonato Carioca: 1957, 1961 e 1962

Bola de Ouro da Copa do Mundo da FIFA: 1962

Equipa das estrelas da Copa do Mundo da FIFA: 1958, 1962

Segundo Maior jogador Brasileiro do Século XX IFFHS (1999)

Quarto Maior jogador Sul-americano do Século XX IFFHS (1999)

Oitavo Maior jogador do Mundo do Século XX IFFHS 1999

Décimo Terceiro Maior jogador do século XX pela revista – France football: 1999

Vigésimo Maior jogador do século XX pela revista Inglesa World Soccer: 2000

Sétimo Maior Jogador do Século XX pelo Grande Júri FIFA (2000)

Seleção de Futebol do Século XX

Bola de Ouro Dream Team: Melhor Ponta Direito da História – segundo esquadrão

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