por Paulo Escobar
Há uma inquisição por trás do futebol, que age nas entidades oficiais, nas mídias tradicionais e nas cabeças conservadoras daqueles que assistem e pregam essa crença moral e perfeita.
Através do futebol tentam moralizar a sociedade, através dele tentam nos dizer o que é certo e errado. Desde como jogar, como se comportar, até como agir dentro e fora de campo.
Para estes o futebol deve seguir conceitos morais de pureza, deve ser sacro, limpo de maus pensamentos. Para estes temos que ser Freis ou Santos para jogar ou torcer.
As Copas do Mundo são as verdadeiras reuniões de como há de ser bom e moral para estar nela ou estar presente em suas igrejas (digo arenas), ali somos ensinados em como agir e sermos Fair Plays. A mídia nos transmite os bons modos a nível mundial neste evento, todos os ensinamentos e doutrinas são transmitidas durante os jogos e comentários.
Ali não há lugar para aqueles que usam drogas, ou pelo menos se caçam os que são detectados e às vezes depende do país que se nasce ou o que o drogado pensa, nada de entorpecentes mesmo que toda essa pressão e em nome do espetáculo sejam necessárias as substancias para poder aguentar essa loucura toda. Afinal as crianças estão assistindo e há que deixar o bom exemplo, mesmo que essas crianças no futuro venham sofrer a mesma pressão e serão talvez aqueles que venham a usar as mesmas drogas também.
Maradona teve o erro de falar demais, de bater de frente com entidade moral que guia o futebol, a partir dali seus “erros” morais foram colocados a luz. Uma verdadeira cruzada para mostrar ao mundo que este ser profano era um verdadeiro “demônio” a ser combatido. A cada investida que Diego sofria, mais os imperfeitos gostávamos dele. Mesmo frequentando as Copas, era caçado e passou a ser o rei dos antidopings.
Alex, um gênio com uma qualidade incrível, da sua geração aqui no Brasil poucos fizeram o que ele fez, não ficou devendo a ninguém e inclusive até hoje poderia ser convocado. Mas Alex cometeu o crime de pensar diferente e isso não é bem visto no futebol.
Cantona teve a “maldita” ideia de chutar um fascista, de dar um golpe naquele que destilava seu veneno contra um estrangeiro, ou contra negros e gays, o futebol lhe cobra autocontrole e ser pacifico mesmo quando tocado no mais profundo e da forma mais desumana. A voadora foi à gota para os moralistas do futebol, pois não era só por aquele momento que Eric era um incomodo.
Djalminha maldito gênio da cabeça quente, não era o bom moço que poderia ser um exemplo a ser seguido pelas crianças. Como levar alguém sem etiqueta para estar na cita máxima da moral futebolística?
O que dizer do Chile, no qual toda uma geração foi punida pelo gesto do Rojas, que talvez cometeu o crime que mais se comete nos bastidores do futebol, ganhar a qualquer custo. Mesmo com todo o peso de um país que acabava de sair de uma ditadura militar e colocava sua esperança naquele time.
E quando alguns destes profanos e hereges do futebol conseguem entrar nestes encontros da moral futebolística, são observados o tempo todo nas suas ações e gestos, a mídia faz verdadeiras analises mais centralizadas nas vidas que levam. O futebol passa a ser um detalhe, o que importa é mostrar as vidas devassas e o que as crianças não devem fazer.
As Copas do Mundo não foram feitas para os maus rapazes, não foram pensadas para os contraditórios ou que pensem a sociedade de outra forma e nem para ex-pobres com manias de pobres. Assim como a igrejas não são para os demônios o futebol não é para os imperfeitos, as Copas são para os santos e deuses, pois eles possuem a perfeição, essa perfeição chata e impossível.
Eu prefiro os demônios do futebol, pois:
“A perfeição é o chato privilegio dos deuses” – Eduardo Galeano
Paulo Escobar
Maloqueiro, Varzeano, corre com o povo de rua e Sociólogo.
0 comentários