Por Zé Roberto
Esta manhã eu devo ao futebol. Derrotado no Fla x Flu que se tornou a batalha do Golpe x Impeachment, pelo placar que não sei quanto foi, pois quando deu no telão 100 x 26 retirei minha torcida de campo (o torcedor cobra criada já sabe o “time” de quando a vaca foi para o brejo) e deveria ficar escondido em casa, pelo menos durante 24 horas, evitando as provocações. Ainda mais que meu Fluminense também perdeu a Taça Guanabara e com um peteleco daquele do Riascos. Mas estou competindo desde os dezesseis anos.
Perdendo, empatando ou ganhando, dia seguinte tinha que descer do apartamento, ir ao jornaleiro e enfrentar nas bancas as críticas. E eram sempre os mesmos comentários: vencendo, um jogador moderno, polivalente, presente em todos os lados do campo. Perdendo, um peladeiro, perdido em todos os lados do campo. O caixa do banco com quem pagava segunda-feira as contas em Campos, quando defendia o Americano, me recebia com a cara do resultado. Não sabia o valor da conta da luz, mas dos seus comentários sabia de cor. “Tá feia a coisa, hein! Tem que tirar o treinador!”. Ou: “Maravilha, se continuar assim seremos campeões cariocas!” Menos. Mas era assim. Irrefletido, efêmero, pueril. Como o futebol. Como a política.
Aprendi com o futebol, não com minhas segundas-feiras tristes como esta, mas com o passar dos anos, que evoluímos muito mais nas derrotas do que nas vitórias. Quando ganhamos, a euforia momentânea nos eleva a patamares não alcançados e imerecidos. Com o vestiário cheio, dezenas de entrevistas aos repórteres, tapinhas nas costas de dirigentes de todos os lados, ficamos sabendo que a reapresentação não seria mais na segunda. Fora remarcada para terça à tarde, onde muitos se apresentariam de chinelinhos. Não havia crise, o clima era bom, o treinador fora mantido e com o bicho pela vitória levaríamos a patroa a jantar fora. A missão estava cumprida.
Mas nas derrotas, ficávamos sabendo que dia seguinte teríamos que nos apresentar para uma longa preleção. Nela, nossas falhas seriam analisadas, posicionamentos corrigidos, uma cobrança maior de envolvimento, treinamento, alimentação. Depois, o preparador físico nos levava para a pista para aprimorar a forma física, caprichar nos passes, bater melhor um escanteio. Depois de 17 anos de bola, você aprende: as derrotas nos ensinam e nos preparam muito mais ao longo da nossa carreira. Se vivêssemos ganhando, desfilaríamos hoje pelas nuvens, não pelas ruas. Nos acharíamos “os caras” na totalidade do ser, não viveríamos a aperfeiçoar nossas caras, almas, posturas e coração a tentar ser um cidadão, um político, um jogador, melhor.
Então, levantei a cabeça cheia, saí hoje cedo pelas ruas e me apresentei ao trabalho às 8h desta manhã. Vou ouvir do treinador sobre os passos que erramos para alcançar a governabilidade. Para obter a maioria no parlamento e aprovar o Bolsa Família, nos aliamos a quem praticava um futebol diferente do nosso. Vencemos uns dias, mas corremos o risco de sofrer as falhas de uma frágil zaga formada por Cunha e Temer. E, de goleada, nos levar a uma derrota que talvez nos tire de vez do campeonato Brasil Rico é País sem Pobreza.
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