por André Luiz Pereira Nunes
Ocorreram, de fato, três cisões no futebol carioca. A primeira, em 1911, a segunda, em 1924, e a terceira, em 1933. Em 1911, Botafogo e America protagonizaram um rompimento por conta da discordância de um penal aplicado contra os alvinegros. A tensão foi tanta que Abelardo Delamare, do Botafogo, e Gabriel de Carvalho, do America, chegaram às vias de fato. O Clube da Estrela Solitária resolveu, assim, desligar-se da Liga Metropolitana de Esportes Atléticos. Naquele tempo, evidentemente, ainda não existiam as Confederações e, tampouco, o Conselho Nacional de Desportos, este extinto somente em 1993.
Na cisão de 1911/1912, o Botafogo resolveu se aliar a clubes de menor expressão e andou por aí aos trancos e barrancos. Na liga oficial se sagrou campeão, em 1911, o Fluminense e, no ano seguinte, o extinto Paissandu.
Já em 1924, a cisão teria se dado por motivo de racismo, de acordo com a versão oficial. Na minha opinião, essa questão mereceria ser melhor aprofundada. Botafogo, Flamengo, America e Fluminense não tinham em suas fileiras jogadores negros. O Vasco da Gama, então campeão da cidade, e os demais contendores teriam sido intimados pelos chamados grandes clubes a afastar de suas equipes os chamados “homens de cor”. O Vasco ficou relegado juntamente com os times pequenos e os chamados clubes de seleção formaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), levando consigo o Bangu, então um time proletário, além do EC Brasil e o Helênico.
Curiosamente, o Bangu também se encontrava na lista dos chamados clubes de seleção, ainda que contasse com negros em seu plantel, o que considero, no mínimo, estranho. Um discurso de Barbosa Júnior, representante do SC Mackenzie, atrapalhou de tal modo Mário Pólo, que este, para impressionar a assistência e provar que os clubes aristocráticos não tinham prevenção contra negros, foi buscar o então jovem Ari Franco, representante do Bangu, e apresentando-o ao plenário, disse:
– Tanto não temos prevenções racistas, que o Bangu está conosco.
Em 1926, o Vasco retornou para junto dos clubes de elite sem qualquer tipo de restrição a seus jogadores.
Em 1933, quando se implantou a profissionalização, o Botafogo novamente se afastou do campeonato por não desejar instituir o futebol remunerado. Nessa luta, que perdurou quase 4 anos, Luiz Aranha, amicíssimo particular do presidente Getúlio Vargas, elaborou um projeto de lei visando a criação de um órgão nacional que pudesse controlar os esportes e capaz de evitar essas costumeiras e incômodas cisões periódicas. Feita a pacificação, o decreto foi assinado, e consequentemente, foi criado o Conselho Nacional de Desportos (CND).
Atualmente, as possibilidade de cisão se resumem apenas ao campo retórico e por motivos totalmente solucionáveis. Hoje as federações estaduais, a Confederação Brasileira de Futebol e a FIFA se interligam de tal modo que qualquer remota chance de rompimento por parte de um clube é respondida energicamente com ameaças de seríssimas sanções. Provavelmente é bem menos difícil derrubar um presidente de federação do que criar uma nova liga ou associação. O futebol brasileiro vivencia momentos bastante desfavoráveis, mas em termos de organização, a situação já foi muito pior, como podemos perceber.
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