por Elso Venâncio
Antes de seguir para a Udinese, em 1983, Zico teve uma despedida do Flamengo apoteótica.
Ninguém imaginava que, ao entrar em campo na decisão do Campeonato Brasileiro, contra o
Santos, o ídolo já estava negociado. Os italianos pagaram um valor surreal para a época: 4
milhões de dólares.
Zico foi dúvida durante a semana, devido a um foco dentário só descoberto na véspera da
decisão, lhe causando dores musculares. Mas o camisa 10 não só jogou, como fez um dos gols
na vitória por 3 a 0. Leandro e Adílio também marcaram pelo esquadrão rubro-negro, num dia
em que o Maracanã recebeu o maior público da história do Brasileiro: 155.255 pagantes.
Dois anos depois de ir para a Udinese, decepcionado, Zico pediu para sair. Afinal, a diretoria
prometera investir, mas só Edinho tinha sido contratado. Mesmo tendo jovens ao seu lado e
defendendo um clube modesto, Zico fez 30 gols em 54 partidas. Foi George Helal, então
presidente do Flamengo, o responsável por repatriar o craque.
De volta em 1985, Zico passou a ser a grande esperança da Seleção Brasileira para a Copa do
Mundo do ano seguinte, no México. Acontece que, num Flamengo x Bangu, o lateral Márcio
Nunes deu uma voadora criminosa no camisa 10 rubro-negro, que torceu joelhos e tornozelos.
O técnico Moisés “Xerife” foi acusado por Zico de ser o mandante da agressão. O ídolo operou
o joelho direito e, meses depois, o esquerdo.
Dali em diante, o Brasil acompanhou o drama de Zico para jogar o Mundial. Convocado por
Telê Santana, o craque trabalhava forte na sala de musculação da Toca da Raposa, em Belo
Horizonte. Esgotado, desabafou: “Não tenho condição!”. Irritado, Telê reagiu no dia seguinte:
“Levo Zico, mesmo só com um joelho”.
Foi uma preparação polêmica aquela para a Copa de 86. Por Renato Gaúcho e Leandro terem
chegado à concentração após o horário combinado, Renato acabou cortado. E Leandro, se
sentindo culpado pelo desligamento do amigo, decidiu não viajar.
No Mundial, o Brasil avançou até as quartas de final, quando enfrentou a França, campeã
europeia, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Com 1 a 1 no placar, gols de Careca e Platini, Zico
entrou no lugar de Muller aos 29 minutos do segundo tempo. Foi num lançamento dele que
Branco sofreu pênalti do Joel Bats. Até hoje, Zico é criticado por bater e perder o pênalti, já
que ainda estava “frio” no jogo. Mas, quem ousaria apanhar a bola com Zico em campo?
Persistido o empate, a vaga na semifinal foi decidida nos pênaltis, com vitória da França por 4 a 3. Platini desperdiçou a sua cobrança. Zico bateu e, dessa vez, converteu. Mas de nada adiantou, pois Sócrates e o zagueiro Júlio César perderam. Ali escapava a última chance para a geração de Zico, Júnior, Falcão e Sócrates conquistar um Mundial.
Questionado, o próprio Zico já declarou que foi um erro ir ao México. Sobre o fato de não ter
conquistado uma Copa do Mundo, quem melhor definiu foi o mestre Fernando Calazans: “Pior
para a Copa”.
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