por Marcos Vinicius Cabral
Este texto foi planejado para celebrar 71 anos de Arthur Antunes Coimbra. O craque atravessa mais uma primavera no próximo 3 de março. Zico, gênio dos gramados, maior jogador do Flamengo, um dos grandes camisas 10 do futebol mundial de todos os tempos, figura doce e, além de tudo, indivíduo com uma humildade impressionante.
Caso encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse esfregá-la para pedir algo, este algo seria: “Aladdin, em nome do futebol, traga Zico de volta aos gramados para que as gerações que não viram o Galinho de Quintino, do Rio de Janeiro, do Brasil, do Japão, e do mundo em ação, tivesse a oportunidade”.
O motivo da petição? Por que sei que Zico faria tudo de novo, quando alegrou 334 vezes a Nação Rubro-Negra com gols nas tardes e noites inesquecíveis no Maracanã. Nas conquistas de títulos a base de suor, de treinos, e de dedicação que foram aliados ao dom de jogar bola que Deus o deu.
Sei que Zico se tornaria tão idolatrado como é até hoje. Imagem que ele não se importa em manter, pois Zico é natural com tudo que faz na vida e, de forma sutil, é a essência viva em carne e osso dos bons atributos que qualquer ser humano tem. Ídolo? Super craque? Extrassérie? Referência? Tudo é bobagem quando associado tais substantivos e adjetivos para definir Arthur Antunes Coimbra, que herdou a generosidade da mãe Matilde e a disciplina do pai José, o velho Antunes.
O que Zico quer, na verdade, é continuar sendo ele mesmo, ou seja, um cidadão assumidamente rubro-negro. Um cara amado pelos torcedores rivais e acima de todas as coisas uma criatura comum na medida de uma colher de simplicidade. A humildade é um título que poucos jogadores ou ex-jogadores tem no currículo. Zico é um deles!
Mas como torcedor e apaixonado por futebol, queria ter trocado três choros por três sorrisos que tive na vida por causa de Zico: na Copa de 1982, diante da Itália, na Espanha; no pênalti perdido na de 1986, frente à França de Michel Platini, no México; e a despedida que ele fez naquele 6 de fevereiro de 1990, no Maracanã, palco predileto dele.
Como torcedor, sabe, acho que foi preciso a gente passar por esses reveses. Por meio de cada um, valorizamos e entendemos que não foi Zico que perdeu as Copas do Mundo que disputou. Foi o futebol. Passados tantos anos, a taça deve se perguntar até hoje: “Por que um jogador como Zico não me conquistou? Não me deu um beijo e nem correu a tradicional volta olímpica comigo nas mãos à beira das quatro linhas?”. Pois é! O futebol, às vezes, é louco, insano, sem lógica e não há explicação por mais que se busque assim como um ponta-de-lança sedento por gols. A verdade é que isto não se pode explicar aos normais!
Já a despedida de Zico dos gramados, há 34 anos, fica a sensação de que este adeus foi apenas um aceno de um “até logo”. Zico continua na nossa vida, nas nossas memórias afetivas, e para alguns sortudos que têm a oportunidade de estar com ele, é uma Mega-sena que o destino premia. Zico muda a atmosfera de qualquer ambiente.
Zico foi um gigante no esporte mais popular do planeta. Planeta este que conquistou com a turma de 81, lá no Estádio Nacional, em Tóquio, no Japão, nos 3 a 0 diante do Liverpool (ING). Gigante Zico também foi ao superar dores, encarar traumas e tratá-las. O joelho esquerdo sofreu mais do que cachorro sem dono. Poucas não foram as vezes que o camisa 10 do Flamengo serviu de caça para caçadores. Mas Zico, ou melhor, o profissionalismo de Zico sobreviveu.
De mãos dadas com a disciplina, comprometimento e aprimoramento, Zico renasceu para o futebol. Deixou de ser arco e flecha como antes nas jogadas que resultavam em gols. Passou a ensinar como fazê-los. Um professor para muitos craques como Bebeto, Zinho e outras pérolas lançadas pelo Flamengo que culturalmente mostrava que a célebre frase: “craque, o clube fazia em casa”, faz sentido. Zico fez por onde merecer ser reconhecido como uma das 50 personalidades mais conhecidas da Humanidade.
Anos depois, deu aulas no continente asiático e ensinou o Japão a jogar futebol, país este em que é chamado carinhosamente de “Jico” pelas pessoas. O Kashima Antlers o respeita, os torcedores o amam. Há gerações que não tiveram o privilégio de ver Zico em campo. No máximo, são vídeos no YouTube, histórias contadas pelos pais e tios.
Mas esse abismo acabou sendo encurtado com a criação do Centro de Futebol Zico, o tradicional CFZ, em 1995. O espaço que fica no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, abriga um pedacinho da história gigantesca de Zico.
São gerações e gerações que costumam dar uma passada lá para tirar fotos, pedir autógrafo e, lógico, desfrutar de minutinhos que parecem eternidade para quem não viu Zico jogar, mas não cansa de ouvir histórias do maior jogador da história do Flamengo. Uma destas foi Gabrielle Silva Cabral, minha filha de 17 anos. Surpresa, me contou: “Pai, Zico nem parece Zico!”, comentou ao chegar em casa vindo do CFZ naquela noite de uma quarta-feira de janeiro inesquecível para ela. Além da minha filha que esperou ansiosa para conhecer o senhor Arthur Antunes Coimbra, eu e mais cinco pessoas da Assembleia de Deus Betel, de São Gonçalo, estivemos presentes na ocasião, levando uma camisa para o imortal camisa 10 do Flamengo autografar em uma campanha que ele, o próprio Zico, abençoou. Do contrário, a realização do Retiro dos Jovens, no começo de fevereiro seria difícil. O embarque dos jovens será na sexta-feira (9), às 18h.
Gabi tem razão. Zico, na verdade, nem parece ser o Zico. Zico é único. Inigualável. Ímpar. Só, somente só. Por isto, não restam-me dúvidas de que não foi nós que escolhemos Zico. Foi Zico quem nos escolheu. Uma vez Zico, sempre Zico. Parabéns, muitos anos de vida.
Que o senhor Arthur Antunes Coimbra continue a cantar de galo sem jamais perder a ternura que o faz e o consagra como ídolo. A construção de um exemplo a ser seguido vai além dos feitos nos campos de futebol. Os demais fora deles também ajudam a compor a real, intacta e verdadeira imagem de um modelo a ser admirado como é Zico.
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